«O 'direito do primeiro ocupante', embora não seja mais real que o 'direito do mais forte', não se torna um verdadeiro direito até que se institua a propriedade. Cada homem tem um direito natural a possuir aquilo que precisa (...) Como pode um homem ou um povo usurpar um vasto território e manter afastados todos os outros, senão pela usurpação criminosa - já que o acto privaria o resto da humanidade do abrigo e da comida que a Natureza tem para dar, a todos em comum?»
Jean-Jacques Rousseau, Du Contrat Social: Ou Principes du Droit Politique.
Iniciar um comentário ao filme District 9, de Neil Blomkamp, com um excerto de O Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau, é correctíssimo e depois de verem o filme irão perceber porquê, já que ele pode ser entendido como uma alegoria sobre os terrores do regime sul-africano segregacionista do Apartheid (Blomkamp, que é branco, nasceu na África do Sul e não é inocente a escolha do enredo de District 9 se desenrolar nesse território). Porém, o filme é vasto o suficiente para permitir outras leituras.
Há mais de vinte anos, desde a estreia de Aliens, de James Cameron, que eu não via um filme assim.
District 9 não faz concessões, a não ser a de querer manter as emoções e o intelecto do espectador ao rubro. Não se vislumbram nenhuns momentos de comic relief, nem sidekicks adolescentes, muito menos a montagem frenética - devedora dos videojogos - que, infelizmente, se tornou mandatória naquilo que é suposto ser um blockbuster de acção. Na verdade, a estreia de Blomkamp (29 anos de idade) como realizador parece ter andado a vogar no limbo (como a nave extraterrestre de District 9) durante a segunda metade dos anos oitenta e a década de noventa do século passado para, neste momento, nos cair em cima. E que falta nos fazia!
Há pertinência, poesia e rebeldia em District 9. Das verdadeiras.
Há referências explícitas (sem caírem na foleirice do pastiche, note-se, o que é notável) a cineastas como Cameron, Cronenberg, Verhoeven, Carpenter e ficamos a pensar que este era o tipo de filmes que eles deviam andar a fazer.
Várias vezes se usa o adjectivo "clássico" para cifrar a suposta qualidade de obras nossas contemporâneas, mas este será um dos raríssimos casos em que essa palavra é a única que serve de classificação: District 9 é um clássico. Em parelha com The Descent, de Neil Marshal, (este título no género do Horror), consiste num filme moderno que é capaz de se transcender e encontrar um lugar perene na memória cinematográfica (como Aliens, The Fly ou Robocop fizeram). É claro que os detractores dos ditos géneros menores continuarão a dizer cobras e lagartos deste género de filmes, mas são eles, mais que os outros, considerados "eruditos", que nos mostram soluções para os nossos problemas e os comentam com uma força e pertinência que não se encontra em mais lado nenhum.
Vão ver District 9, já! Não hesitem nem por um segundo.
É o cinema "a sério" (adulto, violento, inteligente) que está de volta.Jean-Jacques Rousseau, Du Contrat Social: Ou Principes du Droit Politique.
Iniciar um comentário ao filme District 9, de Neil Blomkamp, com um excerto de O Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau, é correctíssimo e depois de verem o filme irão perceber porquê, já que ele pode ser entendido como uma alegoria sobre os terrores do regime sul-africano segregacionista do Apartheid (Blomkamp, que é branco, nasceu na África do Sul e não é inocente a escolha do enredo de District 9 se desenrolar nesse território). Porém, o filme é vasto o suficiente para permitir outras leituras.
Há mais de vinte anos, desde a estreia de Aliens, de James Cameron, que eu não via um filme assim.
District 9 não faz concessões, a não ser a de querer manter as emoções e o intelecto do espectador ao rubro. Não se vislumbram nenhuns momentos de comic relief, nem sidekicks adolescentes, muito menos a montagem frenética - devedora dos videojogos - que, infelizmente, se tornou mandatória naquilo que é suposto ser um blockbuster de acção. Na verdade, a estreia de Blomkamp (29 anos de idade) como realizador parece ter andado a vogar no limbo (como a nave extraterrestre de District 9) durante a segunda metade dos anos oitenta e a década de noventa do século passado para, neste momento, nos cair em cima. E que falta nos fazia!
Há pertinência, poesia e rebeldia em District 9. Das verdadeiras.
Há referências explícitas (sem caírem na foleirice do pastiche, note-se, o que é notável) a cineastas como Cameron, Cronenberg, Verhoeven, Carpenter e ficamos a pensar que este era o tipo de filmes que eles deviam andar a fazer.
Várias vezes se usa o adjectivo "clássico" para cifrar a suposta qualidade de obras nossas contemporâneas, mas este será um dos raríssimos casos em que essa palavra é a única que serve de classificação: District 9 é um clássico. Em parelha com The Descent, de Neil Marshal, (este título no género do Horror), consiste num filme moderno que é capaz de se transcender e encontrar um lugar perene na memória cinematográfica (como Aliens, The Fly ou Robocop fizeram). É claro que os detractores dos ditos géneros menores continuarão a dizer cobras e lagartos deste género de filmes, mas são eles, mais que os outros, considerados "eruditos", que nos mostram soluções para os nossos problemas e os comentam com uma força e pertinência que não se encontra em mais lado nenhum.
Vão ver District 9, já! Não hesitem nem por um segundo.