Não, não é a peça de Hélder Prista Monteiro, mas um conto de Richard Matheson que intitula esta antologia de contos de horror, publicada este mês pela Saída de Emergência. A Caixa é, pois, um compêndio de alguma da melhor ficção curta do autor norte-americano Richard Matheson, escolhida e traduzida por mim.
Mais conhecido do público português pelos argumentos que escreveu para séries de televisão (como The Twilight Zone, por exemplo), Matheson também é o autor do romance I Am Legend, já editado pela Saída de Emergência.
A prosa de Matheson é propositadamente minimalista. A minha ideia é que ela consiste numa estratégia de diferenciação dos estilos mais carregados de escrever horror, popularizados por autores como Lovecraft, e, com este conhecimento em mente, é fácil perceber o modo como Matheson nos quer pôr a pensar. Ele não é um grande estilista, é preciso ser sincero, mas é um eficaz inseminador de ideias, de conceitos.
Quem não sentiu ansiedade ao vislumbrar pelo espelho retrovisor o enigmático camião de Duel, de Steven Spielberg, a assomar ao fundo da estrada? A culpa é de Matheson, argumentista do filme e autor do conto original que serviu de base ao seu argumento.
Quem não sente ainda calafrios ao lembrar-se da famosa história sobre o passageiro de avião, interpretado por William Shatner, que, num seminal episódio da série The Twilight Zone, se apercebe em absoluto desespero que é o único capaz de ver um monstro que tenta arrancar a fuselagem da asa do avião, em pleno voo? Esta história também se encontra em A Caixa.
Com efeito, o horror de Matheson é sempre cosmopolita - um horror suburbano, doméstico, familiar, muito cá de casa - e os elementos "exóticos" (como a viagem de avião ou a presença de um boneco tribal) não deixam de ser absorvidos por esse sentimento de domesticidade, tornando-se até "hiper-domésticos", no sentido braudrillardiano de "mais domésticos que o doméstico real". Um exemplo perfeito, e desconcertante, dessa premissa é o conto Fúria Íntima, que quase faz lembrar uma peça de teatro do absurdo, ao melhor estilo de Ionesco.
Esse é o maior valor das histórias de Matheson: sendo tão "despojadas" é espantoso que não tenham espaço para o supérfluo, para o artificial.
Esta A Caixa pode não ser a homónima e vanguardista peça de teatro do absurdo escrita por Monteiro, mas é uma antologia de contos em que o burlesco, o absurdo e o horror do quotidiano se mesclam num estilo seco que nos cai no colo sem decorações - sem, lá está, ersatzes.
Mais conhecido do público português pelos argumentos que escreveu para séries de televisão (como The Twilight Zone, por exemplo), Matheson também é o autor do romance I Am Legend, já editado pela Saída de Emergência.
A prosa de Matheson é propositadamente minimalista. A minha ideia é que ela consiste numa estratégia de diferenciação dos estilos mais carregados de escrever horror, popularizados por autores como Lovecraft, e, com este conhecimento em mente, é fácil perceber o modo como Matheson nos quer pôr a pensar. Ele não é um grande estilista, é preciso ser sincero, mas é um eficaz inseminador de ideias, de conceitos.
Quem não sentiu ansiedade ao vislumbrar pelo espelho retrovisor o enigmático camião de Duel, de Steven Spielberg, a assomar ao fundo da estrada? A culpa é de Matheson, argumentista do filme e autor do conto original que serviu de base ao seu argumento.
Quem não sente ainda calafrios ao lembrar-se da famosa história sobre o passageiro de avião, interpretado por William Shatner, que, num seminal episódio da série The Twilight Zone, se apercebe em absoluto desespero que é o único capaz de ver um monstro que tenta arrancar a fuselagem da asa do avião, em pleno voo? Esta história também se encontra em A Caixa.
Com efeito, o horror de Matheson é sempre cosmopolita - um horror suburbano, doméstico, familiar, muito cá de casa - e os elementos "exóticos" (como a viagem de avião ou a presença de um boneco tribal) não deixam de ser absorvidos por esse sentimento de domesticidade, tornando-se até "hiper-domésticos", no sentido braudrillardiano de "mais domésticos que o doméstico real". Um exemplo perfeito, e desconcertante, dessa premissa é o conto Fúria Íntima, que quase faz lembrar uma peça de teatro do absurdo, ao melhor estilo de Ionesco.
Esse é o maior valor das histórias de Matheson: sendo tão "despojadas" é espantoso que não tenham espaço para o supérfluo, para o artificial.
Esta A Caixa pode não ser a homónima e vanguardista peça de teatro do absurdo escrita por Monteiro, mas é uma antologia de contos em que o burlesco, o absurdo e o horror do quotidiano se mesclam num estilo seco que nos cai no colo sem decorações - sem, lá está, ersatzes.