O novo trabalho escrito por David Soares, com desenhos de Pedro Serpa, O Pequeno Deus Cego (Kingpin Books), assenta numa metafórica e fliosófica abordagem, para criar uma história de crime e castigo.
Aquela a quem chamam Papa-Moscas, uma menina sem olhos que afinal não nasceu menina («a culpa é de Wang, o castrador», anuncia-lhe o Velho, quando com ela se cruza pela primeira vez), serve de sacrifício às intenções da mãe. Estamos numa China muito antiga...
Até que acaba por conhecer Wang, monstro alocado numa caverna. Não o teme porque não vê. Não o respeita porque não o teme. Acaba por ser incómodo para tão terrível criatura, pouco habituada a ser menosprezada: «conhecer-te foi confuso e assustador e eu não gosto do modo como me estou a sentir».
A ira de um monstro encurralado nas suas próprias dúvidas («E se tu fores Deus, caganita? Um deus cego que criou o universo e encolheu os ombros? Isso não faz de ti o maior dos irresponsáveis? O maior dos criminosos?») é tão terrível como a de um que sabe porque é mau. Ou mais ainda.
O retorno a quem semeou maldade acaba por selar esta história (com habituais componentes de David Soares, incluíndo a presença do sexo), traçada de forma clara, onde a violência (nas imagens com a Mãe) e o simbolismo (nos diálogos com o Velho, ou mesmo com o monstro) se conjugam de forma eficaz.
(João Morales, Os Meus Livros. Dezembro, 2011)
Aquela a quem chamam Papa-Moscas, uma menina sem olhos que afinal não nasceu menina («a culpa é de Wang, o castrador», anuncia-lhe o Velho, quando com ela se cruza pela primeira vez), serve de sacrifício às intenções da mãe. Estamos numa China muito antiga...
Até que acaba por conhecer Wang, monstro alocado numa caverna. Não o teme porque não vê. Não o respeita porque não o teme. Acaba por ser incómodo para tão terrível criatura, pouco habituada a ser menosprezada: «conhecer-te foi confuso e assustador e eu não gosto do modo como me estou a sentir».
A ira de um monstro encurralado nas suas próprias dúvidas («E se tu fores Deus, caganita? Um deus cego que criou o universo e encolheu os ombros? Isso não faz de ti o maior dos irresponsáveis? O maior dos criminosos?») é tão terrível como a de um que sabe porque é mau. Ou mais ainda.
O retorno a quem semeou maldade acaba por selar esta história (com habituais componentes de David Soares, incluíndo a presença do sexo), traçada de forma clara, onde a violência (nas imagens com a Mãe) e o simbolismo (nos diálogos com o Velho, ou mesmo com o monstro) se conjugam de forma eficaz.
(João Morales, Os Meus Livros. Dezembro, 2011)