Não há outra forma de dizê-lo e tentá-lo seria, ao mesmo tempo, uma hipocrisia e uma perda de tempo: este texto que o The New York Times publicou sobre Lisboa é uma bela bodega.
Aqui, pode ler-se a apologia de uma espécie de turismo rural olisiponense, no qual a cidade, longe de possuir uma história antiquíssima (Lisboa foi fundada em 1200 a.C.) que urge descobrir, irrompe como uma simples e simpática aldeiazinha alcandorada ao Tejo, que convida o turista - cansado da história e da cultura que encontra em outras cidades europeias mais interessantes - ao ócio desmiolado, em restaurantes e ostarias hipster que, ainda por cima, como Portugal atravessa uma crise economico-financeira, são muito mais baratos que os das restantes capitais. Ena, pá! Sobretudo, nesta visão miserabilista sobre Lisboa, a cidade é minúscula: adstrita ao Parque Eduardo VII - onde pululam cachorros amestrados (tão giro que isto é) -, às ruas da Baixa - onde pululam serventes amestrados (tão prático que isto é) - e à colina do Castelo - onde pulula a parenética amestrada sobre o território (tão conceptual que isto é) - , como se o resto não existisse. Aos olhos de Frank Bruni, antigo crítico de restauração do The New York Times, Lisboa é um diorama sem delínquio, simplesmente porque não exige nada ao visitante: segundo o cronista, não tem locais de relevo para visitar, não tem museus, não tem sítios com interesse artístico e histórico, não tem nada a não ser dois restaurantes do caraças e meia-dúzia de hotéis super-chiques (onde também pululam os serventes amestrados). O Rei Midas iria gostar da talha dourada da Igreja de São Miguel, escreve Bruni: aqui já se está no campo da alta literatura, pelos vistos. É comovente, assim como comove a abulia que, segundo Bruni, é o trunfo de Lisboa.
Lisboa é descrita como sendo o castelo da Fera do filme de animação Beauty and the Beast, dos estúdios Disney, durante o segmento musical «Be Our Guest»; é tão fácil imaginar o cronista sentado à sossega, ao entardecer, numa das esplanadas in dos hóteis que cita no artigo, enquanto a fauna mágica da criadagem lisboeta se desunha para o deslumbrar com as suas qualidades subservientes: «be our guest, be our guest, put our service to the test, tie your napkin round your neck, cherie, and we provide the rest». Eu acho isto digno de dó. Aliás, vou reformular o que escrevi no primeiro parágrafo: o artigo não é uma bela bodega. É uma grande merda.
Aqui, pode ler-se a apologia de uma espécie de turismo rural olisiponense, no qual a cidade, longe de possuir uma história antiquíssima (Lisboa foi fundada em 1200 a.C.) que urge descobrir, irrompe como uma simples e simpática aldeiazinha alcandorada ao Tejo, que convida o turista - cansado da história e da cultura que encontra em outras cidades europeias mais interessantes - ao ócio desmiolado, em restaurantes e ostarias hipster que, ainda por cima, como Portugal atravessa uma crise economico-financeira, são muito mais baratos que os das restantes capitais. Ena, pá! Sobretudo, nesta visão miserabilista sobre Lisboa, a cidade é minúscula: adstrita ao Parque Eduardo VII - onde pululam cachorros amestrados (tão giro que isto é) -, às ruas da Baixa - onde pululam serventes amestrados (tão prático que isto é) - e à colina do Castelo - onde pulula a parenética amestrada sobre o território (tão conceptual que isto é) - , como se o resto não existisse. Aos olhos de Frank Bruni, antigo crítico de restauração do The New York Times, Lisboa é um diorama sem delínquio, simplesmente porque não exige nada ao visitante: segundo o cronista, não tem locais de relevo para visitar, não tem museus, não tem sítios com interesse artístico e histórico, não tem nada a não ser dois restaurantes do caraças e meia-dúzia de hotéis super-chiques (onde também pululam os serventes amestrados). O Rei Midas iria gostar da talha dourada da Igreja de São Miguel, escreve Bruni: aqui já se está no campo da alta literatura, pelos vistos. É comovente, assim como comove a abulia que, segundo Bruni, é o trunfo de Lisboa.
Lisboa é descrita como sendo o castelo da Fera do filme de animação Beauty and the Beast, dos estúdios Disney, durante o segmento musical «Be Our Guest»; é tão fácil imaginar o cronista sentado à sossega, ao entardecer, numa das esplanadas in dos hóteis que cita no artigo, enquanto a fauna mágica da criadagem lisboeta se desunha para o deslumbrar com as suas qualidades subservientes: «be our guest, be our guest, put our service to the test, tie your napkin round your neck, cherie, and we provide the rest». Eu acho isto digno de dó. Aliás, vou reformular o que escrevi no primeiro parágrafo: o artigo não é uma bela bodega. É uma grande merda.
E aqui está, como complemento, uma bucólica cena recente, observada pela manhãzinha no último Mega Picnic, na Avenida da Liberdade. (O The New York Times iria gostar.)