Mostrar mensagens com a etiqueta Aforismos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Aforismos. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Aforismos


1) O merceeiro vende muitos produtos, mas tem somente uma ambição (e bem natural, que é a de vender); o mistagogo, inversamente, seja qual for o campo em que trabalhe, tem muitas ambições (que nada têm de natural), mas apenas vende um produto — a Verdade!
Assim, torna-se fácil reconhecer essa espécie de artesãos da metafísica: vendem somente a Verdade e combatem somente o Erro — com maiúscula e no singular. Ah!, como é fácil ser guru de qualquer manha ou ideologia quando aquilo que se vende e aquilo que se adversaria pode ser publicitado sob essa singeleza abstracta.

2) Barrava manteiga no pão como quem peliculava folha de ouro na madeira. Tanto o padeiro como o marceneiro amaldiçoavam o mundo por esse seu grande pecado.

3) É verdade que todos sabem que para pôr um aparelho electrónico a funcionar é preciso ligá-lo à corrente eléctrica, mas essa perfunctória informação não consta dos manuais: é uma dimensão invisível na nossa relação habitual com esse objecto. O estudo do passado não é diferente: na nossa relação com ele existe uma dimensão invisível que não consta dos manuais, nem sequer dos documentos nos arquivos, e que só através da mais rigorosa imaginação pode ser alcançada.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Aforismos



1) Não me lembro de alguma vez ter visto um cão indolente, mas os gatos são capazes de passar horas a olhar para o ar. Deve ser por isso que não existem gatos de guarda e os cães não sonham acordados.

2) Foi uma coincidência feliz que o hábito de castigar alunos virando-os contra as paredes e a prática de decorá-las com papel de parede tenham desaparecido mais ou menos ao mesmo tempo. Quão penoso seria ainda mais o castigo se o aluno tivesse diante de si uma aborrecida parede branca?

3) As raposas regougam, mas alguém as ouviu gougar? Deve ser desta situação que advém a sua reputação matreira: só se ouve o riso e, assim, é natural que se ache que estavam em segredo a fazer pouco da gente.


4) Era tão minimalista que a sua árvore favorita era o palito.

5) A banca evita decorar as novas notas com rostos de personagens históricas, porque é de mau gosto que os cidadãos tenham na carteira imagens de pessoas que não conhecem.

6) Tourada é coisa de Mitra.

7) É raro, mas há refrãos tão bons que dispensavam o resto da canção. É ainda mais raro, mas há dias tão bons que dispensavam o resto da vida.

8) Tardígrado: que com suas garras é do dragar dito.