quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Passatempo "A Conspiração dos Antepassados"

Em jeito de prenda de Natal, as edições Saída de Emergência e eu temos um exemplar da edição especial d'A Conspiração dos Antepassados para oferecer ao primeiro leitor dos Cadernos de Daath que responder correctamente às seguintes perguntas:

1) Qual era a famosa alcunha pela qual Fernando Pessoa gostava de ser chamado?
2) Quais foram as últimas palavras que Aleister Crowley proferiu no leito de morte?

Enviem as respostas, até 5 de Janeiro, para o seguinte endereço de email: passatempo.conspiracao(at)gmail.com.

A edição especial d'A Conspiração dos Antepassados, que conta com um prefácio do escritor e realizador de cinema António de Macedo, estará disponível nas livrarias a partir do dia 22 de Janeiro de 2010.

Grande C: Criatividade nas escolas

A Agecop (Associação para a Gestão da Cópia Privada) está a organizar junto das escolas uma iniciativa intitulada Grande C: Projecto Escolas/Concurso de Criatividade, que consiste em «sensibilizar os mais jovens para a importância do respeito pelos direitos de autor e propriedade intelectual.»
O objectivo da iniciativa (o concurso) «passa por estimular a criatividade e o talento dos jovens alunos com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos. Assim, os candidatos são convidados a criar obras originais nas seguintes categorias: Música, Letra, Design, Vídeo, Plano de Promoção Online, Escrita Criativa e Media. Está a ser desenvolvido em articulação com outras entidades que representam os autores, os artistas, os produtores e os editores.» (Entre elas, a APEL, Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.) «O projecto conta com o apoio das Ministras da Cultura e da Educação, bem como da Comissária Europeia para os Assuntos dos Consumidores.»

Em Janeiro de 2010 será lançado, oficialmente, o site da iniciativa GC, que apresentará diversos depoimentos, de diferentes criadores, sobre as áreas artísticas em que trabalham. Foi no âmbito dessa recolha de testemunhos que me convidaram a gravar um depoimento.
Os vídeos «servirão de fio condutor de todo o projecto» e têm como objectivo dar a conhecer aos jovens o ofício da criação pela voz das pessoas que nele trabalham.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Edição especial em Janeiro de 2010

No próximo dia 22 de Janeiro será publicada uma edição especial do meu romance A Conspiração dos Antepassados (Saída de Emergência, 2007), sobre o encontro do poeta Fernando Pessoa com o mago Aleister Crowley: com uma nova capa e um prefácio de António de Macedo, consiste numa edição da qual muito me orgulho.

Quem já leu, sabe que a história orbita em volta do mito sebástico e tem como ponto de partida a vida e a obra do pintor renascentista português Francisco D'Ollanda. É dele a pintura que ilustra o excerto de A Conspiração dos Antepassados que se segue; um trecho que o apresenta como personagem. É, pois, um convite que eu deixo, àqueles que ainda não leram o romance, para que aguardem pela publicação da edição especial.

«Protegendo-se do violento vento nocturno, com um capuz e um manto, Francisco d’Ollanda agarrou o bebé contra o peito e desceu o carreiro pedregoso em direcção à entrada da gruta; o ruído do rio que fluía para o interior da Terra, invés de desaguar no Tejo, era uma verdadeira alegoria das energias telúricas que erguiam a traça magnética da área. Mais uma vez, precisava de abandonar um filho nessas fundações de pedra.
No início do ano morrera D. João III, seu protector, e as construções que ambos acompanhavam permaneciam incompletas. Preocupado com as urgentes experiências alquímicas, descurara as obras no Mosteiro de Santa Maria de Belém e nos Paços Reais de Enxobregas – a sua tão amada Nova Lisboa. D. Catarina estava com vontade de se ocupar pessoalmente das alas inéditas que ele tinha desenhado para o Convento de Cristo, em Tomar, projecto que muito lhe aprazia. De qualquer modo, Tomar encontrava-se demasiado distante, na geografia e na mente, para que pensasse no mosteiro: a morte do rei obrigava-o a trabalhar sob uma pressão inusitada – a rainha queria resultados no espaço de um ano. A delicada situação que se avizinhava não permitia desleixos.
Ollanda admirou a criança deformada, que carregava ao colo, com um misto de repulsa e esperança: após seis experiências falhadas, compreendera finalmente o que fizera de errado e já sabia como emendar a receita que seguia. O bebé era a prova que se aproximava, célere, da fórmula perfeita: as deformações que o afectavam eram insignificantes, comparadas com aquelas que cobriam os corpos dos irmãos mais velhos.
Talvez tivesse sido mais acertado eliminar essas criações inúteis, mas, construídas à imagem do seu melhor anjo, o arquitettore não encontrou coragem para as matar. Lembrou-se de as deixar naquele local isolado, ao abrigo da crueldade dos homens. Na verdade, sentia-se orgulhoso delas: vaidoso por ter tido sucesso; mesmo que essas vidas não servissem os objectivos para os quais havia sido contratado pela coroa.
Começara esse empreendimento em Outubro de 1550; D. Catarina pagara-lhe, para efeitos de contrato, uma primeira prestação de vinte e cinco cruzados, mercê de doações periódicas e alojamento. Sete anos depois, não se arrependera. O segredo que só ele sabia é que aceitara o trabalho infernal com a meta de amealhar dinheiro suficiente para se casar. Amava a mulher, D. Luísa da Cunha de Siqueira, e bastava-lhe acordar ao lado dela para pensar que as maquinações diabólicas valiam a pena. Mesmo assim, debruçado sobre as retortas, sobre o lendário Caldeirão Negro, quando calhava a vislumbrar o seu reflexo em alguma superfície reflectora via um rosto contorcido que não reconhecia: uma face impregnada de satanismo – ele estava a adorar cada momento da sua missão! Haveria de chegar o tempo de parar e de plantar couves na horta, no Monte: antes, precisava de mudar o mundo, de oferecer o Messias ao Quinto-Império.
O paredão com a gorja da caverna elevava-se na noite como um gigante petrificado, castigado pela Lua. Ollanda assustou uma coruja que caçava à entrada da gruta e entrou.
Havia no ar um cheiro calcário que denunciava a proximidade com o litoral, mais que a vizinhança do rio; o chão polvilhado de pedra moída. A dor de cabeça surgiu no momento previsto: a presença intrusiva que experimentava sempre que regressava à gruta. Uma sensação repelente, como se dedos pegajosos lhe massajassem a mente.
Uma série de imagens brotaram-lhe na cabeça; retalhos ordenados como um livro de ilustrações. Ele desconfiava que a origem daquelas visões forçadas se relacionava com os filhos deformados que viviam no fundo da gruta: era o modo peculiar que tinham encontrado para comunicar com o pai, mas, enquanto falavam, aprendiam. Ollanda viu desejos futuros, viu a figura secreta do salvador imaginado: não a personagem brilhante que o animava nas horas de desalento, mas uma versão corrompida, demasiado horrível para ser verdadeira. Tremeu, desconfortável, amparando a cabeça com a mão, e abandonou o indesejado no chão.

O Indesejado?!

Estes filhos deformados estavam para o Desejado como o Anti-Cristo estava para Jesus. Ollanda não compreendeu a mensagem que lhe arrombava o espírito, mas sentiu uma angústia que ultrapassava a maior das ambições. Qual o significado? Nenhum: a substância dos sentimentos era não terem expressão.
Alguém se aproximou, oriundo do interior da Terra, e o homem reconheceu-o: tratava-se do segundo filho. Crescera! Arrastava-se pelo chão, olhando-o com curiosidade infantil. Ollanda recuou, atingido pela recepção de uma imagem que lhe era conhecida: a noite em que deixara esse segundo filho na gruta. Ele lembrava-se!
Cobriu a boca com as mãos e fugiu a correr em direcção ao rio, deixando o seu sexto bebé na caverna. Ajoelhou-se e mergulhou a cabeça na água para afogar as imagens horríveis.
Malitia Temporis!’, gritou, com água a escorrer-lhe pela barba loura. Agarrou erva com as mãos e arrancou-a num gesto desesperado. ‘Oh, Deus, perdoa-me, que eu criei monstros em teu nome!’
Serenou, pensando que tinha sido a última vez que produzira uma aberração: a receita estava apurada, sem dúvida. Apressou-se até ao sítio onde deixara o cavalo e retirou-se.
Perturbado pela visita do pai, o segundo filho emergiu lentamente da entrada da caverna e espiou o mundo pela primeira vez. Observou as coisas sem as compreender, sem as reconhecer. Sentia-se confundido por um novo tipo de imagem mental que formulara quando vira o pai dentro da gruta. Tratava-se de uma representação diferente das outras – mais abstracta.
Arrastou-se até ao rio e, debruçando-se, viu o seu reflexo na água. Permaneceu algum tempo a observá-lo, a tentar decifrar aquilo que o incomodava. Num instante, percebeu tudo com uma clareza assustadora. Perturbado pela constatação que conseguia pensar por palavras, e não apenas por imagens, ergueu-se e olhou para o céu negro. A confusão deu lugar ao medo e esse temor transformou-se em ódio: a nova espécie de imagem que o encorajara a sair da gruta não passava, afinal, de um pensamento! Um pensamento que o fazia sentir sozinho. Um pensamento que acabara de o transformar para sempre.
Não era igual ao pai

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Novo romance em Fevereiro de 2010

O meu novo romance intitula-se O Evangelho do Enforcado. Chegará às livrarias a 12 de Fevereiro, numa edição da Saída de Emergência.

É um romance negro de literatura fantástica, cuja história se concentra sobre a realização dos Painéis ditos de São Vicente.
O cenário é, em grande parte, a cidade de Lisboa, em meados do século XV. Para os leitores que esperam encontrar um retrato autêntico da sociedade desse tempo fica a promessa de que O Evangelho do Enforcado é uma cápsula do tempo feita de imagens realistas e que as personagens pensam e agem como, muito provavelmente, pensavam e agiam os indivíduos nos finais da Idade Média. No entanto, é a fantasia negra que dá o tom dominante ao livro.

Espaçadamente, irei desvendar mais pormenores sobre O Evangelho do Enforcado. Para já, deixo-vos com um excerto:

«Os viajantes cheiravam Lisboa, antes de lhe pôr a vista em cima: os quatro ventos sopravam para Sintra e Sacavém os cheiros provenientes dos açougues, oficinas de calafates, baiucas dos curtidores e lixeiras que se espraiavam à sombreada do muramento da cidade; as gentes expulsavam das chaminés e janelas abertas das casas um florilégio de fragrâncias, das melíferas, como os eflúvios das enxercas, refogadas com ervas e mel, às malcheirosas, como os pivetes deitados fora com o conteúdo dos penicos. Não era invulgar o vento bater na cara dos transeuntes e enfiar-lhes o cheiro a vinho e caca de porco pelas narinas acima. Um fabuloso odor de “aqui e agora” que ia buscar essências pretéritas, fixadoras dos aromas do presente, para controlar os pensamentos dos lisboetas: o hipocentro da geologia temporal de Lisboa, impressa nas rochas, tijolos e ossos, reverberava sob a forma de lenga-lengas, cantigas estúpidas e orações de esperança. Ninguém, nem sequer um fungo, se dava ao trabalho de aprender alguma coisa com a presença do passado: e a cidade, de quando em quando, dava coices; deitava umas casas abaixo e reorganizava-se – ninguém me usa, clamava, merismática.
Casas de pedra e madeira erguiam-se voltadas para o rio Tejo, tão tortas quanto as próprias elevações sobre as quais se equilibravam; em direcção à linha da água, a pouquíssima distância das muralhas coroadas de líquenes, as ruas estreitas tornavam-se exíguas e a imundície sedimentava-se em estratos graúdos que encapotavam o chão de terra batida. Algumas artérias de maiores dimensões, como a eritematosa Rua Nova, possuíam pavimentos; mesmo assim, se apresentassem uma cota mais elevada, os caminhos calcetados costumavam ser cobertos com areia para que as ferraduras das bestiúnculas não deslizassem nas lajes de pedra.
O barulho era ininterrupto: sinos e chocalhos vascolejantes, guinchos das rodas de carroças e carretas, cerca de quarenta mil pessoas a conversar, a berrar e a rir. Baratas saltavam de frinchas. Cães bebiam os próprios reflexos em poças de água choca. Homens agarravam em copos de vinho.
Um ogre, de pele tisnada, vendia arroz frito de lagostins na rua e o cheiro das ervas aromáticas e do marisco não era diferente daquele que saía das fracturas do subsolo. Cheiros puros – sons puros. «Libertate carens.» Como lâminas afiadas.
Quando Nuno descera do barco e entrara em Lisboa pela Porta da Ribeira, junto da Pedreira ao bairro de Alfama, não se deixara impressionar pela adarga decorativa que se encontrava suspensa sobre o arco perfeito, como dois enormes rins de pedra; porém, desde essa altura, viera a conhecer melhor a cidade e concluiu que não se tratava de nenhuma aldeia grande como lhe disseram: era muito, mas mesmo muito maior do que alguma vez teria sido capaz de imaginar.»

(Foto de Gisela Monteiro.)

Sessão de autógrafos em Coimbra

No próximo Sábado, às 15H30, estarei na loja de banda desenhada Dr. Kartoon, em Coimbra, para uma sessão de autógrafos, em conjunto com Rui Lacas, Ricardo Cabral e Filipe Andrade.
Será, sem dúvida, uma boa oportunidade para falar com os leitores conimbricences, tanto os de banda desenhada como os de prosa.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Poemas de Alfred Tennyson

O livro Poemas de Alfred Tennyson, publicado pelas Edições Saída de Emergência, é apresentado hoje, às 18H30, na Câmara de Comércio Luso-Britânica, em Lisboa (Rua da Estrela, nº8).
A apresentação, realizada pelo orador convidado Dr. Paulo Lowndes Marques, da British Historical Society, contará com as presenças do editor e do tradutor Octávio dos Santos (também responsável pela selecção dos poemas).

Trata-se de uma excelente iniciativa: Tennyson é um dos poetas ingleses que mais aprecio e este livro vem dar aos leitores portugueses a oportunidade de conhecer o seu imaginário, permeado por referências e elementos da cultura ocidental que fazem parte do universo da literatura fantástica.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Crítica a "Mucha" na revista "LER"

Na edição deste mês da revista LER, podem encontrar uma excelente crítica ao álbum de banda desenhada Mucha (Kingpin Books, 2009), escrita por Sara Figueiredo Costa.
Transcrevo um excerto:

«Hábil na criação de uma escalada de sufoco, o imaginário de David Soares encontra no traço expressionista de Medina e nas finalizações de Freitas um preto-e-branco perfeitamente harmonioso com a narrativa e fortemente marcado pelas influências das clássicas bandas-desenhadas de horror (...) quanto à ameaça que a epígrafe de Sófocles, na Antígona, lança na página que antecede a narrativa: «Estas coisas são de um futuro próximo.» Mais do que o zumbido contínuo das moscas, são essas palavras que ecoam em cada prancha de Mucha.»