segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O triunfo da treta: história verídica


Haverá poema mais profético que The Triumph of Bullshit, escrito por T. S. Eliot? Profético na sua antevisão da desconsideração do intelecto em valimento da treta (da bullshit)? Como observou Harry Frankfurt em On Bullshit, os treteiros não se preocupam com a verdade, mas, somente em, entre aspas, "marcar pontos". Preocupam-se com a aparência do conhecimento, em mimetizar aquilo que pensam ser o conhecimento - e, muitas vezes, nem isso se encontra nos seus horizontes, tão limitados que estes são.

Como provou Otto von Guericke, no século XVII, através da sua luminosa experiência com os dois hemisférios de Madgeburgo (sobre os quais também escrevi nesta ligação), o vácuo - o vazio, lá está! - tem uma força extraordinária. Ainda hoje tem - o que é verdadeiramente espantoso: o vazio de inteligência, de carácter, de genialidade, tem uma força tremenda. Este, sim, é que é o verdadeiro "vazio lipovetskiano" no qual, infelizmente, se vive: é a era do vazio, pois é, mas de vazio de ideias, de intelecto, de valor. Existe por aí gente de muitíssima má qualidade: gente que não é sequer qualificada o suficiente para dar lustro ao chão pisado por aqueles a quem nunca haverão de chegar aos calcanhares. Cabe, pois, a quem tem horror ao vazio ter tolerância zero para com a treta e os treteiros.