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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
sexta-feira, 1 de abril de 2011
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
"A Luz Miserável" no "Quem Quer Ser Milionário?"
Quando o horror invadiu o entretenimento familiar, em horário nobre...
O meu livro de contos de horror A Luz Miserável (Saída de Emergência) mencionado no concurso televisivo de perguntas e respostas Quem Quer Ser Milionário?, emitido na RTP1 a 05/01/11.
O meu livro de contos de horror A Luz Miserável (Saída de Emergência) mencionado no concurso televisivo de perguntas e respostas Quem Quer Ser Milionário?, emitido na RTP1 a 05/01/11.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Da luz nasce a sombra

Excelente crítica a A Luz Miserável (Saída de Emergência), escrita por João Morales na revista Os Meus Livros deste mês:
Da Luz Nasce a Sombra
De 0 a 5: 4
Prós: A escrita apurada, a capacidade de incorporar questões éticas por entre o horror.
Contras: O primeiro conto mostra-se mais frágil.
Três contos unidos pelas características da escrita deste autor - referências escatológicas, fantasia negra, algum fundo moral mais ou menos distorcido até se tornar (quase) irreconhecível, uma escrita cuidada.
Saltando a primeira história (uma narrativa sobre uma vidente que convoca "os elementais", seres de luz, e um homem quase invisível), enfraquecida por uma certa tonalidade new age, entremos nas duas seguintes, francamente bem conseguidas.
A Luz Miserável fala-nos de três antigos combatentes, Fortunato (acamado num hospital), Ranulfo (administrador de um predio) e Bartolomeu (que encontrou a salvação tornando-se num cruel sádico, para arrecadar almas), que temem em conjunto a chegada de um feiticeiro negro.
Depois conheça o Rei Assobio, um conto a fazer lembrar as histórias de arrepiar contadas à lareira, com laivos de ruralidade, preceitos ancestrais e reminiscências de Moby Dick. Temos Bicheiro, rapaz de 14 anos que frequenta bordéis, Bandido, Guiga e Cupim, atraídos por Rei Assobio (antes conhecido como Emílio Ensino) e ensinamentos sábios. «Andam muitas coisas por aí. Umas boas e algumas más. Mas a maioria são coisas boas», diz a mãe de Ensino.
Apenas a maioria, como ela bem frisou...
Da Luz Nasce a Sombra
De 0 a 5: 4
Prós: A escrita apurada, a capacidade de incorporar questões éticas por entre o horror.
Contras: O primeiro conto mostra-se mais frágil.
Três contos unidos pelas características da escrita deste autor - referências escatológicas, fantasia negra, algum fundo moral mais ou menos distorcido até se tornar (quase) irreconhecível, uma escrita cuidada.
Saltando a primeira história (uma narrativa sobre uma vidente que convoca "os elementais", seres de luz, e um homem quase invisível), enfraquecida por uma certa tonalidade new age, entremos nas duas seguintes, francamente bem conseguidas.
A Luz Miserável fala-nos de três antigos combatentes, Fortunato (acamado num hospital), Ranulfo (administrador de um predio) e Bartolomeu (que encontrou a salvação tornando-se num cruel sádico, para arrecadar almas), que temem em conjunto a chegada de um feiticeiro negro.
Depois conheça o Rei Assobio, um conto a fazer lembrar as histórias de arrepiar contadas à lareira, com laivos de ruralidade, preceitos ancestrais e reminiscências de Moby Dick. Temos Bicheiro, rapaz de 14 anos que frequenta bordéis, Bandido, Guiga e Cupim, atraídos por Rei Assobio (antes conhecido como Emílio Ensino) e ensinamentos sábios. «Andam muitas coisas por aí. Umas boas e algumas más. Mas a maioria são coisas boas», diz a mãe de Ensino.
Apenas a maioria, como ela bem frisou...
Um 'top ten' dos melhores livros de horror publicados em Portugal em 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Excelente crítica a "A Luz Miserável"
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A Luz Miserável,
Crítica Literária
terça-feira, 23 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Excerto de "A Luz Miserável"

Nesta ligação podem ler um excerto (31 páginas) do meu novo livro de contos A Luz Miserável (Saída de Emergência).
Na loja online da editora estão disponíveis dez exemplares assinados e personalizados com desenhos alusivos ao universo ficcional dos contos (ver imagem). A não perder para os verdadeiros fãs de literatura fantástica.
Vencedores do passatempo
O passatempo A Luz Miserável foi um sucesso: recebi 121 participações e apenas 9 concorrentes enviaram respostas erradas.
A resposta correcta à pergunta era: Mostra-me a Tua Espinha. Bastante simples.
As vencedoras (sorteadas entre os 112 concorrentes que deram respostas correctas) foram Cláudia Correia do Funchal (participante nº27) e Andreia Nabais do Cacém (participante nº58). Parabéns!
Em breve, receberão os vossos livros, autografados.
Obrigado a todos os participantes.
A resposta correcta à pergunta era: Mostra-me a Tua Espinha. Bastante simples.
As vencedoras (sorteadas entre os 112 concorrentes que deram respostas correctas) foram Cláudia Correia do Funchal (participante nº27) e Andreia Nabais do Cacém (participante nº58). Parabéns!
Em breve, receberão os vossos livros, autografados.
Obrigado a todos os participantes.
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David Soares,
Edições Saída de Emergência,
Horror,
Passatempo
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Edições autografadas de "A Luz Miserável"

A loja online das edições Saída de Emergência já tem disponíveis dez exemplares exclusivos de A Luz Miserável, assinados e personalizados com um desenho distinto, alusivo ao universo ficcional dos contos.
Trata-se de uma oportunidade única para adquirirem um exemplar ainda mais especial desta verdadeira edição de coleccionador.
Trata-se de uma oportunidade única para adquirirem um exemplar ainda mais especial desta verdadeira edição de coleccionador.
domingo, 14 de novembro de 2010
Lançamento de "A Luz Miserável" no 5º Fórum Fantástico
O lançamento de A Luz Miserável (Saída de Emergência) no 5º Fórum Fantástico foi um sucesso. Auditório cheio e vendidos quase todos os livros disponíveis na banca da editora. Obrigado a todos os leitores, conhecidos e novos, que apareceram e ajudaram a fazer do evento um acontecimento especial.
Estes vídeos do lançamento foram filmados por Raquel Garrido.
Estes vídeos do lançamento foram filmados por Raquel Garrido.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Lançamento de "A Luz Miserável"

Querem saber a quem pertence a sombra sem ninguém?
E qual a maldição que pesa nos ombros de três veteranos de guerra?
Querem saber de onde vem o desejo de vingança que consome o Rei Assobio?
Então leiam A Luz Miserável (Saída de Emergência):
horror extremo, e literário, para leitores exigentes.
Apresentação exclusiva no 5º Fórum Fantástico no dia 13 às 17H30.
Fãs de literatura fantástica e, sobretudo, de horror, divulguem e apareçam.
E qual a maldição que pesa nos ombros de três veteranos de guerra?
Querem saber de onde vem o desejo de vingança que consome o Rei Assobio?
Então leiam A Luz Miserável (Saída de Emergência):
horror extremo, e literário, para leitores exigentes.
Apresentação exclusiva no 5º Fórum Fantástico no dia 13 às 17H30.
Fãs de literatura fantástica e, sobretudo, de horror, divulguem e apareçam.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Nova página oficial de fãs no Facebook

Nesta ligação podem fazer-se fãs da minha nova página oficial de fãs no Facebook.
Será uma página na qual divulgarei diariamente novidades sobre o meu trabalho.
A página de fãs no Facebook de O Evangelho do Enforcado ainda ficará activa durante algum tempo, mas será substituída por esta. Façam-se fãs e divulguem. Obrigado.
Será uma página na qual divulgarei diariamente novidades sobre o meu trabalho.
A página de fãs no Facebook de O Evangelho do Enforcado ainda ficará activa durante algum tempo, mas será substituída por esta. Façam-se fãs e divulguem. Obrigado.
domingo, 7 de novembro de 2010
"A Luz Miserável": pré-venda

O meu novo livro de contos, A Luz Miserável (Saída de Emergência), já se encontra disponível para pré-venda na livraria virtual Wook, nesta ligação.
Sinceramente, é com um prazer enorme que vejo este livro a ser editado, já que, em paralelo com o romance O Evangelho do Enforcado, também publicado este ano, assinala um decénio de escrita (em BD e em prosa), sempre dedicada ao horror e ao Fantástico. Sempre com rigor, seriedade e profissionalismo.
O Fantástico mantém-se vivo quando, de facto, se escreve livros de literatura fantástica.
No que diz respeito a isso, contem comigo para mantê-lo sempre desperto, pois tenho ideias e histórias que chegam e sobram para mais dez anos de criação literária. Conto convosco, desse lado.
A Luz Miserável será apresentada em exclusivo no 5º Fórum Fantástico, o mais importante evento português dedicado à divulgação do Fantástico nas artes, no próximo dia 13, às 17H30.
Sinceramente, é com um prazer enorme que vejo este livro a ser editado, já que, em paralelo com o romance O Evangelho do Enforcado, também publicado este ano, assinala um decénio de escrita (em BD e em prosa), sempre dedicada ao horror e ao Fantástico. Sempre com rigor, seriedade e profissionalismo.
O Fantástico mantém-se vivo quando, de facto, se escreve livros de literatura fantástica.
No que diz respeito a isso, contem comigo para mantê-lo sempre desperto, pois tenho ideias e histórias que chegam e sobram para mais dez anos de criação literária. Conto convosco, desse lado.
A Luz Miserável será apresentada em exclusivo no 5º Fórum Fantástico, o mais importante evento português dedicado à divulgação do Fantástico nas artes, no próximo dia 13, às 17H30.
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David Soares,
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Horror
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Nova hora para lançamento de "A Luz Miserável"

Entretanto, amanhã, às 16H45, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Anfiteatro III), estarei presente na sessão À conversa com David Soares.
Incluída no colóquio Mensageiros das Estrelas (organizado pelo Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa), e moderada por João Barrelas, consistirá numa conversa sobre o meu trabalho de escritor de literatura fantástica. Será, também, uma oportunidade para os leitores colocarem perguntas sobre os meus livros, num ambiente académico e conveniente à reflexão aprofundada dos assuntos.
domingo, 24 de outubro de 2010
Caveat

‘Os meninos estão perto da vida’, disse a
mulher. ‘Os adultos estão perto da mor-
te. As coisas que vivem ao pé da morte
sentem-nos e vêm ter connosco. Quando
somos capazes de ver as coisas que vivem
ao pé da morte é porque estamos ao pé
dela. É sinal que vamos morrer.’
O lançamento de A Luz Miserável (Saída de Emergência) será no próximo dia 13 de Novembro, às 16H30, no âmbito do Fórum Fantástico: o mais importante evento português, dedicado à divulgação do Fantástico nas artes.
Marquem, pois, nas vossas agendas.
Ah! Esta edição, garanto-vos, será de coleccionador, já que consiste em algo... diferente!...
Mas quando tiverem o livro nas mãos irão perceber.
(E em breve darei início a um passatempo, com oferta de um exemplar. Fiquem atentos.)
mulher. ‘Os adultos estão perto da mor-
te. As coisas que vivem ao pé da morte
sentem-nos e vêm ter connosco. Quando
somos capazes de ver as coisas que vivem
ao pé da morte é porque estamos ao pé
dela. É sinal que vamos morrer.’
O lançamento de A Luz Miserável (Saída de Emergência) será no próximo dia 13 de Novembro, às 16H30, no âmbito do Fórum Fantástico: o mais importante evento português, dedicado à divulgação do Fantástico nas artes.
Marquem, pois, nas vossas agendas.
Ah! Esta edição, garanto-vos, será de coleccionador, já que consiste em algo... diferente!...
Mas quando tiverem o livro nas mãos irão perceber.
(E em breve darei início a um passatempo, com oferta de um exemplar. Fiquem atentos.)
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
"A Luz Miserável" no Fórum Fantástico 2010
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«Enquanto esperava por Joni, o grupo reunido na suite do último andar do hotel procurava decifrar os sons remissos que atravessavam o chão alcatifado. Mulheres elegantes, acompanhadas por homens vestidos com roupas escuras, olhavam para as pontas dos sapatos, e consultavam os relógios, enquanto dois serviçais deambulavam pela sala com tabuleiros nas mãos: um com comida e outro com bebidas; hoplitas do catering. Atrás da assistência disposta em círculo no centro da sala, em volta de um candelabro com velas acesas, as janelas estavam fechadas e o calor, mesmo com o ar condicionado ligado, era torturante. Um homem novo levantou-se da cadeira para que um velho, suado e cansado de esperar em pé, se sentasse e fez sinal ao criado para pedir uma flute de champanhe. O ruído dos hóspedes do piso inferior continuava a arrogar as atenções dos convidados e a despertar-lhes os nervos: era possível distinguir música e algo orgânico escondido entre as notas; como larvas alimentando-se de uma carcaça. Encostado a uma parede, um dos homens escrevia uma mensagem no telemóvel; outro chocalhava suavemente o porta-chaves que tinha no bolso. Então, Joni entrou na suite. Mortellite não vinha com ela.
'Boa tarde’, disse. ‘Obrigado por terem vindo.' Caminhou até ao centro da sala e esclareceu: ‘A Madame Mortellite não se sente bem, mas realizará a sessão. Peço-vos que aguardem uns minutos.'
'Que se passa?', perguntou uma mulher, com sotaque americano. 'Adoeceu?' A anfitriã respondeu:
'Felizmente, não.' Joni sabia que Mortellite estava deitada no quarto, cheia de dores menstruais. 'Ela está a caminho.' Agradeceu a paciência do público e saiu.
Desceu as escadas e avançou pelo corredor bem iluminado até ao quarto de Mortellite onde a encontrou de pé junto à janela. Estava a vestir um blazer branco.
'Podes fazê-lo?'
'Claro', anunciou a outra. 'A dor ajuda.' Puxou as mangas da camisa e compôs o blazer. Entrou na casa de banho por uns momentos e saiu com o cabelo amarrado num rabo-de-cavalo. O seu perfume cheirava a madeira verde. Bateu palmas e fez sinal a Joni para que abrisse a porta.
'Comeste alguma coisa?', perguntou-lhe Joni, apontando para o cesto cheio de frutas que estava em cima da cama, ainda com o revestimento de celofane inviolado.
'Não’, respondeu Mortellite. ‘Não comi.’ Subiu as escadas atrás de Joni, em direcção à suite onde os convidados a esperavam; olhou para a superfície espelhada das fotos penduradas nas paredes em busca da sua própria imagem, mas o vidro era anti-reflector.
Quando entrou no aposento sentiu a antecipação da assistência e alguma raiva. Avançou até ao centro, abanando a luz das velas com o vento dado pela sua deslocação, e, sem dizer nada, fitou com os olhos bem abertos os pavios incandescentes. Uma cãibra beliscou-lhe o ventre e o mênstruo verteu-lhe para as cuecas: esquecera-se de usar um tampão. Antes do silêncio submergir a suite, ouviu um homem ser calado de modo brusco por uma mulher; o ruído que assolava do piso inferior desapareceu progressivamente, como música afastando-se dos tímpanos de um ouvinte para seduzir outro. Enquanto se concentrava, viu um homem nu, encostado à parede do fundo da sala. Tinha cabelo e barba brancos e parecia exausto. Não estranhou a presença dele.
Encostada à porta, atrás do público, Joni apagara as luzes e observava o espectáculo: os pormenores fantásticos nunca falhavam em capturar a imaginação. Tudo tinha início inesperadamente, como se o momento tivesse esperado uma parteira desde sempre. Sentia um amor impetuoso durante as sessões. Poderia o interior do seu corpo preencher-se de amor como o fumo de tabaco preenche uma suite? Se sim, talvez fosse melhor deitar fora as fotografias e substituí-las por radiografias.
Uma matéria branca apareceu de repente sobre as pessoas.
Assustadas, elas levantaram-se das cadeiras, mas Joni sossegou-as.
'Sentem-se, por favor', disse com um sorriso. 'Não lhe toquem...', e apontou para a substância que rolava no ar. Cheirava a baunilha. 'E não serão tocados.'
Alheia aos movimentos do público, Mortellite continuava a dormir de olhos abertos. Estendeu os braços, mostrando a mão direita enluvada de branco, e a bola de matéria flutuou na sua direcção. Desfez-se em fatias como um novelo de minhocas sobre as palmas e assumiu rapidamente outra forma. Mais manifestações de matéria principiaram a aparecer na sua órbita; e no momento em que terminou a metamorfose, solidificando-se numa morfologia artropodiana, elas também se ossificaram em silhuetas raras, boiando no ar quente da respiração dos convidados: a excitação contida nesse bouquet podia ser provada.»
Um excerto do meu novo livro de contos de horror, editado pela Saída de Emergência, que será apresentado em exclusivo no próximo Fórum Fantástico.
O livro intitula-se A Luz Miserável e será composto por três contos: A Sombra Sem Ninguém (do qual é retirado o excerto reproduzido acima), A Luz Miserável e Rei Assobio.
Fiquem atentos porque, em breve, darei mais novidades sobre este lançamento.
(Imagem: The Witch of Endor Raising the Spirit of Samuel. William Blake, 1800)
'Boa tarde’, disse. ‘Obrigado por terem vindo.' Caminhou até ao centro da sala e esclareceu: ‘A Madame Mortellite não se sente bem, mas realizará a sessão. Peço-vos que aguardem uns minutos.'
'Que se passa?', perguntou uma mulher, com sotaque americano. 'Adoeceu?' A anfitriã respondeu:
'Felizmente, não.' Joni sabia que Mortellite estava deitada no quarto, cheia de dores menstruais. 'Ela está a caminho.' Agradeceu a paciência do público e saiu.
Desceu as escadas e avançou pelo corredor bem iluminado até ao quarto de Mortellite onde a encontrou de pé junto à janela. Estava a vestir um blazer branco.
'Podes fazê-lo?'
'Claro', anunciou a outra. 'A dor ajuda.' Puxou as mangas da camisa e compôs o blazer. Entrou na casa de banho por uns momentos e saiu com o cabelo amarrado num rabo-de-cavalo. O seu perfume cheirava a madeira verde. Bateu palmas e fez sinal a Joni para que abrisse a porta.
'Comeste alguma coisa?', perguntou-lhe Joni, apontando para o cesto cheio de frutas que estava em cima da cama, ainda com o revestimento de celofane inviolado.
'Não’, respondeu Mortellite. ‘Não comi.’ Subiu as escadas atrás de Joni, em direcção à suite onde os convidados a esperavam; olhou para a superfície espelhada das fotos penduradas nas paredes em busca da sua própria imagem, mas o vidro era anti-reflector.
Quando entrou no aposento sentiu a antecipação da assistência e alguma raiva. Avançou até ao centro, abanando a luz das velas com o vento dado pela sua deslocação, e, sem dizer nada, fitou com os olhos bem abertos os pavios incandescentes. Uma cãibra beliscou-lhe o ventre e o mênstruo verteu-lhe para as cuecas: esquecera-se de usar um tampão. Antes do silêncio submergir a suite, ouviu um homem ser calado de modo brusco por uma mulher; o ruído que assolava do piso inferior desapareceu progressivamente, como música afastando-se dos tímpanos de um ouvinte para seduzir outro. Enquanto se concentrava, viu um homem nu, encostado à parede do fundo da sala. Tinha cabelo e barba brancos e parecia exausto. Não estranhou a presença dele.
Encostada à porta, atrás do público, Joni apagara as luzes e observava o espectáculo: os pormenores fantásticos nunca falhavam em capturar a imaginação. Tudo tinha início inesperadamente, como se o momento tivesse esperado uma parteira desde sempre. Sentia um amor impetuoso durante as sessões. Poderia o interior do seu corpo preencher-se de amor como o fumo de tabaco preenche uma suite? Se sim, talvez fosse melhor deitar fora as fotografias e substituí-las por radiografias.
Uma matéria branca apareceu de repente sobre as pessoas.
Assustadas, elas levantaram-se das cadeiras, mas Joni sossegou-as.
'Sentem-se, por favor', disse com um sorriso. 'Não lhe toquem...', e apontou para a substância que rolava no ar. Cheirava a baunilha. 'E não serão tocados.'
Alheia aos movimentos do público, Mortellite continuava a dormir de olhos abertos. Estendeu os braços, mostrando a mão direita enluvada de branco, e a bola de matéria flutuou na sua direcção. Desfez-se em fatias como um novelo de minhocas sobre as palmas e assumiu rapidamente outra forma. Mais manifestações de matéria principiaram a aparecer na sua órbita; e no momento em que terminou a metamorfose, solidificando-se numa morfologia artropodiana, elas também se ossificaram em silhuetas raras, boiando no ar quente da respiração dos convidados: a excitação contida nesse bouquet podia ser provada.»
Um excerto do meu novo livro de contos de horror, editado pela Saída de Emergência, que será apresentado em exclusivo no próximo Fórum Fantástico.
O livro intitula-se A Luz Miserável e será composto por três contos: A Sombra Sem Ninguém (do qual é retirado o excerto reproduzido acima), A Luz Miserável e Rei Assobio.
Fiquem atentos porque, em breve, darei mais novidades sobre este lançamento.
(Imagem: The Witch of Endor Raising the Spirit of Samuel. William Blake, 1800)
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