Aparentemente, este artigo sobre eReaders e a suposta "morte do livro", publicado a 21 de Setembro no site Technology Review do Massachusetts Institute of Technology (MIT), contém argumentos muitíssimo semelhantes àqueles que já tinha expressado no meu artigo Sobre eReaders, a 18 de Agosto. É sempre uma felicidade ver as nossas opiniões corroboradas por fontes independentes e credíveis. É sinal que pensou bem nos assuntos e que não se anda com areia nos olhos.
Como já tive oportunidade de escrever noutro sítio, àqueles que deliram em propagandear a suposta morte do livro, eu chamo-lhes os Cangalheiros da Literatura: muito gostam eles de dizer que o livro está morto, como se isso fosse uma coisa boa... É uma das provas cabais que atestam que quem não tem qualidades para escrever (ou para criar, num sentido lato) aceita de bom grado regozijar-se com a ruína da imaginação, como se encontrasse na esterilidade um local para nidificar.
Acho que a ideia de livro é o próprio livro enquanto objecto físico: o códice (do latim codice que significa, entre outras coisas, livro; o latinismo códex, com o mesmo significado, só entrou na nossa língua na segunda metade do século XVIII). Existe uma grande diferença entre ler um texto escrito num volume (ou seja, num manuscrito enrolado - do latim volumine que significa coisa enrolada), por exemplo, e ler um texto escrito num códice (um livro). A experiência é completamente diferente - e só a partir da difusão do conceito do códice é que se pode, com efeito, falar em leitura, no sentido que lhe é dado presentemente. Só a partir dessa difusão é que surgiram conceitos como autor e publicação, por exemplo.
Não estou inteiramente de acordo com a noção popular de que os papiros e os anteriores suportes de registo manuscrito, que podem ser traçados até à civilização suméria ou até tempos muito anteriores, se quisermos, são proto-livros: acho que eram coisas muito diferentes e que serviam objectivos diferentes, como enumerar, contabilizar e anotar, mas não eram veículos para a leitura reflexiva de interpretação como os códices vieram a tornar-se. É por esta razão que eu acho que a conversa que se ouve nos meios de comunicação de que o advento dos eReaders consiste num salto tecnológico da mesma ordem que aquele que se deu de prancheta para volume e de volume para códice e de códice manuscrito para impresso é uma arenga publicitária: a prancheta, o volume e o códice são coisas muito diferentes entre si e que serviram para coisas diferentes. Ler num eReader não é a mesma coisa que ler num livro. Por isso, não será, de facto, leitura. É outra coisa que, neste momento, ainda não sabemos - assim como os efeitos que irá operar nas futuras gerações.
Estou a pensar na evolução de vinil para CD e de CD para MP3... O que interessa neste exemplo, ao fim e ao cabo, é a música e essa continua imutada: o que mudou foi apenas o suporte, porque quando se põe a tocar um vinil ou um CD ou um MP3, o resultado (com as devidas diferenças de qualidade de som) é o mesmo: continuamos a ter ondas sonoras a ser enviadas aos nossos tímpanos para serem codificadas em impulsos nervosos e transformadas em música pelo cérebro). A transmissão pode ser menos ou mais satisfatória, ou menos ou mais definida, mas o resultado é o mesmo. Quanto a livros e eReaders, o resultado final já não é o mesmo.
É por isso que não compreendo o entusiasmo que a suposta morte do livro, e o advento dos eReaders, suscita em algumas mentes. Acho que a morte do livro nunca poderá ser uma coisa boa (quem é que poderá, mesmo a sério, acreditar numa coisa destas?), acho que os eReaders são, mais uma, invenção desnecessária criada pela indústria e que a serem difundidos vão criar ainda mais iliteracia e afastar ainda mais o público dos textos escritos, por oposição aos meios áudio-visuais.
Como já tive oportunidade de escrever noutro sítio, àqueles que deliram em propagandear a suposta morte do livro, eu chamo-lhes os Cangalheiros da Literatura: muito gostam eles de dizer que o livro está morto, como se isso fosse uma coisa boa... É uma das provas cabais que atestam que quem não tem qualidades para escrever (ou para criar, num sentido lato) aceita de bom grado regozijar-se com a ruína da imaginação, como se encontrasse na esterilidade um local para nidificar.
Acho que a ideia de livro é o próprio livro enquanto objecto físico: o códice (do latim codice que significa, entre outras coisas, livro; o latinismo códex, com o mesmo significado, só entrou na nossa língua na segunda metade do século XVIII). Existe uma grande diferença entre ler um texto escrito num volume (ou seja, num manuscrito enrolado - do latim volumine que significa coisa enrolada), por exemplo, e ler um texto escrito num códice (um livro). A experiência é completamente diferente - e só a partir da difusão do conceito do códice é que se pode, com efeito, falar em leitura, no sentido que lhe é dado presentemente. Só a partir dessa difusão é que surgiram conceitos como autor e publicação, por exemplo.
Não estou inteiramente de acordo com a noção popular de que os papiros e os anteriores suportes de registo manuscrito, que podem ser traçados até à civilização suméria ou até tempos muito anteriores, se quisermos, são proto-livros: acho que eram coisas muito diferentes e que serviam objectivos diferentes, como enumerar, contabilizar e anotar, mas não eram veículos para a leitura reflexiva de interpretação como os códices vieram a tornar-se. É por esta razão que eu acho que a conversa que se ouve nos meios de comunicação de que o advento dos eReaders consiste num salto tecnológico da mesma ordem que aquele que se deu de prancheta para volume e de volume para códice e de códice manuscrito para impresso é uma arenga publicitária: a prancheta, o volume e o códice são coisas muito diferentes entre si e que serviram para coisas diferentes. Ler num eReader não é a mesma coisa que ler num livro. Por isso, não será, de facto, leitura. É outra coisa que, neste momento, ainda não sabemos - assim como os efeitos que irá operar nas futuras gerações.
Estou a pensar na evolução de vinil para CD e de CD para MP3... O que interessa neste exemplo, ao fim e ao cabo, é a música e essa continua imutada: o que mudou foi apenas o suporte, porque quando se põe a tocar um vinil ou um CD ou um MP3, o resultado (com as devidas diferenças de qualidade de som) é o mesmo: continuamos a ter ondas sonoras a ser enviadas aos nossos tímpanos para serem codificadas em impulsos nervosos e transformadas em música pelo cérebro). A transmissão pode ser menos ou mais satisfatória, ou menos ou mais definida, mas o resultado é o mesmo. Quanto a livros e eReaders, o resultado final já não é o mesmo.
É por isso que não compreendo o entusiasmo que a suposta morte do livro, e o advento dos eReaders, suscita em algumas mentes. Acho que a morte do livro nunca poderá ser uma coisa boa (quem é que poderá, mesmo a sério, acreditar numa coisa destas?), acho que os eReaders são, mais uma, invenção desnecessária criada pela indústria e que a serem difundidos vão criar ainda mais iliteracia e afastar ainda mais o público dos textos escritos, por oposição aos meios áudio-visuais.