O jornal Público
está a publicar uma série de artigos que reflectem sobre problemáticas
de confrontos geracionais com a contemporaneidade portuguesa: o primeiro
artigo intitula-se GERAÇÃO 45-64: Vinte anos para gozar a vida de reformado; o segundo, adoptando o
título de Criados para aquilo que não podem ou não querem ser, analisa
a geração nascida entre 1965 e 1981. Eu nasci no dia 17 de Abril de
1976, por conseguinte - por comodidade discursiva - pertencerei à
geração que o fotógrafo húngaro Robert Capa apelidou de Geração X,
referindo-se à juventude do período pós-Segunda Grande Guerra:
designação que, depois disso, passou a conhecer o significado que hoje
lhe é atribuído.
Confesso que não me sinto parte de Geração X nenhuma - nem de outra, identificada com diferente letra ou número. Sinto-me, sim, parte de um grupo muito heterogéneo, formado, em principal, por indivíduos com idades iguais ou próximas da minha, mas esse sentimento de pertença predica por uma epidermia enorme, no sentido em que ele existe por generosidade de meia-dúzia de genéricas referências culturais que servem de aglutinador, porque, vistas bem as coisas, e perdoem-me o plebeísmo, ainda ando, passados tantos anos desde a minha adolescência, "às apalpadelas" no que diz respeito a pertenças de grupo: a verdade é que nunca me senti parte de grupo nenhum - e ainda hoje não sinto.
Dito isto, confessada a minha incapacidade de investir num exame mais profundo sobre como a problemática geracional me afecta, confesso em idêntica medida a minha perplexidade diante do discurso frequente e simplista segundo o qual a minha geração é mimada, privilegiada e outros "adas" que seria fastidioso elencar (poderia escolher apenas um: enganada, mas nestes apontamentos tenho vontade de ir por outra via). Eu sinto-me mais próximo de alguns indivíduos que pertencem a gerações diferentes da minha (tanto mais velhas como mais novas) e essa transversalidade permite-me observar o seguinte: ao contrário de classes, não existirão gerações privilegiadas. Talvez até nem sequer faça sentido o conceito de "geração", como neste tópico tem sido aplicado: o que se passa é que existem e continuarão a existir indivíduos, que nascem e vão morrer, e que terão, à maneira dos seus tempos, de encontrar estratégias, horizontes, e lutar contra os seus monstros. São os indivíduos, nas suas esferas privadas e nos seus espaços de intervenção pública, que - como terá dito o papa Clemente VII ao advento do saque de Roma organizado pelo imperador Carlos V - têm de olhar de frente o horror e indignar-se: «Meu Deus, deste-me vida para que pudesse ver isto?» Ou seja: acho que, no fundo, arrumar a sociedade em caixas convenientes chamadas "gerações" é mais divisivo do que outra coisa: afinal de contas, a sociedade é composta por mais do que uma geração - as gerações não se substituem umas às outras, como certas "raças mágicas" de alguns sistemas esotéricos oitocentistas: elas coexistem. Logo, partilham problemas e terão, também, de partilhar soluções.
A ideia que pretendo transmitir é que só existe uma "geração", formada por todos os indivíduos que estão vivos: uns a estudar, outros a trabalhar, outros desempregados, outros reformados, mas todos parte integrante e importante da sociedade portuguesa. Não existem "gerações": existimos nós.
Confesso que não me sinto parte de Geração X nenhuma - nem de outra, identificada com diferente letra ou número. Sinto-me, sim, parte de um grupo muito heterogéneo, formado, em principal, por indivíduos com idades iguais ou próximas da minha, mas esse sentimento de pertença predica por uma epidermia enorme, no sentido em que ele existe por generosidade de meia-dúzia de genéricas referências culturais que servem de aglutinador, porque, vistas bem as coisas, e perdoem-me o plebeísmo, ainda ando, passados tantos anos desde a minha adolescência, "às apalpadelas" no que diz respeito a pertenças de grupo: a verdade é que nunca me senti parte de grupo nenhum - e ainda hoje não sinto.
Dito isto, confessada a minha incapacidade de investir num exame mais profundo sobre como a problemática geracional me afecta, confesso em idêntica medida a minha perplexidade diante do discurso frequente e simplista segundo o qual a minha geração é mimada, privilegiada e outros "adas" que seria fastidioso elencar (poderia escolher apenas um: enganada, mas nestes apontamentos tenho vontade de ir por outra via). Eu sinto-me mais próximo de alguns indivíduos que pertencem a gerações diferentes da minha (tanto mais velhas como mais novas) e essa transversalidade permite-me observar o seguinte: ao contrário de classes, não existirão gerações privilegiadas. Talvez até nem sequer faça sentido o conceito de "geração", como neste tópico tem sido aplicado: o que se passa é que existem e continuarão a existir indivíduos, que nascem e vão morrer, e que terão, à maneira dos seus tempos, de encontrar estratégias, horizontes, e lutar contra os seus monstros. São os indivíduos, nas suas esferas privadas e nos seus espaços de intervenção pública, que - como terá dito o papa Clemente VII ao advento do saque de Roma organizado pelo imperador Carlos V - têm de olhar de frente o horror e indignar-se: «Meu Deus, deste-me vida para que pudesse ver isto?» Ou seja: acho que, no fundo, arrumar a sociedade em caixas convenientes chamadas "gerações" é mais divisivo do que outra coisa: afinal de contas, a sociedade é composta por mais do que uma geração - as gerações não se substituem umas às outras, como certas "raças mágicas" de alguns sistemas esotéricos oitocentistas: elas coexistem. Logo, partilham problemas e terão, também, de partilhar soluções.
A ideia que pretendo transmitir é que só existe uma "geração", formada por todos os indivíduos que estão vivos: uns a estudar, outros a trabalhar, outros desempregados, outros reformados, mas todos parte integrante e importante da sociedade portuguesa. Não existem "gerações": existimos nós.