Estreou ontem A Melhor Oferta, de Giuseppe
Tornatore, realizador de, entre outros filmes, Cinema Paraíso. Com
Geoffrey Rush e Donald Sutherland, dois dos meus actores preferidos, que
aqui, longe da pipoquice hollywoodiana em que pontualmente
participam, compõem duas grandes personagens, plenas de intrigantes
subtilezas, devedoras de teatro da melhor cepa. A Melhor Oferta é um
grande filme, artístico e alegórico, cujo argumento me fez lembrar
algumas inclinações temáticas dos escritores Jerome Charyn e Gerard Reve
(mas sem a tónica homossexual deste). Não estamos, exactamente, no
campo do chamado "realismo mágico", nem da simples alegoria, mas num
mundo ficcional muito parecido com o nosso, embora permeável a elementos
que, em outro contexto e apresentados com outro peso, se poderiam
denominar como sendo pertencentes ao Fantástico. É, também, um filme que
beneficiaria de um olhar mais gélido, mais negro, porque, com efeito, é
desse território que estamos a falar. Tornatore é, ainda assim, e
apesar da sua finura de esteta, capaz de criar-nos angústia: o seu filme
é, pois, como um quadro tenebroso, pintado à moda clássica -
impressiona pela riqueza de detalhe e pelo elevado grau de perfeição,
mas não horripila, verdadeiramente. Um dos melhores filmes que poderão
ver, nestes dias, em exibição - e, já, um dos melhores deste ano.