Sem querer insistir na solidez desta meia-dúzia de previsões (redigidas
com base na informação disponível até este instante), afiguram-se-me
alguns novos pontos de fuga para o travejamento político pós-Covid-19.
Eles são:
1) É plausível uma acelerada ou mesmo abrupta extinção do Liberalismo, nas suas várias facções, concomitante ao reforço de políticas novas que fortaleçam a intervenção dos Estados em áreas que, por tradição, eram do desempenho privado.
2) Políticas que tendam a robustecer a influência dos Estados serão, conjectura-se, muito populares; mas, credivelmente, esse incremento não passará pelo recrudescimento de medidas de Esquerda, porque esta encontra-se comprometida com um projecto Europeu em assinalável moribundez e de baixíssimos níveis de popularidade. Prevê-se, pelo contrário, que essas novas políticas de estribamento dos Estados sejam, efectivamente, de Centro: ideias ditas de Centro serão consideradas as que mais angariam bom-senso e achadas as mais eficazes.
3) O modelo actual de globalização, já flebotomizado até à palidez pela crise de 2008, sofrerá um intenso golpe, porque ficaram ainda mais expostas as fragilidades de um comércio global assente em demasiados intermediários e por sistemas produtivos e económicos demasiado descentralizados. Assim, será provável que os novos Estados fortalecidos adoptem políticas para uma maior auto-suficiência, investindo em áreas de produção já abandonadas e enriquecendo os seus tecidos industriais — em particular Estados que nas últimas décadas se orientaram quase em exclusivo para uma economia de serviços.
4) A reinstituição das antigas lógicas de Estados-Nações não será, pois, acompanhada de um ressurgimento de ideologias nacionalistas novecentistas, pois a auto-suficiência tem limites: situação que poderá acelerar o declínio da União Europeia e nesse seguimento recriar um mundo parcelado em novas-velhas ‘commonwealths’, digamos assim, de interesses comuns, ligadas por laços históricos, geográficos, económicos e culturais (p. ex.: Reino Unido + Estados Unidos; um grupo formado pelos países da Europa do Norte e outro grupo formado pelos países da Europa do Sul).
5) Ainda é cedo para especular como ficarão as preocupações climáticas/ambientalistas que efervesceram de variadas maneiras a opinião pública nos anos mais recentes, mas é provável que o novo ‘milieu’ milenarista pós-Covid-19 sirva de breviário e altar a religiões globais mais adaptáveis à nova moldura política e económica esboçada nas linhas anteriores.
6) Mais do que subsidiar a existência ao espaço digital, a actual experiência de isolamento social demonstrará aos indivíduos que a Internet é apenas uma ferramenta e não a tecnologia utópica que se considerava ser há poucos meses, sendo de prever que esta passe por um período de desencantamento utilitário similar aos de outras tecnologias, como a electricidade — um exemplo: observada nos anos 20 do século passado pelo regime soviético como a tecnologia que faria a revolução socialista global, a electricidade passou pelo seu período de desencanto tecnológico. O mesmo ocorre/ocorrerá com a Internet: ninguém poderá viver sem ela (como com a electricidade), mas perderá as vestes de utopia com que foi enroupada desde a sua concepção.
1) É plausível uma acelerada ou mesmo abrupta extinção do Liberalismo, nas suas várias facções, concomitante ao reforço de políticas novas que fortaleçam a intervenção dos Estados em áreas que, por tradição, eram do desempenho privado.
2) Políticas que tendam a robustecer a influência dos Estados serão, conjectura-se, muito populares; mas, credivelmente, esse incremento não passará pelo recrudescimento de medidas de Esquerda, porque esta encontra-se comprometida com um projecto Europeu em assinalável moribundez e de baixíssimos níveis de popularidade. Prevê-se, pelo contrário, que essas novas políticas de estribamento dos Estados sejam, efectivamente, de Centro: ideias ditas de Centro serão consideradas as que mais angariam bom-senso e achadas as mais eficazes.
3) O modelo actual de globalização, já flebotomizado até à palidez pela crise de 2008, sofrerá um intenso golpe, porque ficaram ainda mais expostas as fragilidades de um comércio global assente em demasiados intermediários e por sistemas produtivos e económicos demasiado descentralizados. Assim, será provável que os novos Estados fortalecidos adoptem políticas para uma maior auto-suficiência, investindo em áreas de produção já abandonadas e enriquecendo os seus tecidos industriais — em particular Estados que nas últimas décadas se orientaram quase em exclusivo para uma economia de serviços.
4) A reinstituição das antigas lógicas de Estados-Nações não será, pois, acompanhada de um ressurgimento de ideologias nacionalistas novecentistas, pois a auto-suficiência tem limites: situação que poderá acelerar o declínio da União Europeia e nesse seguimento recriar um mundo parcelado em novas-velhas ‘commonwealths’, digamos assim, de interesses comuns, ligadas por laços históricos, geográficos, económicos e culturais (p. ex.: Reino Unido + Estados Unidos; um grupo formado pelos países da Europa do Norte e outro grupo formado pelos países da Europa do Sul).
5) Ainda é cedo para especular como ficarão as preocupações climáticas/ambientalistas que efervesceram de variadas maneiras a opinião pública nos anos mais recentes, mas é provável que o novo ‘milieu’ milenarista pós-Covid-19 sirva de breviário e altar a religiões globais mais adaptáveis à nova moldura política e económica esboçada nas linhas anteriores.
6) Mais do que subsidiar a existência ao espaço digital, a actual experiência de isolamento social demonstrará aos indivíduos que a Internet é apenas uma ferramenta e não a tecnologia utópica que se considerava ser há poucos meses, sendo de prever que esta passe por um período de desencantamento utilitário similar aos de outras tecnologias, como a electricidade — um exemplo: observada nos anos 20 do século passado pelo regime soviético como a tecnologia que faria a revolução socialista global, a electricidade passou pelo seu período de desencanto tecnológico. O mesmo ocorre/ocorrerá com a Internet: ninguém poderá viver sem ela (como com a electricidade), mas perderá as vestes de utopia com que foi enroupada desde a sua concepção.