sexta-feira, 18 de maio de 2018

Ri(c)tos fúnebres

 
A lugente música que Hans Zimmer compôs para a cena em que a personagem Joker mostra o rosto pela primeira vez no filme The Dark Knight, de Christopher Nolan, é idêntica, em notas e lugubridade, à monódia que, feculente, se espalha nos primeiros instantes do intróito do Requiem de Gabriel Fauré: uma toada totalitária que aterroriza e desautoriza, deixando o ouvinte despido de defesas durante a duração da peça.

Que o intróito de Fauré e o musical cartão de visita de Joker são idênticos, disso não guardo dúvidas, mas poderá ser plausível a especulação que Zimmer terá querido dizer que Joker, de rosto rasgado num acromânico ricto, é uma espécie de tubarão? Avanço com esta hipótese baseando-me na fisionomia da personagem, alva como o abdómen dos tubarões - e de mimética bocarra sanguífera. Aliás, como Herman Melville manifestou no romance Moby-Dick, a palavra em latim eclesiástico do século XIV, requiem, com o significado de missa pelos mortos, poderá ser o étimo da palavra francesa para tubarão: requin; cuja grafia antiga contemplava a forma requien.