«O velho mestre acreditava em valores como o trabalho, como o sacrifício, mas eles não. O velho mestre achava que todas as obras precisavam de ser perfeitas e que se devia almejar a excelência em tudo o que se fazia, por mais humilde que a obra fosse, mas eles não. Eles odiavam o velho arquitecto, porque não eram, nem nunca seriam capazes de ser como ele. Invejavam a sua mais radiante obra-mestra, porque nunca seriam capazes de criar algo tão admirável. Eram homens inferiores — gente cuja imaginação ao serviço do efémero e do superficial não valia um escarro. E como não eram capazes de imaginar, de criar, de construir, viravam-se para o escárnio, para o aviltamento, para a destruição — talvez até acreditando, por força do hábito ou por pura inclinação para o mal, que eram coisas boas. Alimentavam-se uns aos outros, protegiam-se uns aos outros, sempre promovendo uma igualdade infame entre eles: infame e félea, porque não era motivada pela justiça, mas pelo medo absoluto de se descobrir que não se era bom o suficiente.
Se dependesse desses homens, não existiriam flores no mundo, pensou Batalha. Apenas ervas-daninhas.»
Imagem: São Onofre, Giovanni Battista Caracciolo (1625).