Não gosto da música de Whitney Houston, mas a sua morte serviu para, mais uma vez, me lembrar que gosto ainda menos do modo cruel como facilmente se desvalorizam as vidas que tiveram os artistas, especialmente aqueles que, de acordo com os padrões higiénicos impostos pelas sociedades às quais devotaram anos de carreira, sucumbiram em condições relacionadas com abuso de álcool e drogas. Serão vocês, pessoas comuns, impolutas nas vossas escolhas? Ou serão motivadas pela constatação de que, inversamente aos artistas que desprezam, ninguém se lembrará dos vossos nomes quando a terra sepulcral cobrir os vossos simplórios caixões de pinho? Por que motivos acolhem com satisfação que os programas noticiosos televisivos abram com reportagens sobre todo o tipo de insignificâncias do mundo do futebol, mas consideram uma perda de tempo que se gaste quinze minutos a emitir-se retrospectivas das vidas de quem alimentou sonhos de milhões de pessoas? Vocês ouvem as músicas, vêem os filmes, admiram os quadros e lêem os livros de quem é mais talentoso, sofisticado, inteligente e generoso que vocês e, no final, não mostram nenhum respeito, nenhum apreço, nenhuma consideração. Isso é triste. Triste e revelador de uma mente pequena.