quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Morreu Geraldes Lino



Morreu Geraldes Lino, divulgador, dinamizador, coleccionador e editor de banda desenhada, que conheci há vinte e dois anos, quando o Amadora BD ainda atendia pelo acrónimo FIBDA e se realizava na antiga Fábrica da Cultura. O convívio regular que mantivemos, em eventos, tertúlias, jantares, cafés, saídas nocturnas, às vezes entretecendo fios de colaborações, muitas vezes só pelo gozo da companhia, confirmou-me as primeiras impressões que tive do Lino nesse encontro primevo no FIBDA de 1997: um indivíduo inteligente, perspicaz, afável e até fisicamente fora de série, como prova o entusiasmo dos seus múltiplos caricaturistas. O seu amor e conhecimento pela banda desenhada metia respeito e contagiava.
No desenrolar dos anos nem sempre estivemos de acordo, é certo, mas o Lino possuía a preciosa particularidade de não se rodear somente de quem pensava à sua maneira, evitando assim anquilosar-se numa única perspectiva – lição que nos tempos de hoje talvez faça mais falta que nunca. Com efeito, poderia ser fácil dizer que o Lino pertence a uma geração ou a uma classe especial de indivíduos que, hoje, já não existem – e dizê-lo seria correctíssimo –, mas, mais que isso, o Lino era singular. Acho que nunca conheci mais ninguém como ele.
Mormente, a morte de um indivíduo costuma ter o dom de dissolver nos afectos de quem ainda perdura muito do lastro negativo que lhe estava associado: no caso do Lino nada de negativo existe para dissolver. Foi uma pessoa espantosamente positiva – consensual: tinha muita amizade por todos e todos gostavam muito dele. Por tudo isso, a sua morte é, neste momento, ainda uma irrealidade, uma surpresa chocante. É uma tristeza muito grande.
O velório de Geraldes Lino será amanhã, a partir das 09H30, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa; horas depois, às 16H00, será cremado.