sexta-feira, 8 de março de 2013

O berço e o horizonte


Não conheço melhor imagem para, hoje, Dia Internacional da Mulher, ilustrar as melhores qualidades que, correntemente, são atribuídas ao sexo feminino, como a beleza, a sensibilidade e a voluptuosidade. É Vénus, amparando uma caravela portuguesa, desenhada pelo Mestre Lima de Freitas para uma edição comemorativa do IV centenário de publicação de Os Lusíadas de Luís de Camões. Como alguns deverão saber, na estrofe 33 do Canto 1 dessa epopeia, é-nos descrito pelo poeta o modo como a deusa do amor se deixa encantar pelos portugueses: é que Vénus é romana e ao ouvir falar os navegantes lembra-se das suas origens e até pensa que o linguajar deles é o dos romanos. Escreveu Camões:
«Sustentava contra ele Vénus bela,
Afeiçoada à gente lusitana
Por quantas qualidades via nela
Da antiga, tão amada, sua romana,
Nos fortes corações, na grande estrela,
Que mostraram na terra tingitana,
E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que é a latina.»
Esta Vénus sonhadora, que com enorme doçura nos resguarda no lunar regaço aquático, é maternal e calipígia, nosso berço e nosso horizonte, em simultâneo.