No
passado dia 17 de Janeiro assinalou-se o centenário do National
Prohibition Act, mais conhecido por Volstead Act: legislação americana
que teve como intenção desbloquear a Décima Oitava Emenda à Constituição
dos Estados Unidos, que promulgava a proibição de venda e consumo de
bebidas alcoólicas.
O enquadramento desta iniciativa de engenharia social foi o chamado Movimento Progressista: espécie de sincrética arena ideológica em que participavam diversos actores, mas onde pontificava gente oriunda do puritanismo protestante, do credo científico eugenista e socialistas de diferentes sensibilidades — todos apostados em aposentar o Homem Velho para indigitar o Homem Novo. Com efeito, acreditava-se que extirpando as bebidas alcoólicas do horizonte dos trabalhadores americanos se iria, entre outros objectivos, fortalecer a consciência de classe desse proletariado e acelerar um devir Socialista. Curiosamente, nesses anos, e em sinal oposto à actualidade, a Esquerda americana era, na maioria, fortemente anti-imigração, pois considerava-a nociva aos interesses dos trabalhadores americanos.
Assim, sob essa orientação utópica, entrou-se numa era bizarra de destruição de adegas, detenções em massa de indivíduos apanhados a beber álcool, bares clandestinos, contrabando de zurrapas de qualidade muitas vezes fatal e de recrudescimento do gangsterismo.
Sobretudo, não deixa de ser revelador das contradições dessa época paradoxal o facto de o presidente Woodrow Wilson ter mantido para consumo pessoal uma estupenda adega de vinhos, espumantes e licores na Casa Branca — que levou consigo para casa depois de acabado o mandato. Vale a pena reflectir nas consequências sociais de toda a propaganda e iniciativas utópicas desenvolvidas nesse período, pois é provável que algumas das lições a tomar ainda se mantenham no prazo de validade.
A 19 de Janeiro de 1809 nasceu o escritor americano Edgar Allan Poe, que dispensa apresentações. Não obstante, vale a pena iluminar um aspecto de Poe que é pouco conhecido: o facto de no longo poema em prosa Eureka, publicado no turbulento ano de 1848, ele ter descrito de modo literário — e pela primeira vez — algumas realidades cosmológicas somente descobertas no século XX — e algumas apenas há poucos anos.
É o caso, por exemplo, do Big Bang, dos buracos negros e até uma solução engenhosa para o problema do Paradoxo de Olbers. Sem formação científica, Poe foi capaz de antecipar muitos aspectos da actual astrofísica, somente pela observação empírica e usando a sua fulgurante imaginação — muito antes da escrita de especulação científica ter sido popularizada por autores como Jules Verne ou Herbert George Wells. A lição a reter desta efeméride é a de que nenhuma tecnologia substitui a analógica imaginação humana, capaz de perscrutar a alma do universo através de ferramentas tão simples quanto lápis, tinta e papel.