sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Uma tarde no museu


Ontem, na companhia de um casal amigo, visitei o Museu Nacional da Arte Antiga para ver a exposição de pintura Primitivos Portugueses (1450-1550): O Século de Nuno Gonçalves, na qual se integram os trabalhos Painéis de São Vicente de Fora e Ecce Homo sobre os quais escrevi no romance O Evangelho do Enforcado (Saída de Emergência).

A minha intenção era começar a visita guiada pelo 3º andar do museu, dedicado à escultura, e onde se encontra a fantástica fonte bicéfala manuelina: um dos mais maravilhosos ícones da cidade.
Infelizmente, a exposição temporária ocupou o piso e as esculturas não podem ser observadas. Fiquei triste, porque queria mostrar a fonte aos meus amigos, mas haverá outra oportunidade. Entretanto, partilho uma imagem desse trabalho, de escultor anónimo e data incerta (datará do primeiro decénio do século XVI). Quantos outros trabalhos mágicos, desta natureza, teremos perdido ao longo dos séculos? Dá que pensar.

Aqui, D. Manuel I, o Venturoso, e provavelmente D. Maria (a sua segunda mulher, com quem casou em 1500), surgem como sendo as duas cabeças de uma serpente. Muito intrigante é a presença de dois brasões: a esfera armilar manuelina e o camaroeiro de D. Leonor, irmã mais velha do rei e viúva de D. João II.
Só existe mais um exemplo dessas duas empresas conjuntas e que é o Pelourinho de Óbidos. Por conseguinte, também se poderá especular que a cabeça feminina é a de D. Leonor.

Mesmo assim, D. Manuel I caracterizou-se por ser um rei que não teve amantes e por se fazer acompanhar por D. Maria em todas as ocasiões - conduta que não o poupou a que se dissesse em surdina que era um efeminado; já que, nessa altura, o costume mandatava que os mundos masculinos e femininos fossem duas realidades apartadas. Todavia, mesmo que a parcela feminina da enigmática escultura não seja D. Maria, isso não invalida o facto de que D. Manuel I e D. Maria deram feitio na vida diária a um verdadeiro rebis...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Planeamento a longo prazo


Ainda o Natal nem sequer chegou e já o Coelho da Páscoa anda ocupado a fazer os ovos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Reflexão a partir de Berger


John Berger escreveu:
«Cada cidade tem um sexo e uma idade que em nada se relacionam com a demografia. Roma é feminina. Assim como Odessa. Londres é um adolescente, um fedelho, e, no que diz respeito a isso, não mudou desde os tempos de Dickens. Acredito que Paris é um homem na casa dos vinte anos, apaixonado por uma mulher mais velha.»
Muitas vezes reflecti sobre quais serão o sexo e a idade da minha cidade. A conclusão possível é a de que, se calhar, Lisboa é um velhote sereníssimo. Um «guardador de rebanhos» filosófico; espécie de Alberto Caeiro avant la lettre, com longos cabelos e barbas brancos, evocativo até do Adamastor esculpido por Júlio Vaz Júnior. Mas talvez mais que guardar ovelhas ou cabras, este colosso guarde pássaros - como sugerem os dois corvos do seu brasão.

O desta imagem está no Largo do Andaluz: data de 1336 e é o mais antigo brasão da cidade.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Trabalho em progresso


Neste momento, estou a traduzir (mais) um clássico da literatura fantástica, que irá ser editado para o ano pela Saída de Emergência. Enquanto o faço, estou a escrever um novo romance que conto acabar circa final de Janeiro e início de Fevereiro de 2011. Estava a escrever outro, que, entretanto, retomarei quando terminar este. Será um livro bastante especial (vocês verão...) e ando felicíssimo a escrevê-lo. Para o ano, também será publicado, pela Kingpin Books, outro álbum de banda desenhada, escrito por mim e desenhado por um novo e excelente artista (em breve, divulgarei mais pormenores sobre este título). E, é claro, sairá o álbum É de Noite Que Faço as Perguntas, pela Gradiva. São assim os meus dias, entre tradução e escrita. Tanto por um lado, como pelo outro, gosto de pensar que estou entre clássicos. Daqui a uns meses, vocês me dirão.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

David Soares sobre "Tratado de Vampirologia"


Este mês, na rubrica "Um Livro em Análise", a revista Os Meus Livros apresenta um mini-ensaio meu sobre o livro Tratado de Vampirologia do Dr. Abraham Van Helsing, de Édouard Brasey:

«Tratado de Vampirologia, por David Soares. num momento em que o imaginário popular reergueu a figura dos míticos sugadores de sangue, pedimos ao mais importante escritor português de horror da actualidade para ler e comentar uma obra de culto, atribuída a Van Helsing, o famoso caçador de vampiros.»

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

"Centenário" dos Painéis de São Vicente de Fora


Este ano comemora-se o centenário do restauro e apresentação pública dos conhecidos Painéis de São Vicente de Fora. Seria de esperar que a imprensa se lembrasse que este ano foi publicado, se não estou em erro, o ÚNICO romance português (também não existe nenhum estrangeiro) sobre os Painéis de São Vicente e o seu suposto autor Nuno Gonçalves. Ainda por cima, é um romance assente na melhor biografia disponível sobre a temática e que aprofunda com rigor e autenticidade a Idade Média portuguesa.

Todos os que ainda não o leram estão convidados a descobri-lo nesta ligação, na qual poderão ler um excerto generoso: http://www.saidadeemergencia.com/uploads/books/samples/dw5_Evangelho_enforcado.pdf

«A escrita eloquente, elegante e cativante, apoiada numa sólida estrutura narrativa, tornam a qualidade desta peça inegável. O interesse das temáticas e a imaginação com que são abordadas tornam-na indispensável.»
- Mónica Maia, in Os Meus Livros (ao escolher O Evangelho do Enforcado como Livro do Mês)

«É de recorte e lavra genial esta empreitada literária de David Soares.»
- Pedro Teixeira Neves, in Portal PNETLiteratura

Painel "Lisboa Fantástica" (quase) completo

Já se encontram disponíveis mais vídeos do painel Lisboa Fantástica, que ocorreu no Fórum Fantástico 2010: um debate moderado por Rui Tavares, com a minha participação, a de João Barreiros e a de Octávio dos Santos. É uma pena ainda não ser o registo completo, porque muito mais se disse (ainda faltam trinta ou quarenta minutos, se não estou errado). Se aparecerem mais filmes, eu publico-os aqui, nos Cadernos de Daath.
Os vídeos seguintes são da autoria de Raquel Garrido.





Vencedores do passatempo

O passatempo A Luz Miserável foi um sucesso: recebi 121 participações e apenas 9 concorrentes enviaram respostas erradas.
A resposta correcta à pergunta era: Mostra-me a Tua Espinha. Bastante simples.

As vencedoras (sorteadas entre os 112 concorrentes que deram respostas correctas) foram Cláudia Correia do Funchal (participante nº27) e Andreia Nabais do Cacém (participante nº58). Parabéns!
Em breve, receberão os vossos livros, autografados.

Obrigado a todos os participantes.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Lisboa Fantástica - Um Vislumbre

Vídeo da minha primeira intervenção no painel Lisboa Fantástica, no 5º Fórum Fantástico (Sábado, 13 de Novembro), com as participações de João Barreiros e Octávio dos Santos e moderação de Rui Tavares.
Excerto filmado por Paulo Brito.


domingo, 14 de novembro de 2010

Lançamento de "A Luz Miserável" no 5º Fórum Fantástico

O lançamento de A Luz Miserável (Saída de Emergência) no 5º Fórum Fantástico foi um sucesso. Auditório cheio e vendidos quase todos os livros disponíveis na banca da editora. Obrigado a todos os leitores, conhecidos e novos, que apareceram e ajudaram a fazer do evento um acontecimento especial.
Estes vídeos do lançamento foram filmados por Raquel Garrido.



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Lançamento de "A Luz Miserável"


Querem saber a quem pertence a sombra sem ninguém?
E qual a maldição que pesa nos ombros de três veteranos de guerra?
Querem saber de onde vem o desejo de vingança que consome o Rei Assobio?

Então leiam A Luz Miserável (Saída de Emergência):
horror extremo, e literário, para leitores exigentes.

Apresentação exclusiva no 5º Fórum Fantástico no dia 13 às 17H30.

Fãs de literatura fantástica e, sobretudo, de horror, divulguem e apareçam.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Passatempo "A Luz Miserável"


Eu e as edições Saída de Emergência temos o prazer de oferecer dois exemplares autografados do meu novo livro de contos A Luz Miserável a dois leitores dos Cadernos de Daath.
Para o efeito só têm que responder correctamente à seguinte pergunta: qual é o título do meu primeiro livro de contos de horror?

As respostas certas irão ser sorteadas. Enviem-nas para o email cadernosdedaath(at)gmail.com até ao dia 17 de Novembro. Anunciarei os vencedores no dia 19. Boa sorte.

Nova página oficial de fãs no Facebook


Nesta ligação podem fazer-se fãs da minha nova página oficial de fãs no Facebook.
Será uma página na qual divulgarei diariamente novidades sobre o meu trabalho
.

A página de fãs no Facebook de O Evangelho do Enforcado ainda ficará activa durante algum tempo, mas será substituída por esta. Façam-se fãs e divulguem. Obrigado.

domingo, 7 de novembro de 2010

"A Luz Miserável": pré-venda


O meu novo livro de contos, A Luz Miserável (Saída de Emergência), já se encontra disponível para pré-venda na livraria virtual Wook, nesta ligação.

Sinceramente, é com um prazer enorme que vejo este livro a ser editado, já que, em paralelo com o romance O Evangelho do Enforcado, também publicado este ano, assinala um decénio de escrita (em BD e em prosa), sempre dedicada ao horror e ao Fantástico. Sempre com rigor, seriedade e profissionalismo.

O Fantástico mantém-se vivo quando, de facto, se escreve livros de literatura fantástica.
No que diz respeito a isso, contem comigo para mantê-lo sempre desperto, pois tenho ideias e histórias que chegam e sobram para mais dez anos de criação literária. Conto convosco, desse lado.

A Luz Miserável será apresentada em exclusivo no 5º Fórum Fantástico, o mais importante evento português dedicado à divulgação do Fantástico nas artes, no próximo dia 13, às 17H30.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Nova hora para lançamento de "A Luz Miserável"

O lançamento de A Luz Miserável (Saída de Emergência) no 5º Fórum Fantástico será às 17H30 (data definitiva). Apareçam e passem a palavra. Obrigado.

Entretanto, amanhã, às 16H45, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Anfiteatro III), estarei presente na sessão À conversa com David Soares.
Incluída no colóquio Mensageiros das Estrelas (organizado pelo Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa), e moderada por João Barrelas, consistirá numa conversa sobre o meu trabalho de escritor de literatura fantástica. Será, também, uma oportunidade para os leitores colocarem perguntas sobre os meus livros, num ambiente académico e conveniente à reflexão aprofundada dos assuntos.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Meu texto sobre Fantástico no catálogo da FNAC

As lojas FNAC estão, as we speak, e até 17 de Novembro, a realizar uma grande campanha sobre literatura fantástica: consiste numa promoção de uma enorme diversidade de excelentes livros fantásticos, de diversos géneros, desde a Fantasia, o Horror e a Ficção Científica, à disposição de todos os leitores que se queiram iniciar nesses universos, assim como uma oportunidade para os entusiastas encontrarem alguns títulos que lhes faltem nas colecções. Para o efeito, fez-se um catálogo comercial, com todos os livros destrinçados e incluídos.

Com a certeza de que a maioria dos livros que nele se incluem são bons, e que até estão presentes muitas boas surpresas, escrevi um texto introdutório que, pese as limitações que um texto sintético desta natureza sempre traz atreladas a priori, espero que suscite o vosso interesse. Ei-lo:

A imaginação é luz. Sem ela, seríamos matéria cega.
A palavra grega phantastikós significa relativo à imaginação, logo toda a literatura é fantástica porque é imaginada; no entanto, convencionou-se que apenas alguma merece ser assim baptizada: a de menor grau de proximidade com o real. Mas quantas vezes não se critica de modo negativo um livro porque tem “demasiada fantasia”?
O preconceito nasce da noção errónea de que a arte deve ser um mimetismo da realidade, mas o que é isso? Será “demasiada fantasia” aspirar-se a alcançar outros mundos? Esperar que por trás dos pesadelos existam sonhos? E que ao perguntar coisas a esses sonhos, descubramos que eles nos podem responder?!... A literatura fantástica é a luz emitida pelos seus escritores – e o que é que faz a luz, senão mostrar o caminho?
Mostrar-nos caminhos, o Fantástico tem feito, levando-nos a alcançar, de facto, outros mundos, a delapidar os piores pesadelos e a ensinar-nos como se tratam os sonhos por tu. Um bom livro de ficção científica, de horror ou de fantasia é, ao mesmo tempo, um bilhete e um mapa de territórios para os quais é preciso coragem para entrar, porque é preciso coragem para imaginar.
A imaginação é a maior riqueza que temos: é um tesouro – e os tesouros foram feitos para ser conquistados. Às vezes, esgravata-se mais do que se deveria e libertam- se coisas perigosas. É por isso que nós, escritores de literatura fantástica, existimos: somos salteadores profissionais, calejados nas armadilhas que existem nos caminhos onde crescem as histórias. Sabemos voltar com vida, de cabeças cheias, e os relatos das nossas viagens enchem as páginas dos livros que podem encontrar neste catálogo.
Felizmente, ao virar da página, podem encontrar muitos títulos de qualidade, mas não quero fazer de vosso Virgílio, porque cada leitor entra sozinho nos Infernos ou distopias que escolhe.
Só estou aqui para dizer: atrevam-se a imaginar.

David Soares
Lisboa, Setembro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Regresso de "As Trevas Fantásticas"


Nas vésperas da publicação do meu quarto livro de contos, A Luz Miserável (Saída de Emergência), o meu segundo livros de contos, As Trevas Fantásticas (Edições Polvo), voltará a estar disponível nas livrarias.
Quem me garantiu foram as próprias Edições Polvo (editora especializada em banda desenhada - são a editora portuguesa de Marjane Satrapi, por exemplo) que, contando com uma nova distribuidora, recolocarão no mercado alguns dos seus títulos mais importantes; entre os quais este livro de contos de horror que foi lançado no primeiro Fórum Fantástico, em Novembro de 2005, com apresentação de Luís Rodrigues.

É, pois, com grande alegria que notifico os leitores que me enviam regularmente emails, a perguntar-me como podem encontrar este livro, que ele voltará a estar disponível. (Em meados do próximo mês.)

«Cada vez que se lembrava da figura suja do vampiro escritor, o cheiro do homem acompanhava as imagens como uma pista sonora e, nesse momento, compreendeu que o cheiro é o sentido que mantém uma relação mais íntima com a memória. Memória para vampiros era imortalidade e o cheiro, singularmente, era a consciência. Se ficasse sem olfacto seria uma catástrofe, tornar-se-ia um náufrago, um turista das superstições alheias, um satélite de vidas que não pertenciam à sua órbita. Seria o fantasma de uma pulga.»

(Excerto de Pela Mão de Um Vampiro, in As Trevas Fantásticas.)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Making of de "É de Noite Que Faço as Perguntas"


No próximo dia 30 (sábado), às 16H00, irei conduzir uma visita guiada pela exposição do making of do álbum É de Noite Que Faço as Perguntas, escrito por mim e desenhado por Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho, Daniel Silvestre Silva e Richard Câmara.

O álbum, que consiste numa narrativa ficcionada que se espraia sobre a cronologia da primeira república portuguesa e a sua história, será editado pela Gradiva, mas infelizmente ainda não está pronto: uma questão que, como é evidente, me ultrapassa a mim e aos desenhadores. Independentemente disso, a exposição é excelente e deve ser visitada por qualquer leitor desejoso de saber como, de facto, se escreve e ilustra um álbum de banda desenhada.

Desde os meus apontamentos, recolha de imagens de referência, argumento dactilografado e layouts, até aos esboços dos desenhadores e suas artes finais e pranchas coloridas, este making of é uma oportunidade única (como poucas vezes vi em festivais desta natureza) de descobrirem o processo criativo dos artistas.

E se aparecerem no próximo dia 30, às 16H00, no Fórum Luís de Camões na Brandoa, local onde se realiza este 21º Amadora BD, eu lá estarei para vos contar tudo.



(Pranchas de Jorge Coelho e André Coelho.)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

David Soares no Halloween egitaniense


No próximo dia 29 de Outubro (sexta-feira), às 22h00, o Aquilo Teatro na Guarda irá apresentar um espectáculo especial de Halloween, intitulado Nocte Horribilis: Uma Homenagem aos Mestres do Terror.

Para o efeito, irão ser lidos e representados textos de alguns dos melhores autores do género, como Bram Stoker, Ray Bradbury e Stephen King. Eu e o meu livro de contos de horror Os Ossos do Arco-Íris (Saída de Emergência) fazemos parte dessas escolhas.
Leitores egitanienses, fãs do verdadeiro horror, apareçam!

E A Luz Miserável está mesmo quase a chegar...

domingo, 24 de outubro de 2010

Caveat


‘Os meninos estão perto da vida’, disse a
mulher. ‘Os adultos estão perto da mor-
te. As coisas que vivem ao pé da morte
sentem-nos e vêm ter connosco. Quando
somos capazes de ver as coisas que vivem
ao pé da morte é porque estamos ao pé
dela. É sinal que vamos morrer.’


O lançamento de A Luz Miserável (Saída de Emergência) será no próximo dia 13 de Novembro, às 16H30, no âmbito do Fórum Fantástico: o mais importante evento português, dedicado à divulgação do Fantástico nas artes.
Marquem, pois, nas vossas agendas.

Ah! Esta edição, garanto-vos, será de coleccionador, já que consiste em algo... diferente!...
Mas quando tiverem o livro nas mãos irão perceber.
(E em breve darei início a um passatempo, com oferta de um exemplar. Fiquem atentos.)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A minha presença no "Mensageiros das Estrelas"

De 2 a 5 de Novembro, o Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Letras de Lisboa organiza o colóquio Mensageiros das Estrelas: evento académico, dedicado à reflexão sobre a literatura fantástica. Entre os organizadores encontram-se Safaa Dib (assistente editorial das edições Saída de Emergência) e Luís Filipe Silva (escritor português de ficção científica). Entre os convidados estrangeiros contam-se as presenças do escritor Geoff Ryman e a académica Farah Mendlesohn.

No dia 2, das 16H45 às 17H15 (Anfiteatro III), estarei presente na sessão À conversa com David Soares.
Moderada por João Barrelas, consistirá numa conversa sobre o meu trabalho de escritor de literatura fantástica. Será, também, uma oportunidade para os leitores colocarem perguntas sobre os meus livros.

No dia 3, das 11H30 às 12H30 (Anfiteatro III), estarei presente na mesa-redonda Vinte Coisas Que Aprendemos da Literatura Fantástica.
Moderada por Margarida Vale de Gato, será uma conversa a várias vozes, com as presenças de António de Macedo, Octávio dos Santos e Inês Botelho.

Consultem com atenção o programa do colóquio, porque não faltam iniciativas e intervenções de grande interesse e pertinência que qualquer leitor de literatura fantástica deveria assistir.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Autógrafos no Amadora BD


O 21º Amadora BD tem início na próxima sexta-feira e prolonga-se até ao dia 7 de Novembro. O tema que este ano dá o mote ao festival é o centenário da primeira república portuguesa. Sob a égide desta comemoração encontra-se uma das exposições principais do Amadora BD: o making of do álbum É de Noite Que Faço as Perguntas, escrito por mim e desenhado por Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho, Daniel Silvestre Silva e Richard Câmara. Consistirá numa oportunidade única para os leitores descobrirem como, de facto, se escreve e ilustra uma banda desenhada: desde os meus apontamentos, argumento e layouts, até aos esboços e pranchas finalizadas dos desenhadores.
No dia 30 (Sábado), às 16H00, conduzirei o público numa visita guiada por essa exposição.

Nos dias 23 de Outubro e 6 de Novembro, das 17H00 às 18H00, estarei disponível para dar autógrafos no Amadora BD, na zona prevista para o efeito.
Recordo que o álbum Mucha, escrito por mim e ilustrado por Osvaldo Medina e Mário Freitas (Kingpin Books), encontra-se nomeado para dois Prémios Nacionais de Banda Desenhada: Melhor Álbum Português e Melhor Argumento Para Álbum Português.

«Há uma tradição do terror que é aqui perseguida, mas também a do absurdo (de Kafka, sim, mas também de Ionesco; de Nezval e Mzorek; de Jodorowsky e Svankmajer): isto é, não há razão, explicação, solução. As coisas são como são, e é isso que mete medo e assegura uma angústia indelével.»
Pedro Vieira de Moura (crítico de banda desenhada. Prefácio de Mucha.)

«Se a metáfora do totalitarismo e dos seus modos insidiosos de se espalhar como se de uma benesse se tratasse é clara desde o início, tanto pelo comportamento das personagens como pela referência a Rhinocerós, o encontro de Rusalka com o exército nazi não deixa margem para dúvidas. Nessa sequência final e perigosamente catártica, a utilização do alemão nas falas não é um simples artifício, mas antes a confirmação de que para percepcionarmos o horror, e sobretudo para o sentirmos, não é imprescindível compreender as palavras que o integram. O artifício encontra-se no forçar de um ponto de vista para o leitor, agora mero espectador, e nem por isso menos responsável – mesmo sem o dom das línguas, permanece a dúvida quanto à ameaça que a epígrafe de Sófocles, na Antígona, lança na página que antecede a narrativa: “Estas coisas são de um futuro próximo”. Mais do que o zumbido contínuo e incomodativo das moscas, são estas palavras que ecoam em cada prancha de Mucha
Sara Figueiredo Costa (crítica de literatura e banda desenhada. Revista LER, nº86.)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Fantástico em crescimento: um esclarecimento


Esta semana, numa reportagem televisiva, voltei a ouvir um jornalista a afirmar que o Fantástico está em crescimento.
Escrevi «voltei», porque, com efeito, já não é a primeira vez, nem a segunda, muito menos a terceira, que tropeço com esta afirmação (ou outras semelhantes) na imprensa. Se ela fosse verdadeira, então o Fantástico estaria num contínuo estádio meta-estável de crescimento, sempre à margem de uma transição entre uma maior envergadura ou um abrupto abatimento (mais ou menos como um pão que está dentro do forno e que depende do grau certo de temperatura para se desenvolver), pois há anos, e às vezes em várias ocasiões num ano, que ouço e vejo as notícias atestar que «o Fantástico está em crescimento». Até parece um gag de continuidade: “O Fantástico já cresceu? Não, ainda está em crescimento. E agora, já cresceu? Não, ainda está em crescimento. Ora bolas, então quando é que cresce? Depois digo-te, ainda está em crescimento.”
Em primeiro lugar, o Fantástico não é um campo isotrópico: é apenas uma designação (entre muitas) que é usada para englobar diversos géneros e modos heterogéneos de criação artística, por conseguinte qual é, afinal de contas, o Fantástico que está em crescimento? É o conjunto ou apenas algumas partes? O problema de afirmações como esta é que servem, somente, como anzóis para pescar o público ao qual as notícias se destinam, porque o seu valor informativo é zero.
Vamos assumir que, mesmo assim, a declaração que dá por certo que o Fantástico está em crescimento é verdadeira: onde é que estão os números para que possamos comprová-la? Qual é a estatística basilar? Provavelmente, não é nenhuma, assim como não existem números. É apenas uma afirmação enfiada na notícia, que nem uma cunha debaixo da porta, para mantê-la aberta aos consumidores. Em suma: o Fantástico não está em crescimento (seja lá isso o que for): o que existe, e pode ser comprovado, são fenómenos dilatados de mediatização relacionados com ele; e às vezes apenas marginalmente.
Esses picos de popularidade despertam a atenção de quem, normalmente, não está atento ao Fantástico e criam a ilusão de que este «está em crescimento»: o público (jornalistas incluídos) acham sempre que conhecem tudo e quando algo que ignoravam lhes surge diante dos olhos nunca assumem que a falta de informação de que padeciam é fruto do desconhecimento, mas pensam que só naquele momento é que a matéria em questão avolumou o suficiente para alcançar a esfera em que se movimentam. Logo, só podem estar diante de uma coisa «em crescimento».
No que diz respeito à literatura fantástica, ela é lida, quase em exclusivo, por 1) entusiastas (que conhecem bem as obras canónicas do género e a sua história), depois por 2) leitores médios que compram livros fantásticos esporadicamente (até são capazes de ter dois ou três autores preferidos – principalmente quando estes se aproximam da chamada “literatura erudita”, como Calvino ou Borges) e, finalmente, por 3) leitores de ocasião (que aparecem, de maneira pontual, sempre que algum fenómeno de popularidade traz para o mainstream a literatura fantástica, lá está!).
Os primeiros são leitores especializados, que já leram um número de obras lato o bastante para terem adquirido noções sólidas sobre originalidade, qualidade e pertinência de um trabalho literário. De facto, é preciso ter-se lido muitas obras boas para perceber os mínimos padrões de qualidade que um texto literário deve possuir: entre os quais, se a gramática e a linguagem estão correctas, se as figuras de estilo utilizadas no texto fazem sentido, etc., somente para enumerar alguns dos pontos mais elementares. Infelizmente, a maioria dos leitores médios lê pouquíssimo, fala e escreve com um português imperfeito, não considera que a literatura pode e deve ser mais que um mero entretenimento e cada vez mais apresenta uma menor capacidade de concentração no acto da leitura, consequência da concorrência dos meios audiovisuais que nos rodeiam e incutem os seus modelos nos livros. A prova disto é o número crescente de títulos cada vez mais parecidos com guiões de cinema, cheios de acção, diálogos e pouquíssimo discurso indirecto.
O terceiro tipo de leitores de que falei acima é, pela medida grande, composto por jovens (e muito jovens) que ainda não tiveram tempo de amadurecer e aprender a diferenciar o que é a qualidade e o que é o gosto pessoal. É natural que quem não possua grandes conhecimentos sobre literatura fantástica – e até de literatura, em geral –, e se tenha aproximado do género graças a uma obra em especial, deseje ler mais coisas dentro dessa matriz.
É, pois, neste contexto que surge o fenómeno já enunciado das modas (sejam elas quais forem – fantasias medievais épicas, histórias de vampiros ou outras – que drenam o interesse gerado pelos produtos responsáveis pela mediatização dos temas que se tornam as matérias-primas das próprias modas: os filmes da trilogia Senhor dos Anéis, por exemplo, ou a trilogia literária escrita por Stephenie Meyer) e das ficções escritas por fãs (fan fiction), que apenas almejam a rápida e satisfatória (de um ponto de vista emocional, nunca intelectual) reprodução mimética dos universos encontrados nos seus livros de estimação.
Por isso, pensem bem antes de dizer ou escrever que o Fantástico está em crescimento, porque isso não só não é verdade (o que há são modas, tal como em todas as áreas), como ainda transmite a ideia errónea de que também está a amadurecer.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Capa e sinopse de "A Luz Miserável"


Eis a capa do meu novo livro de contos, A Luz Miserável (Saída de Emergência), que será apresentado em exclusivo no próximo Fórum Fantástico. Fiquem atentos, porque em breve darei início a um passatempo, no qual podem ganhar um exemplar deste livro. Até lá, fiquem com a sinopse.

O horror está de volta.
Nestas três histórias, David Soares (O Evangelho do Enforcado, Lisboa Triunfante, A Conspiração dos Antepassados) apresenta imagens de luz e trevas que não deixarão nenhum leitor indiferente. Desde o ambiente exótico de A Sombra Sem Ninguém, passando pelos interiores claustrofóbicos de A Luz Miserável, até à extravagância macabra de Rei Assobio, os leitores vão conhecer personagens inesquecíveis, como um homem “quase” invisível, três soldados amaldiçoados e um velhote mutilado e vingativo.
Do suspense ao splatterpunk, A Luz Miserável é um livro de contos de horror provocadores, diabólicos e literários. Uma viagem vertiginosa ao lado negríssimo da imaginação.

«O mais importante escritor português de Fantástico da actualidade.»
Os Meus Livros

sábado, 9 de outubro de 2010

Colóquio "Mensageiros das Estrelas"

No próximo mês, de 2 a 5, irá ter lugar um colóquio académico sobre literatura fantástica na Universidade de Letras de Lisboa, organizado pelo Centro de Estudos Anglísticos dessa instituição, chamado Mensageiros das Estrelas. Entre os organizadores, estão Safaa Dib (responsável editorial das edições Saída de Emergência) e Luís Filipe Silva (escritor de ficção científica). Contará com inúmeros convidados de peso, tanto internacionais como nacionais. Entre os primeiros incluem-se o escritor Geoff Ryman e a académica Farah Mendlesohn.

Eu irei estar presente numa das mesas-redondas que irá falar sobre literatura fantástica e numa conversa a solo onde falarei sobre os meus romances. Em breve, divulgarei as datas das duas participações.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"Mucha" nomeado para dois prémios Amadora BD

O álbum de banda desenhada Mucha (Kingpin Books) está nomeado para dois Prémios Nacionais de Banda Desenhada, atribuídos pelo Amadora BD: Melhor Argumento Para Álbum Português e Melhor Álbum Português.

Vale a pena lembrar a excelente crítica que Sara Figueiredo Costa escreveu sobre ele na Revista Ler (Dezembro 2009).


Aqui fica, também uma ligação para o vídeo do lançamento de Mucha, realizado no Amadora BD.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

«Uma obra-prima de investigação e erudição»

Nas vésperas da publicação do meu novo livro de contos, A Luz Miserável, continuam a aparecer excelentes críticas aos meus romances: desta vez ao A Conspiração dos Antepassados (Saída de Emergência).
«Uma obra-prima de investigação e erudição, plasmada duma forma ficcional para melhor aceitação das moles, não tenho problemas em recomendar altamente este romance extraordinário, que penso será recordado no futuro das nossas letras como um dos marcos do início deste milénio. Assim o queiram as vontades.»

"Mucha" nomeado para dois prémios Amadora BD

O álbum de banda desenhada Mucha (Kingpin Books), escrito por mim e ilustrado por Osvaldo Medina e Mário Freitas foi nomeado para dois prémios Amadora BD: Melhor Argumento Para Álbum Português e Melhor Álbum Português.
Estou felicíssimo com estas nomeações e congratulo Osvaldo Medina (desenho) e Mário Freitas (arte-final, design e edição) por terem sido uns excelentes colaboradores num álbum que eu considero muito especial.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Alfacinha

(Retrato de um Lisboeta?)

Uma alcunha muito mal explicada, cuja origem nunca foi apurada...
Que eu saiba, surge pela primeira vez no livro Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, publicado em 1846. Diz ele na já famosa passagem que «Pois ficareis alfacinhas para sempre, cuidando que todas as praças deste mundo são como a do Terreiro do Paço (...)» (Guimarães Editores, 2001. Capítulo VII, páginas 39-40). Será que a alcunha já existia em uso corrente ou foi uma completa invenção do escritor? E a sê-lo, qual o sentido que ele lhe quis dar? Antes desta passagem, ele tem outra: «Coroai-vos de alface, e ide jogar o bilhar (...)» (pág. 39). O certo é que se tornou a alcunha dos lisboetas, para o bem ou para o mal, mas tenho dúvidas quanto às histórias de embalar que contam que éramos uns inveterados comedores de alfaces ou que as alfaces eram muito populares na cultura dos saloios dos nossos arrabaldes. Já agora: alface deriva da palavra árabe al-khass.
saloio tem outra origem, mas também árabe: vem da palavra çahrauii que significa apenas homem que habita no deserto e acho que surge pela primeira vez como çaloio no final do século XVIII. Em vista disso, é legítimo achar que os proverbiais saloios de Lisboa começaram por ser alguns mouros (vindos do Norte de África, talvez?) que habitaram nas mourarias medievais e se dedicaram, entre outras actividades, à agricultura; mas foi, de certeza, uma agricultura muito simplória, mais para consumo próprio que para venda. Hoje toda a gente usa a palavra saloio para designar, de maneira geral, um agricultor, seja ele de Lisboa ou não; ou até, de modo pejorativo, quando se quer chamar parolo a alguém.
Vale bem a pena recordar algo que eu não me canso de dizer: a maioria das coisas que nós achamos que são tradicionais, castiças, antigas, etc., foram inventadas há pouco mais de cento e cinquenta ou duzentos anos. Tripeiro, por exemplo, embora exista desde o século XV, só passou a ser usado como sinónimo de "portuense" no século XIX.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os cangalheiros da literatura

Aparentemente, este artigo sobre eReaders e a suposta "morte do livro", publicado a 21 de Setembro no site Technology Review do Massachusetts Institute of Technology (MIT), contém argumentos muitíssimo semelhantes àqueles que já tinha expressado no meu artigo Sobre eReaders, a 18 de Agosto. É sempre uma felicidade ver as nossas opiniões corroboradas por fontes independentes e credíveis. É sinal que pensou bem nos assuntos e que não se anda com areia nos olhos.

Como já tive oportunidade de escrever noutro sítio, àqueles que deliram em propagandear a suposta morte do livro, eu chamo-lhes os Cangalheiros da Literatura: muito gostam eles de dizer que o livro está morto, como se isso fosse uma coisa boa... É uma das provas cabais que atestam que quem não tem qualidades para escrever (ou para criar, num sentido lato) aceita de bom grado regozijar-se com a ruína da imaginação, como se encontrasse na esterilidade um local para nidificar.

Acho que a ideia de livro é o próprio livro enquanto objecto físico: o códice (do latim codice que significa, entre outras coisas, livro; o latinismo dex, com o mesmo significado, só entrou na nossa língua na segunda metade do século XVIII). Existe uma grande diferença entre ler um texto escrito num volume (ou seja, num manuscrito enrolado - do latim volumine que significa coisa enrolada), por exemplo, e ler um texto escrito num códice (um livro). A experiência é completamente diferente - e só a partir da difusão do conceito do códice é que se pode, com efeito, falar em leitura, no sentido que lhe é dado presentemente. Só a partir dessa difusão é que surgiram conceitos como autor e publicação, por exemplo.

Não estou inteiramente de acordo com a noção popular de que os papiros e os anteriores suportes de registo manuscrito, que podem ser traçados até à civilização suméria ou até tempos muito anteriores, se quisermos, são proto-livros: acho que eram coisas muito diferentes e que serviam objectivos diferentes, como enumerar, contabilizar e anotar, mas não eram veículos para a leitura reflexiva de interpretação como os códices vieram a tornar-se. É por esta razão que eu acho que a conversa que se ouve nos meios de comunicação de que o advento dos eReaders consiste num salto tecnológico da mesma ordem que aquele que se deu de prancheta para volume e de volume para códice e de códice manuscrito para impresso é uma arenga publicitária: a prancheta, o volume e o códice são coisas muito diferentes entre si e que serviram para coisas diferentes. Ler num
eReader não é a mesma coisa que ler num livro. Por isso, não será, de facto, leitura. É outra coisa que, neste momento, ainda não sabemos - assim como os efeitos que irá operar nas futuras gerações.

Estou a pensar na evolução de vinil para CD e de CD para MP3... O que interessa neste exemplo, ao fim e ao cabo, é a música e essa continua imutada: o que mudou foi apenas o suporte, porque quando se põe a tocar um vinil ou um CD ou um MP3, o resultado (com as devidas diferenças de qualidade de som) é o mesmo: continuamos a ter ondas sonoras a ser enviadas aos nossos tímpanos para serem codificadas em impulsos nervosos e transformadas em música pelo cérebro). A transmissão pode ser menos ou mais satisfatória, ou menos ou mais definida, mas o resultado é o mesmo. Quanto a livros e
eReaders, o resultado final já não é o mesmo.

É por isso que não compreendo o entusiasmo que a suposta morte do livro, e o advento dos
eReaders, suscita em algumas mentes. Acho que a morte do livro nunca poderá ser uma coisa boa (quem é que poderá, mesmo a sério, acreditar numa coisa destas?), acho que os eReaders são, mais uma, invenção desnecessária criada pela indústria e que a serem difundidos vão criar ainda mais iliteracia e afastar ainda mais o público dos textos escritos, por oposição aos meios áudio-visuais.

Liber ABA - trabalho(s) em progresso


Trabalho em progresso: a minha mesa durante a escrita do novo romance.
É o 4º - e conto terminá-lo no início do próximo ano. Até à sua publicação, e saídos ainda este ano, poderão ler um novo livro de contos (A Luz Miserável) e um álbum de banda desenhada (É de Noite Que Faço as Perguntas).

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Ode ao Negro

Em Março, Charles Sangnoir (compositor, músico e vocalista de La Chanson Noire) organizou, dirigiu e musicou um espectáculo de spoken word chamado Cabaret Seixal, que reuniu cinco convidados (Aires Ferreira, David Soares, Gilberto de Lascariz, Hyaena Reich e Melusine de Mattos). A minha contribuição intitulou-se A Ode ao Negro e consistiu num ensaio sobre a cor preta. Aqui fica o vídeo dessa minha performance.

A Ode ao Negro from David Soares on Vimeo.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A propósito de "O Homem do Castelo Alto"

A propósito da notícia da publicação de O Homem do Castelo Alto de Philip K. Dick, pela Saída de Emergência, vale a pena reflectir sobre os caminhos alternativos que a história ocidental poderia ter tomado se, em momentos de charneira, as circunstâncias tivessem sido diferentes das factuais. Neste romance de Philip K. Dick, as forças do Eixo ganham às dos Aliados, imprimindo um inédito planisfério no qual, após a Segunda Grande Guerra, os Estados Unidos foram esquartejados e partilhados entre a Alemanha e o Japão imperiais.
Vale a pena, pois, falar sobre outro Philip: Philip Ball, autor de Critical Mass: How One Thing Leads to Another (Farrar, Straus & Giroux, 2004). Neste livro de divulgação científica sobre a aplicação da física ao estudo das dinâmicas sociais, Ball parte de uma visão mecanicista do mundo, inaugurada por Thomas Hobbes em Leviathan, e atravessa, entre outros campos, os estudos estatísticos do astrónomo belga Adolphe Quetelet e as ciências económicas desenvolvidas por Adam Smith sempre estabelecendo analogias entre fenómenos físicos e o comportamento das populações, no sentido de se construir uma «física da sociedade». Embora as intenções do autor não se encontrem despoluídas de alguma temeridade, vale muito a pena falar sobre um exemplo intrigante que ele desenvolve no Capítulo 12 (Join The Club — Aliances in Business and Politics) e que endereça a previsão de cenários históricos possíveis. Um exemplo que nos diz respeito, enquanto portugueses.
Substituindo densidade e pressão por ano e configurações, dois investigadores da universidade do Michigan usaram um programa utilizado para testar o comportamento de moléculas gasosas para prever as possíveis alianças entre países europeus durante a Segunda Grande Guerra e concluíram que poderiam ter acontecido dois cenários.
Craig Reynolds já realizara algo parecido quando estudou o comportamento de bandos de pássaros em voo, usando um programa de computador semelhante: os seus Boids, neologismo criado com o recurso aos nomes bird e android, simulam na perfeição os movimentos de um bando de pássaros e são capazes de tomar decisões baseadas em apenas três configurações, 1) voar à mesma velocidade do pássaro (ou do agente, no caso do próprio software) mais próximo, 2) manter a proximidade e 3) evitar colisões. Os morcegos virtuais que podemos observar no filme Batman Returns, de Tim Burton, assim como diferentes criaturas de outros filmes, foram desenvolvidas com o recurso a este programa. Pensem no ainda mais perfeito Massive, concebido por Stephen Regelous para a Weta Digital como uma ferramenta que pudesse criar os exércitos dos filmes que compõem a trilogia The Lord of the Rings de Peter Jackson, e podem imaginar o grau de complexidade que o comportamento desta espécie de indivíduos virtuais pode assumir.
As configurações escolhidas para pautar o comportamento dos dezassete países europeus que integraram a experiência foram as suas religiões e disputas territoriais, identidades nacionais e culturais, economias e histórias. Com base nestas informações, o software mostrou que poderia, de facto, existir um conflito entre dois conjuntos de países arrumados desta forma: o do Eixo (do lado de Hitler) e o dos Aliados (ao lado da França e dos Estados Unidos). Só que nesses conjuntos alternativos, Portugal faz parte do Eixo. Surpreendentemente, Ball diz-nos que o facto de Portugal ter sido escolhido pelo programa para fazer parte do Eixo é uma anomalia, pois éramos parceiros da Inglaterra, o que, só por si, nos colocaria do lado dos Aliados e nos excluiria da amostra de nações neutras, como a Suíça e a Suécia (pág. 286). Ao que parece, a simpatia que o Estado Novo sentia pelo regime alemão não passou despercebida pelo programa, que, repito, analisou um número generoso de características importantes para chegar a esse resultado. O estudo destas análises históricas contra-factuais é ainda o assunto de um livro curioso que vale a pena ler: Virtual History: Alternatives and Counterfactuals, editado pelo historiador Niall Fergusson (Basic Books, 2000) e que contém dois capítulos que poderiam ser satélites de O Homem no Castelo Alto. São eles Hitler's England: What if Germany Had Invaded Britain in May 1940? de Andrew Roberts e Niall Fergusson e Nazi Europe: What if Nazi Germany Had Defeated the Soviet Union? de Michael Burleigh (págs. 281-347).
A segunda conclusão da experiência relatada por Ball foi a de que outro conflito, desta vez com catorze países associados contra a União Soviética, a Grécia e a Jugoslávia, poderia ter irrompido em 1936. Ball acredita que estes modelos podem ser uma ferramenta importante para clarificar situações futuras: «But the model might be of greatest value looking forward. What can it teach us to expect of relations in the volatile Middle East, where for example Israel, Syria, Iran and Jordan are locked into a frustrated mutual antipathy? Might religious similarities and fear of Western interference outweigh political differences in creating an alliance of Islamic states? Where would that leave Turkey?» (pág. 293).
Todavia, não existem modelos perfeitos; sobretudo se forem produzidos por um programa de computador que aponta cenários possíveis — lógicos, seria mais correcto — suportados por apenas seis ou sete ou quinze configurações. Em oposição aos pássaros que Reynolds estudou com os Boids, os seres humanos geralmente não agem de forma lógica e os seus comportamentos podem tomar contornos imprevisíveis. Nada garante que duas nações inimigas não venham a reconciliar-se no futuro para combater um inimigo comum com maior poder de fogo; ou que um país aparentemente amistoso não declare de surpresa guerra a um país vizinho, iniciando uma catástrofe a grande escala.


Esta espécie de simulações são fascinantes, e até oferecem ocasião para se passar o pano na gordura que ofusca a bola de cristal, mas não dispõem de autoridade —falta-lhes precisão para, se possível, diagnosticar o futuro de forma científica. Consistem, somente, em exercícios; nos quais se projectam as premissas da Psycohistory: ciência fictícia envisionada por Isaac Asimov, no primeiro volume da sua série de ficção científica Foundation. Nessa história, o psico-historiador Hari Seldon descobre que, daí a 500 anos, uma nova idade das Trevas irá ensombrar a raça humana e tem a ideia de salvar todo o conhecimento num empreendimento gigantesco: a Encyclopedia Galactica. Ora, o tipo de modelos que Ball nos apresenta serão mais úteis se forem utilizados para regressar ao passado e desfiar outras hipóteses dos novelos de informações que já estão arrumados no cesto.
Talvez seja wishfull thinking, mas acredito que podemos aprender muito com essas hipóteses não-nascidas e compreender por quais motivos a história tomou um determinado rumo em prejuízo de outro.