A gente vai envelhecendo e dá conta da
fenomenicidade que é viver-se em tempo histórico e que, daqui a uma
década ou duas, no mínimo, se irá ler sobre a actualidade do mesmo modo
que, hoje, se lê sobre os meados do século XX. Quando somos jovens
não nos apercebemos disso, porque o tempo demora muito a passar e tudo
parece cristalizado num eterno presente - é um tempo de vista larga. Em
oposição, quando o tempo passa mais depressa coarcta-nos o horizonte do
visível; daí que as coisas terríveis e as coisas belas que, a esta
altura, parecem ser produzidas por propulsões irreconciliáveis serão
reunidas pela história do futuro próximo numa espécie de coincidentia
oppositorum - menos mística que a boehmeana, mas, ainda assim,
espera-se, liberta do ludíbrio.