domingo, 28 de fevereiro de 2016

A sabedoria das árvores


Por horas excepcionais tenho sentido no ar deste Fevereiro pálido, ainda hesitante entre uma Primavera matura e um Inverno senescente, a rescendência do cio das árvores, derriçadas pela temperatura: um eflúvio flexuoso, que bóia a custo no espaço castigador entre os copados e o chão. Sem cérebro, são as árvores mais sábias que nós – os pensantes –, pois, por mais palinologia que nos pule aos ombros, não compreendemos (quanto mais antevemos) os metamorfismos que nos vão demudando. Nada nos prepara para o fatal cair das folhas, nem para os nossos pouquíssimos reverdecimentos. Pode ser-se alérgico a esse estro dendrítico, abafadiço da garganta, e, no entanto, não se é alérgico à morte.