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Até há poucos dias, este autor era, para mim, um desconhecido, até que um email que me foi enviado por um site onde, normalmente, costumo comprar livros antigos mostrou-me uma lista de recomendações, nas quais figurava a Trilogia de Depford de Davies. A descrição intrigou-me, de imediato, e mandei-a vir. Acabei de ler o primeiro livro da trilogia, intitulado Fifth Business, e fico feliz por revelar que se trata de um livro absolutamente extraordinário.
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Mágico, irónico, inteligente, surpreendente, são palavras que, na ressaca da leitura, me parecem todas ineficazes para evocar os sentimentos que esta obra incitou.
A história tem início na aldeia canadiana de Depford, cadinho em que são formadas as personagens que iremos seguir ao longo de três volumes, cada um concentrado em demonstrar a vida de uma das três personagens que esteve envolvida num bizarro acidente: um miúdo atirou uma bola de neve a outro, mas este esquivou-se e o projéctil atingiu uma mulher grávida, provocando um parto prematuro. O bebé, nascido quatro meses antes do tempo, sobreviveu e, passados uns anos, tornou-se um famoso ilusionista. O miúdo que atirou a bola escamoteou a culpa da memória e transformou-se num riquíssimo homem de negócios. O labéu caiu, pois, no colo daquele que se esquivou. Roído pelas dúvidas e pelos remorsos, a personagem principal de Fifth Business, o professor universitário e hagiógrafo extraordinário Dunstan Ramsay, vai tornar-se o protector da mulher lesada, ao mesmo tempo que vê nela uma espécie de santa. Será que é mesmo?
O título Fifth Business alude à designação dramatúrgica pela qual são chamadas as personagens que estão ao serviço da fluidez narrativa de uma peça teatral: não são as principais, nem as secundárias, quanto muito podem chamar-se as de "quinta categoria". Ou seja, no pequeno drama que consiste o incidente da bola de neve, Ramsay vê-se como uma personagem de quinta categoria: alguém essencial ao desenvolvimento dos acontecimentos, sem dúvida, mas que se encontra à margem dessas minuciosidades. Será que é assim? Será que a leitura que a personagem faz de si própria corresponde à realidade? E, se não corresponde, porque é que ela pensa dessa forma?
O título Fifth Business alude à designação dramatúrgica pela qual são chamadas as personagens que estão ao serviço da fluidez narrativa de uma peça teatral: não são as principais, nem as secundárias, quanto muito podem chamar-se as de "quinta categoria". Ou seja, no pequeno drama que consiste o incidente da bola de neve, Ramsay vê-se como uma personagem de quinta categoria: alguém essencial ao desenvolvimento dos acontecimentos, sem dúvida, mas que se encontra à margem dessas minuciosidades. Será que é assim? Será que a leitura que a personagem faz de si própria corresponde à realidade? E, se não corresponde, porque é que ela pensa dessa forma?
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Não se trata de um romance de literatura fantástica, mas o tom e os acontecimentos aproximam-no com elegância desse género, deixando magia nas pontas dos dedos, mais ou menos parecida com o pó das asas de uma borboleta. É um livro bom que se farta. É um livro como já não se fazem. É, de certeza, "aquele" livro que vocês querem ler.
M-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o-!
(Assim que tiver lido os volumes seguintes da trilogia irei escrever sobre eles.)