Fez ontem dez anos que foi lançado, no fórum da loja FNAC do centro 
comercial Colombo, o meu romance Lisboa Triunfante (Saída de 
Emergência). Passado esse período, penso que o tema principal do livro, 
em vez de ser a cidade de Lisboa, como sempre considerei, é, na verdade,
 o tempo — o que é, como nos relacionamos com ele, de que modo somos 
transformados pela sua acção. Lisboa é a caixa de Petri dessa análise à 
nossa relação com o tempo; uma análise que, como é sabido por quem
 leu, se assume com a maior duração temporal possível. Só a Raposa e o 
Lagarto não vêem o tempo a passar por eles: quem vive nas alturas 
percebe o tempo com maior velocidade, diz a Física — vivendo num andar 
superior da existência, ambos vêem o tempo tão depressa, que é como se 
estivessem eternamente na mesma coordenada. É por isso que tanto gostam 
de imiscuir-se nos nossos assuntos: o ser humano oferece-lhes realidade.
 

 
