Hoje, Dia dos Namorados, lembrei-me de uma das
mais belas histórias de amor que conheço - talvez seja, de facto, a
mais bela. O conto O Homem de Neve, escrito por Hans Christian
Andersen, em 1861. A melancolia profunda dos textos mais tristes de
Andersen emociona-me muitíssimo e coloca-me numa encruzilhada de
saudade, entre a infância e a idade adulta. Em 1866, Andersen visitou
Portugal e em Julho ficou hospedado na Quinta dos Bonecos (tão adequado
que isto é), em Setúbal, propriedade da
família O'Neill; no diário que escreveu, queixa-se do calor intenso, mas
ao mesmo tempo descreve, com enlevo amoroso, a paisagem portuguesa que
tanto o encanta. Tal como o Homem de Neve da história belíssima que
escreveu cinco anos antes, sente-se, em simultâneo, atraído e magoado
por essa estranha energia que é o calor. Visita, ainda em Setúbal, o
Convento de Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes, construído num lugar
recheado de história desde os tempos pré-históricos, e que, entre 1998 e
2007, foi vergonhosamente - escandalosamente - transformado numa
prisão. Eu acho que isto dá muito que pensar, em principal neste dia,
dedicado ao amor, sentimento libertador por natureza.