Morreu Geraldes Lino, divulgador, dinamizador, coleccionador e editor
de banda desenhada, que conheci há vinte e dois anos, quando o Amadora BD ainda atendia
pelo acrónimo FIBDA e se realizava na antiga Fábrica da Cultura. O convívio regular
que mantivemos, em eventos, tertúlias, jantares, cafés, saídas nocturnas, às
vezes entretecendo fios de colaborações, muitas vezes só pelo gozo da
companhia, confirmou-me as primeiras impressões que tive do Lino nesse encontro
primevo no FIBDA de 1997: um indivíduo inteligente, perspicaz, afável e até
fisicamente fora de série, como prova o entusiasmo dos seus múltiplos caricaturistas.
O seu amor e conhecimento pela banda desenhada metia respeito e contagiava.
No desenrolar dos anos nem sempre estivemos de acordo, é certo, mas o
Lino possuía a preciosa particularidade de não se rodear somente de quem
pensava à sua maneira, evitando assim anquilosar-se numa única perspectiva – lição
que nos tempos de hoje talvez faça mais falta que nunca. Com efeito, poderia
ser fácil dizer que o Lino pertence a uma geração ou a uma classe especial de indivíduos
que, hoje, já não existem – e dizê-lo seria correctíssimo –, mas, mais que
isso, o Lino era singular. Acho que nunca conheci mais ninguém como ele.
Mormente, a morte de um indivíduo costuma ter o dom de dissolver nos
afectos de quem ainda perdura muito do lastro negativo que lhe estava
associado: no caso do Lino nada de negativo existe para dissolver. Foi uma
pessoa espantosamente positiva – consensual: tinha muita amizade por todos e todos gostavam
muito dele. Por tudo isso, a sua morte é, neste momento, ainda uma irrealidade, uma
surpresa chocante. É uma tristeza muito grande.
O velório de Geraldes Lino será amanhã, a partir das 09H30, no
cemitério do Alto de São João, em Lisboa; horas depois, às 16H00, será cremado.