Seria inevitável não circularem pela Internet
as mais diversas teorias das conspirações sobre o assassinato dos
colaboradores do semanário satírico francês Charlie Hebdo e episódios
subsequentes, ocorridos no mesmo dia (7 de Janeiro). Uma dessas
teorias descabeladas relaciona-se com o polícia alvejado a sangue-frio
na cabeça pelos terroristas e insiste que este agente não foi ferido e
que o acontecimento foi encenado, guindando-se a conclusão no facto de
não se ter visto a cabeça do homem a rebentar com o disparo. É preciso
não se perceber nada sobre projécteis e tipos de munições. Eu não sei se
o polícia foi atingido na cabeça ou em outra parte do corpo (pelas
costas ou no pescoço), mas, independentemente disso, balas de tipo full
metal jacket (usadas em armas de assalto, como as AK47 empunhadas
pelos terroristas) caracterizam-se, precisamente, por não se
fragmentarem dentro dos alvos atingidos -- pelo contrário,
atravessam-nos sem provocarem grandes danos e com feridas de entrada e
saída muito pequenas. Foi um tipo de projéctil criado na segunda metade
do século XIX (pelos franceses, curiosamente) e popularizado
internacionalmente depois da primeira Convenção de Haia (1899) ter
proibido o emprego de balas de tipo dum dum, que se fragmentam
facilmente dentro dos alvos, abrindo-lhes feridas de saída muito grandes
pelas quais espirra com aparato toda a matéria orgânica entretanto
liquefeita pelos estilhaços. Por conseguinte, aquilo que se vê no vídeo
corresponde completamente ao efeito de um tiro dado (na cabeça ou em
outra parte do corpo) com uma bala de tipo full metal jacket,
característica das armas AK47: um tiro "limpo", sem espirro de sangue e
matéria orgânica.
O problema das teorias das conspirações é que são construídas com base em pouquíssima informação -- e informação errada (deliberada ou acidentalmente). Com efeito, as teorias das conspirações esgotam-se no enunciado: nunca comportam muito texto, digamos assim, porque isso seria o desvirtuamento da sua teleologia. São ideias atractivas por culpa da simplicidade e fortíssima carga emocional (a tónica é sempre colocada na emoção e não na razão), mas não são corroboradas por provas que atestem a sua veracidade. Assim, são apenas ruído. Não existirá, creio, um perfil-chave para os crentes em teorias das conspirações, mas colocarei a hipótese -- verosímil, à luz dos dados -- de serem indivíduos que se colocam contra o sistema primeiro e fazem as perguntas depois. Há casos de crentes em teorias das conspirações cujas vidas são, irremediavelmente, transtornadas pela espiral de desconfiança em que estas ideias auto-referenciais os vão entrecendo, mas a maioria apenas procurará as emoções fortes do chamado entretenimento barato. As teorias das conspirações fazem parte do campo dos pseudoconhecimentos, juntamente com a teoria da génese extraterrestre, por exemplo. São atalhos de pensamento que confortam aqueles que não têm tempo para reflectir e aqueles que não têm capacidade para pensar muito -- o que vai dar ao mesmo, bem vistas as coisas.
O problema das teorias das conspirações é que são construídas com base em pouquíssima informação -- e informação errada (deliberada ou acidentalmente). Com efeito, as teorias das conspirações esgotam-se no enunciado: nunca comportam muito texto, digamos assim, porque isso seria o desvirtuamento da sua teleologia. São ideias atractivas por culpa da simplicidade e fortíssima carga emocional (a tónica é sempre colocada na emoção e não na razão), mas não são corroboradas por provas que atestem a sua veracidade. Assim, são apenas ruído. Não existirá, creio, um perfil-chave para os crentes em teorias das conspirações, mas colocarei a hipótese -- verosímil, à luz dos dados -- de serem indivíduos que se colocam contra o sistema primeiro e fazem as perguntas depois. Há casos de crentes em teorias das conspirações cujas vidas são, irremediavelmente, transtornadas pela espiral de desconfiança em que estas ideias auto-referenciais os vão entrecendo, mas a maioria apenas procurará as emoções fortes do chamado entretenimento barato. As teorias das conspirações fazem parte do campo dos pseudoconhecimentos, juntamente com a teoria da génese extraterrestre, por exemplo. São atalhos de pensamento que confortam aqueles que não têm tempo para reflectir e aqueles que não têm capacidade para pensar muito -- o que vai dar ao mesmo, bem vistas as coisas.