O gato é uma criança
que pede para brincar quando se está a trabalhar.
Faz uma maroteira – que ele sabe ser desgostada –
e olha oblíquo para nós como se não fizesse nada.
Pega-se nele ao colo como se escreve um poema:
númen de peluche, noemático grafema.
O gato é uma criança
que sorri com o olhar enquanto se põe a arrulhar.
Num esplendor abstratício, feito de felícia etiqueta,
apanha todos os brinquedos numa olímpica pirueta.
Com prazer primaveril furtiva-se debaixo da mesa:
entressonha com o brilho de uma alegria acesa.
O gato é um filho
que escreveria prosa como quem um salmo glosa.