sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Os homens de aço (cirúrgico)


O número de Setembro da revista LOUD! (para a qual escrevo a crónica bimestral Consultor Funerário) é, já, uma edição histórica, em virtude da entrevista que publica nas suas páginas centrais, com Jeff Walker (vocalista e baixista) e Bill Steer (guitarrista), da banda inglesa Carcass. Estreados em 1988, com a edição do disco Reek of Putrefaction, os Carcass foram, em conjunção com os Napalm Death (com os quais Steer também tocou), os pioneiros da sonoridade apelidada de Grindcore: aliança de elementos Metal, Punk e Jazz (o característico blast beat que, hoje, se associa, de imediato, aos estilos mais extremos de música, já era executado pelos bateristas de Jazz) que, com rapidez, se tornou um dos estilos metálicos mais plásticos e receptivos à experimentação com influências musicais muito distintas. Esse primeiro disco, prejudicado por uma produção muito fraca, mostrava, contudo, um grupo com uma personalidade incomum e tornou-se um favorito do programa de rádio da BBC Peel Sessions, do mítico apresentador John Peel. Ainda assim, poucos poderiam ter previsto a influência e a importância que o terceiro disco da banda, Necroticism - Descanting the Insalubrious (1991) iria exercer sobre o espectro das sonoridades mais extremas.

Em Fevereiro de 1991, estreou nos cinemas o filme The Silence of the Lambs, obra perturbante que revolucionou, totalmente, a cultura popular: um efeito imediato foi a aceitação pelo mainstream de ideias e personagens muito macabras que, até à data, eram coutada exclusiva da ficção de horror e de suspense, seguindo-se a instauração de uma constante estética umbrosa e sóbria, presente até hoje em produções visuais (desde filmes, séries televisivas e vídeos musicais). Editado em Outubro de 1991, Necroticism - Descanting the Insalubrious foi o The Silence of the Lambs do Metal: em 2000, a revista Terrorizer classificou-o como sendo o disco de Metal mais importante da década de 90. Com efeito, tanto The Silence of the Lambs como Necroticism - Descanting the Insalubrious demonstram o quão a cultura contemporânea, tanto nas artes como no entretenimento, deve às imagens e às harmonias mais extremas, provenientes do universo do horror. O terceiro disco de Carcass é, de facto, uma obra tocada pelo génio, que gerou um sem-número de epígonos e imitadores.

Mas os Carcass estão de volta (somente Walker e Steer pertencem à formação original), passados dezassete anos desde a edição de Swansong, com um inesperado novo disco, que será editado a 13 de Setembro: Surgical Steel. A sua capa evoca, directamente, a do EP Tools of the Trade (1992), um dos meus registos favoritos da banda (a seguir a Necroticism - Descanting the Insalubrious), e a música Captive Bolt Pistol que, entretanto, foi disponibilizada, é, inequivocamente, um tema fresco que não soa a plágio do passado, nem a homenagem póstuma. É um disco que aguardo com muita expectativa, porque os Carcass sempre foram uma das minhas bandas preferidas (ouvi a cassete original - naquele tempo ainda se compravam cassetes - de Symphonies of Sickness até à exaustão): os meus leitores que são fãs desta banda terão, certamente, dado pela pequena homenagem que lhe fiz na página 195 do meu romance Lisboa Triunfante (Saída de Emergência, 2008), com a escrita do pequeno interlúdio em verso Matéria Médica, Pelo Doutor Jacob de Castro Sarmento (à maneira dos ilustres cirurgiões Jeffrey Walker e William G. Steer de Nottingham).

Convido-vos, pois, a lerem a entrevista destes cirurgiões na LOUD! de Setembro.