Aquilo que é desculpável no decurso de uma conversa não é tolerável num texto. Poucas coisas são tão denunciadoras da falta de talento de um escritor como a coloquialidade.
2- Aprender a gramática.
É melhor aprendê-la que fingir que a ignorância é um estilo de escrita arrojado. A gramática é como as leis da física: não é negociável. O que significa que um texto que a descure é, na maioria das vezes, ilegível. Quando alguém diz que a gramática não é importante, esse alguém não sabe escrever.
3- Apesar de aprender a gramática, escrever como um escritor e não como um linguista.
Os linguistas odeiam literatura, porque a literatura porta-se mal. Na maioria das vezes, eles têm razão, mas isso não deve consistir num obstáculo à imaginação - que é aquilo de que se ocupa (ou deveria ocupar-se) a literatura. Livros como Finnegans Wake, A Clockwork Orange ou Riddley Walker são anátemas para os linguistas, mas sem esses títulos a cultura ocidental seria muitíssimo mais pobre. Todavia, não pensem, nem por um segundo, que Joyce, Burgess e Hoban não aprenderam gramática (dica número 2).
4- Escrever um livro e não um guião de cinema.
Nas listas de conselhos para aspirantes a escritores não é novidade encontrar a dica da economia de descrições, mas que tipo de descrições, ao fim e ao cabo, devem ser económicas? Eu acho que o leitor não precisa de saber a cor dos olhos de todas as personagens do livro, ou outros detalhes da mesma ordem, mas os ambientes e os estados de espírito dos protagonistas devem ser descritos com requinte. Afinal de contas, o leitor comprou um livro e não um guião de cinema, por isso não escrevam livros como se eles fossem guiões de cinema (vulgo, colecções de diálogos intercalados com acção). Infelizmente, a literatura dita de género é fartíssima em exemplos dessa natureza, o que afasta leitores experimentados em outros tipos de literatura, mais ricos em discurso indirecto. É aqui que reside, também, um erro de percepção de leitores menos experientes: é que ser empolgante apenas significa ser empolgante, não significa ser bem escrito. Sejam exigentes.
5- Ser erudito.
Sejam inteligentes a escrever.
Escrevam livros inteligentes e não tratem os leitores como se eles fossem parvos.
Não se pode saber tudo, mas pode-se tentar. Procurem estar sempre bem informados e actualizados sobre tudo. Tentem saber o máximo que conseguirem do assunto sobre o qual querem escrever. Invistam em livros e leiam todos os dias. Não há nada mais triste do que um escritor que não é erudito.
6- Ler os clássicos.
Os clássicos da literatura são a fonte de tudo o que se escreve, realiza e encena. Conheçam-nos bem e percebam de que maneiras é que ainda reverberam no presente e de que formas é que o vosso trabalho comunica com eles. Não me refiro, somente, à ficção, mas também aos clássicos da filosofia, da história, da teoria da arte. Não há nada mais triste do que um livro sem raízes: é ainda mais triste do que um escritor que não é erudito.
7- Ler os melhores autores que escrevem no género de literatura em que se quer singrar.
É essencial ler o que de melhor se escreve na área em que se quer fazer uma carreira (ignorem o pior, porque é uma perda de tempo). Não só nos obriga a questionar o que é que temos para oferecer que seja melhor que aquilo que estamos a ler, como nos faz evitar repetir ideias que já foram publicadas. Ler as melhores referências e conhecer bem a história do género literário em que se quer nidificar é tão vital para um escritor como o hidrogénio é vital para a tabela periódica e eu desconfio dos autores ou aspirantes a autores que desconhecem ou não mostram interesse nenhum em descobrir o que já foi escrito. Isto também se relaciona com a dica número 5.
8- Ser perseverante.
Qualquer um é capaz de começar a escrever um livro, mas terminá-lo é outra história. Escrever bem dá muito trabalho: por isso é que tantos desistem. Sejam perseverantes: não percam tempo com coisas inúteis. Se não têm tempo para escrever todos os dias, por motivos profissionais (ou outros), escolham um dia do fim de semana para passá-lo a escrever e não deixem que nada interfira com essa escolha.
9- Sacrificar-se.
É, somente, uma progressão da dica número 8. Não se pode ter o glamour que uma profissão artística, como a de escritor, traz, sem se ter, também, as horas invisíveis de trabalho árduo e sacrifício. Ser escritor é uma actividade solitária. Não desperdicem em actividades inúteis as horas que poderiam devotar à leitura e à aprendizagem. Fiquem em casa a escrever, porque os livros não se escrevem sozinhos. Tenham o objectivo de ser os melhores naquilo que fazem, senão não vale a pena.
10- Ser sério.
O humor tornou-se uma espécie de língua franca (e um refúgio) que permeia todas as áreas da vida, inclusive as artísticas, mas as consequências disso é que tudo passa a ter uma importância relativa, mesmo aquilo que é verdadeiramente importante. Atrevam-se a ser sérios.
2- Aprender a gramática.
É melhor aprendê-la que fingir que a ignorância é um estilo de escrita arrojado. A gramática é como as leis da física: não é negociável. O que significa que um texto que a descure é, na maioria das vezes, ilegível. Quando alguém diz que a gramática não é importante, esse alguém não sabe escrever.
3- Apesar de aprender a gramática, escrever como um escritor e não como um linguista.
Os linguistas odeiam literatura, porque a literatura porta-se mal. Na maioria das vezes, eles têm razão, mas isso não deve consistir num obstáculo à imaginação - que é aquilo de que se ocupa (ou deveria ocupar-se) a literatura. Livros como Finnegans Wake, A Clockwork Orange ou Riddley Walker são anátemas para os linguistas, mas sem esses títulos a cultura ocidental seria muitíssimo mais pobre. Todavia, não pensem, nem por um segundo, que Joyce, Burgess e Hoban não aprenderam gramática (dica número 2).
4- Escrever um livro e não um guião de cinema.
Nas listas de conselhos para aspirantes a escritores não é novidade encontrar a dica da economia de descrições, mas que tipo de descrições, ao fim e ao cabo, devem ser económicas? Eu acho que o leitor não precisa de saber a cor dos olhos de todas as personagens do livro, ou outros detalhes da mesma ordem, mas os ambientes e os estados de espírito dos protagonistas devem ser descritos com requinte. Afinal de contas, o leitor comprou um livro e não um guião de cinema, por isso não escrevam livros como se eles fossem guiões de cinema (vulgo, colecções de diálogos intercalados com acção). Infelizmente, a literatura dita de género é fartíssima em exemplos dessa natureza, o que afasta leitores experimentados em outros tipos de literatura, mais ricos em discurso indirecto. É aqui que reside, também, um erro de percepção de leitores menos experientes: é que ser empolgante apenas significa ser empolgante, não significa ser bem escrito. Sejam exigentes.
5- Ser erudito.
Sejam inteligentes a escrever.
Escrevam livros inteligentes e não tratem os leitores como se eles fossem parvos.
Não se pode saber tudo, mas pode-se tentar. Procurem estar sempre bem informados e actualizados sobre tudo. Tentem saber o máximo que conseguirem do assunto sobre o qual querem escrever. Invistam em livros e leiam todos os dias. Não há nada mais triste do que um escritor que não é erudito.
6- Ler os clássicos.
Os clássicos da literatura são a fonte de tudo o que se escreve, realiza e encena. Conheçam-nos bem e percebam de que maneiras é que ainda reverberam no presente e de que formas é que o vosso trabalho comunica com eles. Não me refiro, somente, à ficção, mas também aos clássicos da filosofia, da história, da teoria da arte. Não há nada mais triste do que um livro sem raízes: é ainda mais triste do que um escritor que não é erudito.
7- Ler os melhores autores que escrevem no género de literatura em que se quer singrar.
É essencial ler o que de melhor se escreve na área em que se quer fazer uma carreira (ignorem o pior, porque é uma perda de tempo). Não só nos obriga a questionar o que é que temos para oferecer que seja melhor que aquilo que estamos a ler, como nos faz evitar repetir ideias que já foram publicadas. Ler as melhores referências e conhecer bem a história do género literário em que se quer nidificar é tão vital para um escritor como o hidrogénio é vital para a tabela periódica e eu desconfio dos autores ou aspirantes a autores que desconhecem ou não mostram interesse nenhum em descobrir o que já foi escrito. Isto também se relaciona com a dica número 5.
8- Ser perseverante.
Qualquer um é capaz de começar a escrever um livro, mas terminá-lo é outra história. Escrever bem dá muito trabalho: por isso é que tantos desistem. Sejam perseverantes: não percam tempo com coisas inúteis. Se não têm tempo para escrever todos os dias, por motivos profissionais (ou outros), escolham um dia do fim de semana para passá-lo a escrever e não deixem que nada interfira com essa escolha.
9- Sacrificar-se.
É, somente, uma progressão da dica número 8. Não se pode ter o glamour que uma profissão artística, como a de escritor, traz, sem se ter, também, as horas invisíveis de trabalho árduo e sacrifício. Ser escritor é uma actividade solitária. Não desperdicem em actividades inúteis as horas que poderiam devotar à leitura e à aprendizagem. Fiquem em casa a escrever, porque os livros não se escrevem sozinhos. Tenham o objectivo de ser os melhores naquilo que fazem, senão não vale a pena.
10- Ser sério.
O humor tornou-se uma espécie de língua franca (e um refúgio) que permeia todas as áreas da vida, inclusive as artísticas, mas as consequências disso é que tudo passa a ter uma importância relativa, mesmo aquilo que é verdadeiramente importante. Atrevam-se a ser sérios.