Sou o primeiro a admitir que, muitas vezes, sou atraiçoado pelo meu solipsismo; isso costuma acontecer, por exemplo, quando fico estupefacto cada vez que encontro algo que me era estranho, mas que, aparentemente, todos os cães e gatos conheciam. E cães e gatos não são criaturas inocentes; pelo menos, os gatos. Eu explico.
Ontem precisei de ir à minha Junta de Freguesia. Enquanto esperava por ser atendido, tive o privilégio de ler um cartaz que lá estava afixado e que anunciava o preçário das diversas licenças a adquirir para todas as espécies de animais de estimação. Bom, todas, todas, não. Só para canídeos e... gatídeos!...
Ainda pensei que estivesse a ler mal, mas depressa dei conta que a palavra existia e não só estava à minha frente como pertencia ao léxico vulgar, podendo ser encontrada numa miríade de documentação institucional sobre tarecos. Porém, a minha dúvida persistiu: mas que raio é um gatídeo?!..., fui eu a pensar a caminho de casa. Se os cães pertencem à família dos canídeos, os gatos pertencem à família dos felídeos. Da família dos gatídeos é que eu nunca tinha ouvido falar.
O sufixo ídeo provém do étimo grego eidos que se traduz por similar. Nesse caso, um "gatídeo" poderá querer significar "semelhante a gato"?!... Engenhoso, não haja dúvida, mas, se era para isso, já existe a palavra felídeo que significa semelhante a felino; sendo que felino tem origem no nome latino feles que quer dizer gato. É que as coisas são mesmo assim: no que diz respeito à terminologia científica, a base de todos os nomes é a língua grega. Isto quer dizer duas coisas: 1) na maioria das vezes não é preciso inventar nada, porque já foi tudo inventado, há bastante tempo, e 2) quando é preciso classificar e nominar novas espécies é preciso ler a gramática com muitíssima atenção.
Se eu quisesse baptizar a família do híbrido que ilustra esta argumentação o mais indicado poderia ser algo como jocusidae. Mas quê? Agora teria de se atender à etimologia para criar nomenclaturas? Até o Diabo se ria! Neste caso, basta saber o nome vulgar da bicharada e carregar o mosquete pela boca: se um cão é canídeo e um gato é gatídeo, então um periquito passa a ser um periquitídeo, um ornitorrinco passa a ser um ornitorrinquitídeo e uma sardinha passa a ser uma sardinhídea. É tão simples, não é? Deve ter sido assim que raciocinou o glossólogo que se lembrou de criar o neologismo gatídeo: «Se cão é canídeo, então gato é gatídeo, pronto. O que interessa é que tenha o ídeo lá pelo meio.»
Ontem precisei de ir à minha Junta de Freguesia. Enquanto esperava por ser atendido, tive o privilégio de ler um cartaz que lá estava afixado e que anunciava o preçário das diversas licenças a adquirir para todas as espécies de animais de estimação. Bom, todas, todas, não. Só para canídeos e... gatídeos!...
Ainda pensei que estivesse a ler mal, mas depressa dei conta que a palavra existia e não só estava à minha frente como pertencia ao léxico vulgar, podendo ser encontrada numa miríade de documentação institucional sobre tarecos. Porém, a minha dúvida persistiu: mas que raio é um gatídeo?!..., fui eu a pensar a caminho de casa. Se os cães pertencem à família dos canídeos, os gatos pertencem à família dos felídeos. Da família dos gatídeos é que eu nunca tinha ouvido falar.
O sufixo ídeo provém do étimo grego eidos que se traduz por similar. Nesse caso, um "gatídeo" poderá querer significar "semelhante a gato"?!... Engenhoso, não haja dúvida, mas, se era para isso, já existe a palavra felídeo que significa semelhante a felino; sendo que felino tem origem no nome latino feles que quer dizer gato. É que as coisas são mesmo assim: no que diz respeito à terminologia científica, a base de todos os nomes é a língua grega. Isto quer dizer duas coisas: 1) na maioria das vezes não é preciso inventar nada, porque já foi tudo inventado, há bastante tempo, e 2) quando é preciso classificar e nominar novas espécies é preciso ler a gramática com muitíssima atenção.
Se eu quisesse baptizar a família do híbrido que ilustra esta argumentação o mais indicado poderia ser algo como jocusidae. Mas quê? Agora teria de se atender à etimologia para criar nomenclaturas? Até o Diabo se ria! Neste caso, basta saber o nome vulgar da bicharada e carregar o mosquete pela boca: se um cão é canídeo e um gato é gatídeo, então um periquito passa a ser um periquitídeo, um ornitorrinco passa a ser um ornitorrinquitídeo e uma sardinha passa a ser uma sardinhídea. É tão simples, não é? Deve ter sido assim que raciocinou o glossólogo que se lembrou de criar o neologismo gatídeo: «Se cão é canídeo, então gato é gatídeo, pronto. O que interessa é que tenha o ídeo lá pelo meio.»