A Itália é a mãe material e espiritual da Europa.
Foi a partir
da Itália que a Europa se desembrulhou, de blástula helenizante para
infante império sob égide romana, capilarizando toda uma cultura e uma
civilização — cuja matriz ainda nos marca, tal a sua força telúrica e
moral. Foi, também, da Itália que a partir do século XIV se operou
vitoriante um rejuvenescimento civilizacional que imprimiu novos rumos a
uma Europa aleijada pela Peste Negra e por outras calamidades: no dealbar
do Renascimento, nenhum outro reino ou entidade política europeia se
podia sequer comparar à enorme sofisticação da cultura, da arte e do
pensamento italianos — um caveat para alguns políticos setentrionais
contemporâneos que têm o péssimo vício de falar com displicência dos
países do sul.
Da Itália
proveio toda uma linhagem de pensamento sem a qual a sociedade hodierna
viveria no bisonho casebre da rudeza mental. Reconhecendo a dívida que
temos para com a nossa mãe europeia, publico aqui a cabeça de um velho
feita em terracota nos últimos anos do século XV pelo artista
renascentista Guido Mazzoni: na sua sulcada expressão cada ruga
produzida por diferentes anos de vida podia fazer parte de um mapa do
sofrimento que sentiram os milhares de mortos italianos, vítimas da
covid-19 — a maioria (ainda) idosos e doentes.
Assim, mais do que arengas de pseudo-solidariedade oriundas das várias cores do espectro político, prefiro olhar para o rosto deste velho e ler nele pistas históricas e transcendentes: políticas e ideologias vêm e vão, tão fátuas e fúteis como o estrume com que se tenta adubar um sáfaro solo — aquilo que de facto importa é inatingível, invisível e interior. Está dentro de nós, nunca desaparecerá e não duvido que nesse incerto futuro que nos aguarda o contributo italiano continuará a ser enriquecedor, incisivo e belo.
Assim, mais do que arengas de pseudo-solidariedade oriundas das várias cores do espectro político, prefiro olhar para o rosto deste velho e ler nele pistas históricas e transcendentes: políticas e ideologias vêm e vão, tão fátuas e fúteis como o estrume com que se tenta adubar um sáfaro solo — aquilo que de facto importa é inatingível, invisível e interior. Está dentro de nós, nunca desaparecerá e não duvido que nesse incerto futuro que nos aguarda o contributo italiano continuará a ser enriquecedor, incisivo e belo.