quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Cultura


Uma pintura que considero emocionante: A Chávena de Chá, pintada por Columbano Bordalo Pinheiro, em 1898, e exposta pela primeira vez na Exposição Extraordinária do Grémio Artístico, comemorativa do Quarto Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia. Foi a terceira vez que Columbano expôs no Grémio Artístico; dois anos depois, levaria A Chávena de Chá à Exposição Universal, em Paris, na qual foi premiado com uma medalha de ouro. Hoje refugiada no Museu do Chiado, a tasseomante retratada neste quadro é Emília, mulher e modelo de Columbano (podemos vê-la, por exemplo, como Vénus, desnuda numa das telas alusivas ao Concílio dos Deuses, referentes à obra de Camões, também no Museu do Chiado). Esta composição sombria evoca-me outra, de igual modo belíssima, mas musical e da autoria do polaco Henryk Gorécki: a Symfonia Piesni Zalosnych (Sinfonia de Canções Tristes), que nos fala da angústia profunda de diversas mães que perderam os seus filhos. Retirada do samovar, a água fervente funde-se com as folhas de chá para formular feitios secretos que Emília, musa e Vénus de Columbano, perscruta - que sortilégios se esvaecem no vapor sem serem decifrados, que mensagens permanecerão para sempre perdidas, sem um destinatário? E a Grande Guerra ali tão perto. Convido-vos a olharem com atenção para esta imagem, ouvindo, ao mesmo tempo, a pungente peça de Gorécki. Um precioso momento de cultura para enriquecer o vosso dia, porque a cultura - a verdadeira - continua a fazer muita falta a todos nós; em principal, nesta altura.