No Dia dos Namorados, e não só, há quem goste
de namorar com as namoradas e os namorados dos outros. Em linguagem
popular, chama-se a isso o "encornanço": ou seja, o acto de "pôr
cornos".
Hei de falar com mais detalhe sobre esta simbologia fascinante - como é que os cornos se tornaram o símbolo da vítima de adultério -, mas, para já, e porque se relaciona com mais facilidade com este dia, prefiro chamar a atenção para o facto interessantíssimo de que ser-se "corno" e não fazer nada em relação a isso já foi considerado crime. Mais uma vez, a linguagem popular não perdoa: o indivíduo nesta condição é o chamado "corno manso" - em suma, aquele que sabe que é "encornado", mas que, por variadas razões, não se importa de sê-lo. Há uns séculos, chamavam-lhe o "corno paciente" - daí o conhecido pregão "paciência de corno" que ainda hoje pode ser ouvido das bocas dos mais velhos.
Em resumo, quando o indivíduo não se importava de ser "corno" (quando era "corno paciente"), a própria sociedade encarregava-se de fazer justiça por ele; neste caso, "o corno paciente" bem a dispensava, porque ela consistia em pôr-lhe uns cornos folclóricos, feitos com duas grandes galhadas, amarrados com badalos. Neste feitio, era obrigado a percorrer as ruas da cidade ou da aldeia, ao mesmo tempo que era fustigado por um oficial de justiça. Quanto à adúltera, o castigo era o seguinte: sentavam-na em outro burro, no qual seguia junto do marido, despida da cintura para cima e coberta de estrume para atrair as moscas.
O delito de "corno paciente" é um exemplo da justiça de outrora, que, ao mesmo tempo que punia os prevaricadores e restabelecia a ordem pública, tinha o condão de servir de entretenimento e cola social. Para ilustrar esta observação escolhi um desenho do artista flamengo Joris Hoefnagel, que serve de frontispício à entrada sobre Sevilha no atlas quinhentista sobre as cidades do mundo Civitates Orbis Terrarum, de Frans Hogenberg e Georg Braun (Colónia, 1598). Pode ver-se o "corno paciente" montado no jumento, a ser chibatado, assim como, à sua frente, a esposa coberta de excrementos e envolta numa nuvem de moscas.
Hei de falar com mais detalhe sobre esta simbologia fascinante - como é que os cornos se tornaram o símbolo da vítima de adultério -, mas, para já, e porque se relaciona com mais facilidade com este dia, prefiro chamar a atenção para o facto interessantíssimo de que ser-se "corno" e não fazer nada em relação a isso já foi considerado crime. Mais uma vez, a linguagem popular não perdoa: o indivíduo nesta condição é o chamado "corno manso" - em suma, aquele que sabe que é "encornado", mas que, por variadas razões, não se importa de sê-lo. Há uns séculos, chamavam-lhe o "corno paciente" - daí o conhecido pregão "paciência de corno" que ainda hoje pode ser ouvido das bocas dos mais velhos.
Em resumo, quando o indivíduo não se importava de ser "corno" (quando era "corno paciente"), a própria sociedade encarregava-se de fazer justiça por ele; neste caso, "o corno paciente" bem a dispensava, porque ela consistia em pôr-lhe uns cornos folclóricos, feitos com duas grandes galhadas, amarrados com badalos. Neste feitio, era obrigado a percorrer as ruas da cidade ou da aldeia, ao mesmo tempo que era fustigado por um oficial de justiça. Quanto à adúltera, o castigo era o seguinte: sentavam-na em outro burro, no qual seguia junto do marido, despida da cintura para cima e coberta de estrume para atrair as moscas.
O delito de "corno paciente" é um exemplo da justiça de outrora, que, ao mesmo tempo que punia os prevaricadores e restabelecia a ordem pública, tinha o condão de servir de entretenimento e cola social. Para ilustrar esta observação escolhi um desenho do artista flamengo Joris Hoefnagel, que serve de frontispício à entrada sobre Sevilha no atlas quinhentista sobre as cidades do mundo Civitates Orbis Terrarum, de Frans Hogenberg e Georg Braun (Colónia, 1598). Pode ver-se o "corno paciente" montado no jumento, a ser chibatado, assim como, à sua frente, a esposa coberta de excrementos e envolta numa nuvem de moscas.