«Lisboa Triunfante é um grande e extraordinário romance.
David Soares regressa à sua cidade, Lisboa, como no romance anterior, e, daí, parte para a construção simbólica de uma cosmovisão do mundo. O pretexto é, de facto, pertença da sua identidade cultural, mas, num tour de force bem conseguido, David Soares junta-se ao grupo dos grandes criadores do Fantástico.
Num tempo longínquo, na Terra das Serpentes, um animal astucioso, rapace e ferino, salva-se de todos os predadores: é a Raposa, elemento que faz a ligação a toda a estrutura narrativa de Lisboa Triunfante. Pergunta: resume-se a isso, e só a isso, este romance? Bem pelo contrário! Vamos assistir, em Lisboa Triunfante, a uma girândola criativa com doses de imaginação ao alcance de poucos.
A narrativa vai escolher núcleos poderosos da nossa história e da nossa cultura: Aquilino Ribeiro, D. João V, o reinado de D. Manuel I, D. Afonso III – não, também não é uma ucronia: é ficção da mais apurada e cristalina. A estabelecer a ligação entre todos eles temos a presença enigmática, fugidia, ladina e irónica da Raposa.
Todos estes episódios possuem um ritual de passagem: de iniciação. Todos eles possuem, também, um tempo de viver e pensar – de forma livre –, que é um hino à criatividade. No entanto, Lisboa Triunfante possui episódios e momentos narrativos que são, a nosso ver, fabulosos e de criatividade única. O momento da construção do Mosteiro dos Jerónimos, com a figura enigmática de Boytac (que concentra em si toda a vitalidade e pujança da criação): só por si, este núcleo ficcional é já, para nós, Livros Com Rum, um dos grandes tempos da nossa literatura. O outro, no reinado de D. Afonso III, com as figuras eclesiásticas: umas, ortodoxas, inquisidoras e mortíferas; outras, também religiosas, apologistas do livre pensar, do espírito crítico e de tudo submeter à inteligência humana – são elas Gil Valadares, Guterres e Tomás Scoto.
No último episódio temos a viagem de Paula com a Raposa, para o combate final com o Lagarto: símbolo, este, da lascívia inconsciente. Muito mais haveria a dizer sobre este fabuloso romance. No entanto, de Lisboa Triunfante, fica uma das grandes obras literárias de 2008, servida por uma construção ficcional perfeita e uma prosa delicada, sensível e poética que torna David Soares um dos grandes nomes da moderna literatura portuguesa. É um romance notável, sem uma única falha.
Uma pequena nota final: os dois romances de David Soares, A Conspiração dos Antepassados e Lisboa Triunfante, são servidos por uma bibliografia final monumental que será de grande utilidade aos nossos leitores que queiram aprofundar as duas temáticas. É o rigor a funcionar na sua plenitude.»
David Soares regressa à sua cidade, Lisboa, como no romance anterior, e, daí, parte para a construção simbólica de uma cosmovisão do mundo. O pretexto é, de facto, pertença da sua identidade cultural, mas, num tour de force bem conseguido, David Soares junta-se ao grupo dos grandes criadores do Fantástico.
Num tempo longínquo, na Terra das Serpentes, um animal astucioso, rapace e ferino, salva-se de todos os predadores: é a Raposa, elemento que faz a ligação a toda a estrutura narrativa de Lisboa Triunfante. Pergunta: resume-se a isso, e só a isso, este romance? Bem pelo contrário! Vamos assistir, em Lisboa Triunfante, a uma girândola criativa com doses de imaginação ao alcance de poucos.
A narrativa vai escolher núcleos poderosos da nossa história e da nossa cultura: Aquilino Ribeiro, D. João V, o reinado de D. Manuel I, D. Afonso III – não, também não é uma ucronia: é ficção da mais apurada e cristalina. A estabelecer a ligação entre todos eles temos a presença enigmática, fugidia, ladina e irónica da Raposa.
Todos estes episódios possuem um ritual de passagem: de iniciação. Todos eles possuem, também, um tempo de viver e pensar – de forma livre –, que é um hino à criatividade. No entanto, Lisboa Triunfante possui episódios e momentos narrativos que são, a nosso ver, fabulosos e de criatividade única. O momento da construção do Mosteiro dos Jerónimos, com a figura enigmática de Boytac (que concentra em si toda a vitalidade e pujança da criação): só por si, este núcleo ficcional é já, para nós, Livros Com Rum, um dos grandes tempos da nossa literatura. O outro, no reinado de D. Afonso III, com as figuras eclesiásticas: umas, ortodoxas, inquisidoras e mortíferas; outras, também religiosas, apologistas do livre pensar, do espírito crítico e de tudo submeter à inteligência humana – são elas Gil Valadares, Guterres e Tomás Scoto.
No último episódio temos a viagem de Paula com a Raposa, para o combate final com o Lagarto: símbolo, este, da lascívia inconsciente. Muito mais haveria a dizer sobre este fabuloso romance. No entanto, de Lisboa Triunfante, fica uma das grandes obras literárias de 2008, servida por uma construção ficcional perfeita e uma prosa delicada, sensível e poética que torna David Soares um dos grandes nomes da moderna literatura portuguesa. É um romance notável, sem uma única falha.
Uma pequena nota final: os dois romances de David Soares, A Conspiração dos Antepassados e Lisboa Triunfante, são servidos por uma bibliografia final monumental que será de grande utilidade aos nossos leitores que queiram aprofundar as duas temáticas. É o rigor a funcionar na sua plenitude.»