Observar que pouca gente se inquieta com a aprovação do mórbido orçamento de estado proposto para 2013 pelo governo preocupa-me, pois vejo que estão a ser organizadas nas redes sociais, como o Facebook, várias manifestações de protesto político, mas todas marcadas para datas posteriores à da aprovação parlamentar do orçamento - que será no próximo dia 31 (ainda há uma manifestação agendada para esse dia, em frente à assembleia) -, significando que será tarde para alterar seja o que for, posto que corre-se o risco desse mefítico nó de forca nos ser posto, irrevogalmente, ao pescoço e obrigar-nos a reestruturar as nossas vidas para serem vividas com apenas 30% dos nossos vencimentos: ou seja, vamos todos ter de pagar prestação ou aluguer de habitação, luz, água, gás, comida e transportes com 30% dos nossos salários, pois é uma redução dessa ordem que está consagrada no orçamento de estado para 2013. Será que ainda ninguém compreendeu esta situação? Será que ainda ninguém compreendeu o que ela significará?
Este é o momento para protestar.
Este é o momento decisivo para mudar a trajectória desta arma que nos foi apontada e que está prestes a ser disparada.
É preciso compreender que o cenário político contemporâneo transformou-se e que a serôdia crítica popular - revisteira, cartoonesca - também tem de transformar-se e ganhar seriedade, pois assiste-se a uma nova forma de fazer política operada por uma nova geração de actores políticos, guiada por ideologias perversas que precisam, da nossa parte, de uma resposta crítica mais inteligente, mais estratégica e, sobretudo, mais urgente. É preciso compreender qual é a ideologia classista, quasi-eugénica, de reestruturação social que se esconde atrás das silhuetas financeiras. É preciso compreender que o estado das coisas nunca, mas nunca mais voltará a ser igual e que a democracia será, em definitivo, esquecida.
O discurso de que este orçamento é a única solução possível consiste no desespero de quem, à beira de escorregar do assento do poder, quer agarrar-se despudoradamente a ele, independentemente da sua própria reputação ou dos efeitos que a perpetuação desse poder terá sobre o país e sobre nós.
São períodos como este que demonstram as verdadeiras faces dos indivíduos e neste momento, em particular, só existem duas classes de pessoas: aquela que por cupidez ou cegueira ideológica está disposta a curvar a espinha e estender a mão na esperança félica de apanhar as migalhas que cairão das mesas dos seus amos; e aquela que tem como objectivo lutar, por si mesma e pela outra, para impedir o triunfo da pobreza, a instauração dos salários de sobrevivência, do êxodo das mentes mais qualificadas e da transformação do país num subúrbio meridional da Europa em que a mão-de-obra barata servirá os propósitos salvíficos de um mercado global sufocado em busca de oxigénio.
Está nas mãos de cada um escolher que tipo de homem e que tipo de mulher deseja ser: se quer rastejar ou andar de costas direitas.
Aqueles que escolherem a segunda opção têm de protestar, da forma que lhes for possível e estiver ao seu alcance, contra a aprovação do orçamento de estado - antes, repito, antes do dia agendado para a sua aprovação.
Nada foi tão urgente.
Nada foi tão, mas tão necessário.
Uma adenda: consultem nesta tabela qual será o vosso novo escalão de IRS para 2013, caso o orçamento de estado seja aprovado no próximo dia 31, e façam as contas.
Uma adenda: consultem nesta tabela qual será o vosso novo escalão de IRS para 2013, caso o orçamento de estado seja aprovado no próximo dia 31, e façam as contas.
Rendimento colectável
|
Taxa normal
|
Taxa média
|
Até 7000 | 14,5% | 14,5% |
de mais de 7000 até 20000 | 28,5% | 23,6% |
de mais de 20000 até 40000 | 37% | 30,3% |
de mais de 40000 até 80000 | 45% | 37,65% |
Superior a 80000 | 48% |
-
|