Só aqui o Sol se torna luminífero; apenas aqui o tempo se olha, perdulário, ao enorme espelho marinho. Perscrutáveis por cima, gelo e erva padronizam-se em auricerúlea heráldica, esférica e feérica — sonial partícula, fossilizada ao som de tafonómico poslúdio celeste, solene e imperturbável minueto.
Pois haverá outro centro cósmico que não
seja aqui, onde as aves transformam em ninhos os excrementos das
debulhas, onde a felpa das feras é tão branda ao tacto quanto as suas
presas rasgam a carne? Em que outra esfera se poderá ouvir vagidos
ensurdecedores de gigantes oceânicos, opacos num crepúsculo plutónico
feito de breu abissal e órgãos bioluminescentes? Onde mais se aprende
que o sangue sabe a ferrugem — e onde mais haverá sangue e ferrugem?
Quão
confortável é o polinomial niilismo do menosprezo da nossa
excepcionalidade. Talvez só os loucos e as crianças acreditem que é aqui
o centro universal. Olhando-nos do espaço, isso é uma loucura e isso é
uma criancice — mas olhando-nos daqui, submersos em recendência e
cacofonia, em nascimento e em putrefacção, picados por insectos e
aguilhoados pela imaginação, aqui onde as árvores quase existem desde
sempre e onde cada vida humana dura menos tempo que a cobreagem de uma
folha, aqui a álgebra e a física não nos convencem da descentralidade:
pois o centro do universo é aqui.
Nós somos todos centro. O nosso sofrimento intrínseco não resulta de queda ou de expulsão, mas de ferida feita por compasso.