Estive há poucas horas na Praça de Luís de Camões, em Lisboa, para assistir à chuva de cravos que consistiu uma das partes integrantes do programa municipal de comemorações alusivas ao trigésimo quinto aniversário do feriado nacional 25 de Abril. Foi muito curioso ver como os indivíduos puseram de lado, por breves momentos, o vulgar cinismo cosmopolita para se deixarem deslumbrar por algo, em simultâneo, tão simples, mas tão forte. Eu gostei. Foi uma boa ideia.
Outro tipo de cravos são as flores vermelhas das plantas carnívoras que medram à barba longa pelos fotogramas do filme The Ruins, de Carter Smith, a adaptação cinematográfica do romance homónimo de horror escrito por Scott B. Smith, no qual um grupo de jovens se vê no meio de um jardim dos prazeres às avessas, embrenhado na selva da América Central. Eu vi, ontem à noite, e gostei: está bem-feito, realizado com um inesperado sentido de economia, e a fotografia lembrou-me os velhinhos filmes italianos de canibais que fizeram as minhas delícias, e as de muita boa gente, nas tardes em que não se fazia mais nada depois das aulas a não ser ver os filmes chungas de terror alugados no clube de vídeo. Muitas piroseiras vi nesses dias de adolescência, mas The Ruins, felizmente, não tem nada de piroso: é jeitoso e vale a pena o preço do bilhete. O final funcionaria melhor se a última cena tivesse sido inserida após os creditos finais e não no epílogo, mas isso são outros quinhentos... Enfloramentos.