domingo, 27 de setembro de 2009

O processo

O realizador de cinema Roman Polanski foi detido na Suíça e aguarda a extradição para os EU, por culpa de um mandato de captura emitido, em 1978, no decurso de um processo em que foi acusado de violação de uma menor. A história deste processo não consiste em nenhuma novidade para quem se interessa por cinema, e pelo cinema de Polanski, em particular, mas talvez nenhum cinéfilo esperasse que ele fosse, finalmente, capturado, passados todos estes anos.
Aparentemente, a partir de agora, vai passar o resto da vida dele na prisão.

Não vou discorrer sobre se Polanski merece (ainda) ser castigado ou não por esse suposto crime que cometeu, há mais de trinta anos, e cujas circunstâncias se encontram documentadas em diversas fontes disponíveis - de modo que qualquer interessado na matéria pode informar-se e formular a sua própria opinião. Talvez ele mereça ser preso, talvez não: avaliar isso compete a quem de direito, claro está. Mas se não tenho opinião sobre isso, tenho uma opinião sobre outra coisa.

Polanski é um artista. Deixou-nos obras belíssimas que, de certeza absoluta, serviram de inspiração a centenas de pessoas e a outros artistas. Mais que isso, sempre foi um realizador que desbravou caminho com os seus filmes, mostrando que fazer cinema podia e deveria ser um exercício pertinente de imagem e linguagem. Estamos a falar do homem que realizou The Fearless Vampire Killers, Repulsion, Rosemary's Baby, Tess, The Pianist, The Ninth Gate, Pirates, entre tantos outros. Portanto, a minha primeira pergunta é a seguinte: o nosso mundo não seria um pouco mais pobre sem estes filmes? E sem aqueles que Polanski ainda poderia realizar, daqui em diante? Teria valido a pena deter Polanski, em 1978, sabendo que, dessa forma, ele nunca nos poderia ter dado The Pianist, por exemplo, um filme que, provavelmente, contribuiu mais para criar um mundo justo e com melhor memória que qualquer pena de morte ou de prisão perpétua já sentenciadas?

Eu não sei se Polanski merece ser preso (ainda) ou não.
Só sei é que o mundo é um lugar melhor com ele cá fora. Disso, tenho a certeza.