Wittgenstein escreveu que se um leão pudesse falar nós não seríamos
capazes de entendê-lo. Sim, o dentista norte-americano também não
entendeu o que lhe disse o leão que alvejou com uma flecha, atingiu de
balas e cuja cabeça, em seguida, decepou. Sejam quais forem as
circunstâncias, aqueles que, por uns instantes, se vêem com domínio
sobre os outros têm sempre muita dificuldade em escutar e compreender
aquilo que lhes dizem aqueles que sofrem. E, no entanto, tanto pelas
vozes dos grandes como pelas dos pequenos, a linguagem do sofrimento é
sempre igual, sempre as mesmas três plangentes toadas: tenho frio, tenho fome, não quero ficar sozinho.