sexta-feira, 30 de agosto de 2013

«Lisboa Triunfante» na Noite de Literatura Europeia


No próximo dia 21 de Setembro (sábado), das 18H00 às 23H00, irá ocorrer na cidade polaca de Wroclaw uma edição do evento Noite de Literatura Europeia, na qual o público amante de literatura terá oportunidade de ouvir a leitura de excertos das obras de diversos escritores europeus, entre os quais Philippe Claudel (França), Colm Tóibin (Irlanda) e Zadie Smith (Inglaterra). Portugal estará representado por mim. Um dos mais prestigiados actores polacos, Bartłomiej Topa, lerá um excerto do meu romance Lisboa Triunfante (Saída de Emergência, 2008), que consiste nas primeiras dez páginas do terceiro capítulo "O Reino do Sol".


A Noite de Literatura Europeia de Wroclaw terá lugar no complexo comercial e artístico Passagem Pokoyhof (para quem estiver na vizinhança, a morada é a seguinte: ul. Sw. Antoniego 2-4)
Envio um agradecimento especialíssimo a Milka Jankowska pelo gentil convite e Jakub Jankowski pela excelente tradução para polaco que fez do meu texto: dziękuję.


Os homens de aço (cirúrgico)


O número de Setembro da revista LOUD! (para a qual escrevo a crónica bimestral Consultor Funerário) é, já, uma edição histórica, em virtude da entrevista que publica nas suas páginas centrais, com Jeff Walker (vocalista e baixista) e Bill Steer (guitarrista), da banda inglesa Carcass. Estreados em 1988, com a edição do disco Reek of Putrefaction, os Carcass foram, em conjunção com os Napalm Death (com os quais Steer também tocou), os pioneiros da sonoridade apelidada de Grindcore: aliança de elementos Metal, Punk e Jazz (o característico blast beat que, hoje, se associa, de imediato, aos estilos mais extremos de música, já era executado pelos bateristas de Jazz) que, com rapidez, se tornou um dos estilos metálicos mais plásticos e receptivos à experimentação com influências musicais muito distintas. Esse primeiro disco, prejudicado por uma produção muito fraca, mostrava, contudo, um grupo com uma personalidade incomum e tornou-se um favorito do programa de rádio da BBC Peel Sessions, do mítico apresentador John Peel. Ainda assim, poucos poderiam ter previsto a influência e a importância que o terceiro disco da banda, Necroticism - Descanting the Insalubrious (1991) iria exercer sobre o espectro das sonoridades mais extremas.

Em Fevereiro de 1991, estreou nos cinemas o filme The Silence of the Lambs, obra perturbante que revolucionou, totalmente, a cultura popular: um efeito imediato foi a aceitação pelo mainstream de ideias e personagens muito macabras que, até à data, eram coutada exclusiva da ficção de horror e de suspense, seguindo-se a instauração de uma constante estética umbrosa e sóbria, presente até hoje em produções visuais (desde filmes, séries televisivas e vídeos musicais). Editado em Outubro de 1991, Necroticism - Descanting the Insalubrious foi o The Silence of the Lambs do Metal: em 2000, a revista Terrorizer classificou-o como sendo o disco de Metal mais importante da década de 90. Com efeito, tanto The Silence of the Lambs como Necroticism - Descanting the Insalubrious demonstram o quão a cultura contemporânea, tanto nas artes como no entretenimento, deve às imagens e às harmonias mais extremas, provenientes do universo do horror. O terceiro disco de Carcass é, de facto, uma obra tocada pelo génio, que gerou um sem-número de epígonos e imitadores.

Mas os Carcass estão de volta (somente Walker e Steer pertencem à formação original), passados dezassete anos desde a edição de Swansong, com um inesperado novo disco, que será editado a 13 de Setembro: Surgical Steel. A sua capa evoca, directamente, a do EP Tools of the Trade (1992), um dos meus registos favoritos da banda (a seguir a Necroticism - Descanting the Insalubrious), e a música Captive Bolt Pistol que, entretanto, foi disponibilizada, é, inequivocamente, um tema fresco que não soa a plágio do passado, nem a homenagem póstuma. É um disco que aguardo com muita expectativa, porque os Carcass sempre foram uma das minhas bandas preferidas (ouvi a cassete original - naquele tempo ainda se compravam cassetes - de Symphonies of Sickness até à exaustão): os meus leitores que são fãs desta banda terão, certamente, dado pela pequena homenagem que lhe fiz na página 195 do meu romance Lisboa Triunfante (Saída de Emergência, 2008), com a escrita do pequeno interlúdio em verso Matéria Médica, Pelo Doutor Jacob de Castro Sarmento (à maneira dos ilustres cirurgiões Jeffrey Walker e William G. Steer de Nottingham).

Convido-vos, pois, a lerem a entrevista destes cirurgiões na LOUD! de Setembro.


 


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Hoje há pirâmides


A imagem que ilustra este artigo é uma alusão humorística ao extremo de irracionalidade a que os seguidores de teorias pseudo-arqueológicas podem chegar, quando, por ennui, ingenuidade ou ignorância, substituem a sua crença numa primordial e tecnologicamente avançada civilização-matriz pela crença na intervenção de Antigos Astronautas no desenvolvimento das sociedades primitivas. Vou descrever em poucas linhas estas crenças de maneira a informar os leitores que não estejam familiarizados com estes universos pseudo-históricos/arqueológicos.

A supra-enunciada primeira crença pode adquirir, em essência, duas formas: a do Difusionismo e a do Hiperdifusionismo. O Difusionismo consiste na crença de que as civilizações antigas, por mais afastadas geograficamente ou cronologicamente que tenham estado umas das outras, mantiveram, de alguma forma, contactos e permutaram comportamentos culturais e importantes segredos tecnológicos; alegadamente, segredos que, hoje, ainda não foram descobertos pelo homem contemporâneo. Por outro lado, o Hiperdifusionismo propõe a existência de uma primordial e tecnologicamente avançada civilização-matriz, da qual difundiram todas as sociedades existentes. Essa conjectural antiquíssima civilização-matriz (Atlântida, Lemúria, etc.) é sempre apresentada pelos pseudo-historiadores como tendo sido uma iluminada cultura superior que, subitamente, desapareceu por culpa de um cataclismo - um terramoto, um maremoto ou uma erupção vulcânica -, mas não sem que um punhado de sobreviventes se tenha dispersado no último momento para, nos milénios seguintes, instruir e guiar as remanescentes, mas grosseiras civilizações (descritas desse modo pelos pseudo-historiadores, porque, segundo eles, seriam civilizações pouco desenvolvidas espiritualmente - seja lá isso o que for, o certo é que a partir daqui está-se no território da pura charlatanice). Para os hiperdifusionistas, os mitos e as religiões existentes conservam, inequivocamente, memórias desses supostos antigos patriarcas desaparecidos, mas sob a forma de deuses e de outras personagens pseudo-epigráficas.
Neste ponto, coincide-se com a supra-enunciada segunda crença: a Teoria dos Antigos Astronautas, que defende que os protagonistas mitológicos das diversas culturas globais são configurações erróneas - ou codificadas - de visitantes extraterrestres que, em algum momento de um passado muitíssimo distante, desceram à Terra para instruir e guiar os povos primitivos. Em acrescento, quando esses fictícios visitantes extraterrestres são apresentados pelos pseudo-historiadores como tendo sido antepassados ou criadores da humanidade fala-se da Teoria da Génese Extraterrestre: crença que defende a criação do Homem em laboratório por engenheiros genéticos extraterrestres. Assim como no caso dos patriarcas desaparecidos, nos quais acreditam os hiperdifusionistas, os geneticistas extraterrestres também foram entendidos como deuses pelos povos primitivos.

Estas ideias (e outras do mesmo jaez) não são recentes - algumas provêm do final do século XVIII -, mas nos últimos anos têm crescido com uma popularidade que não conheciam desde meados dos anos setenta do século passado. Em principal, as teorias dos Antigos Astronautas e da Génese Extraterrestre beneficiam de uma exposição mediática constante que contamina as mentes dos espectadores mais influenciáveis e ingénuos. Séries "documentais" televisivas como Ancient Aliens, transmitida pelo Canal História (cheia de deformações e ocultações de factos para efeitos espectaculares e sensacionalistas), ou os livros e as palestras de chicaneiros como Zecharia Sitchin (autor de, entre outros, The Twelfth Planet) ou David Icke (que muito antes de tornar-se a coqueluche dos adeptos das teorias das conspirações se apresentou ao público como sendo o filho de Deus), são, somente, alguns dos nomes mais populares, mas nem por isso menos danosos, de uma classe de gurus sem vergonha que ganha a vida manipulando emoções e expectativas e espalhando o evangelho da irracionalidade.
A pseudociência e a pseudo-história oferecem soluções simples para problemas intrincados e relacionados com assuntos que a maioria do público não é capaz de avaliar com precisão, porque, desde a segunda metade do século XX, os campos da ciência e da história têm-se especializado e compartimentalizado, enroupando-se em linguagens e preceitos técnicos complexos que os leigos não têm capacidade de acompanhar. Provavelmente, sentindo-se excluídos por uma elite académica que comunica de modo, aparentemente, indecifrável, muitos indivíduos sem conhecimentos científicos, históricos, arqueológicos ou etnológicos voltam-se para o pseudoconhecimento que é rejeitado pelo mundo académico. Esse pseudoconhecimento é sincrético, constituído por retalhos e leituras feitas pela rama de materiais mitológicos e esotéricos, e, muitas vezes, apenas serve de Cavalo de Tróia a doutrinas que se aproximam daquilo a que pode chamar-se novas religiões populares. Com efeito, as supracitadas teorias pseudo-históricas têm em comum a recusa do mundo real, apresentado como sendo um artificial plano de existência dominado pelo cientismo (uma espécie de concepção neognóstica, mas com a academia em jeito de Demiurgo), em benefício de mundos falsos, algo infantis, em que cada um pode ajudar a solucionar alguns dos mistérios. Os leitores não-versados nas temáticas pseudo-históricas ou pseudo-arqueológicas dificilmente terão ideia do superlativo grau de irracionalidade que permeia essas teorias alternativas, mas prometo escrever sobre elas num futuro próximo. Para já, o meu objectivo é, a partir desta introdução, comentar uma notícia recente que me despertou a atenção.

Foi com estupefacção que li a notícia de que se tinha descoberto cento e quarenta pirâmides na Ilha do Pico, no arquipélago dos Açores - construções que, alegadamente, antecedem em muitíssimos anos a chegada dos portugueses à ilha. A descoberta foi anunciada esta semana pelos arqueólogos Nuno Ribeiro e Anabela Joaquinito, da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA), que estudaram essas estruturas, feitas de rocha basáltica e a que os populares chamam de maroiços, encontrando indícios de orientação espacial relacionada com as estações do ano e até de ritos funerários. O arqueólogo Romeo Hristov, docente na universidade norte-americana do Novo México e que visitou essas pirâmides do Pico, terá declarado que nelas «há uma orientação astronómica rigorosa, rampas de acesso e escadas associadas ao conceito de estrutura sagrada».


Só estive uma vez na Ilha do Pico, enquanto fazia o transbordo para outro avião que me levaria à Ilha Terceira, e, infelizmente, não tive tempo de deslocar-me ao concelho da Madalena para ver estas pirâmides - aliás, até há poucas horas, nem sabia que elas existiam. No entanto, depois de observar as fotos disponibilizadas na Internet, concluo que essas estruturas não me parecem pirâmides nenhumas, mas simples socalcos, feitos por muros de contenção. Os muros de contenção são erguidos para suster o deslizamento dos solos em terrenos que apresentam um grau elevado de inclinação. (Em relação ao que escrevi no quarto parágrafo, alguns dos mais impressionantes muros de contenção construídos pelos romanos, como o existente nas ruínas da cidade de Heliopólis, no Líbano, são descritos pelos teoristas dos Antigos Astronautas e da Génese Extraterrestre, como sendo antigas plataformas para a aterragem e descolagem de naves espaciais.) Quando se fala em socalcos, vêm logo à memória os da região vinhateira do Douro - e, nem de propósito, a paisagem da Madalena, na Ilha do Pico, também tem servido para esse fim: aliás, em 2004 até foi considerada Património Mundial pela UNESCO em virtude da viticultura. Segundo a notícia do jornal Expresso, cuja ligação adicionei acima, o já citado Romeo Hristov disse «sinto-me no México» ao observar as pirâmides do Pico. De facto, as pirâmides do México foram todas consideradas Património Mundial pela UNESCO: por que razão é que a região da Madalena na Ilha do Pico foi considerada Património Mundial por mérito da viticultura e não por mérito das suas pirâmides que, segundo Hristov, até fazem lembrar as do México? Será porque não existem pirâmides nenhumas na Madalena, para começar? É uma interrogação que deixo para ser respondida por quem entenda de arqueologia.
 

Quem tiver curiosidade de ler alguns artigos académicos assinados por Hristov, pode fazê-lo através desta ligação. Nesta altura, chamo a atenção para que recordem as definições de Difusionismo e Hiperdifusionismo.

Sobre a tentação de ver-se pirâmides onde elas não existem e de declarar que foram construídas por patriarcas desaparecidos, quiçá de Marte, gostava de recordar o logro das pirâmides bósnias (as do Sol, da Lua e do Dragão) inventado por Semir Osmanagich, arqueólogo "amador" que não só viu pirâmides onde elas nunca existiram, como ainda tentou fabricá-las: «Osmanagich said Visocica's conglomerate blocks were made of concrete that ancient builders had poured on-site. This theory was endorsed by Joseph Davidovits, a French materials scientist who, in 1982, advanced another controversial hypothesis—that the blocks making up the Egyptian pyramids were not carved, as nearly all experts believe, but cast in limestone concrete. Osmanagich dubbed Pljesevica's sandstone plates "paved terraces," and according to Schoch, workers carved the hillside between the layers—to create the impression of stepped sides on the Pyramid of the Moon. Particularly uniform blocks and tile sections were exposed for viewing by dignitaries, journalists and the many tourists who descended on the town».

 
É trágico que o público que diz não ter tempo para aprender ciência, história e arqueologia seja tão listo em decorar listas de desinformação pseudo-histórica e esotérica que, no fundo, o deixam indefeso diante dos perigos do pseudoconhecimento. Poderá não saber como as células metabolizam os hidratos de carbono, nem de que maneira a informação genética codificada no ADN se traduz em proteínas, tão-pouco como a selecção natural funciona, mas saberá que as pirâmides eram câmaras transdimensionais que enviavam os faraós ao encontro dos chefes extraterrestres, que esses extraterrestres criaram o ser humano e que, afinal de contas, tudo começou na Atlântida.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Lançamento de «Palmas Para o Esquilo»


Palmas Para o Esquilo, o meu novo livro de banda desenhada, escrito por mim e desenhado por Pedro Serpa, será lançado a 14 de Setembro (sábado), às 17H00, na loja da Kingpin Books, em Lisboa (Rua Quirino da Fonseca, 16-B).

Palmas Para o Esquilo (Kingpin Books, 2013) consiste numa observação sobre a distância que existe entre a imaginação e a loucura.

Conto com a vossa presença no dia 14, às 17H00, na loja da Kingpin Books, e agradeço a divulgação.


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sugestões musicais

Duas sugestões musicais, em que se destacam colaborações de amigos.

O ilustrador André Coelho, que trabalhou comigo no livro É de Noite Que Faço as Perguntas (Saída de Emergência, 2011) e que está, neste momento, a desenhar Sepulturas dos Pais, uma nova banda desenhada escrita por mim que irá ser editada em 2014 pela Kingpin Books, foi o criativo responsável pelo grafismo do vídeo musical da banda portuense de rock Ghosts of Port Royal: a música intitula-se 50.000 Dead Starfish e abre o apetite para o próximo disco da banda (a anunciar). A animação da arte de Coelho foi feita por Augusto Lado, vocalista do grupo.



De um registo também endiabrado é feita a nova proposta de Karuniiru, banda liderada por Domino Pawo e que conta com Charles Sangoir, de La Chanson Noire (com quem trabalhei em Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense), como um dos guitarristas. É Sangnoir que produz Cyberpunk, novo disco do grupo, que será editado em Setembro. Jorra é o título do primeiro single, cujo vídeo é realizado por Charles Sangnoir.



terça-feira, 13 de agosto de 2013

O segredo da arte



Desvalorize-se o que está em baixo
e nunca se verá o que poderia estar em cima.



sábado, 10 de agosto de 2013

Recordações para este fim de semana


Ontem, após obras de restauro, o Arco do Triunfo da Rua Augusta abriu, definitivamente, ao público, apelidado de novo miradouro de Lisboa. Equipado com um elevador, para auxiliar a ascenção de quem não quiser subir (ou não for capaz de subir) a estreita escadaria em caracol que dá acesso à câmara do relógio que está voltado para Norte, para a Rua Augusta, o arco promete apaixonar tanto os turistas como os lisboetas. Aliás, é certo que raríssimos lisboetas tiveram oportunidade de subir ao terraço do Arco do Triunfo da Rua Augusta, logo esta iniciativa é mais do que louvável, porque devolve aos cidadãos o usufruto de um dos seus mais emblemáticos monumentos: espero, com toda a sinceridade, que seja acarinhado e compreendido.

Num passeio por Lisboa que organizei, há uns tempos, mostrei a um pequeno grupo de amigos o terraço do Arco do Triunfo da Rua Augusta, ainda este restrito equipamento cultural não sonhava sequer em abrir as portas ao grande público. Posteriormente, escrevi um artigo sobre o arco, que vos convido a reler ou, no caso de serem novos leitores, a descobrir.

E, finalmente, porque se relaciona com o local, em principal com a Praça do Comércio, para a qual o Arco do Triunfo da Rua Augusta se volta, recordo a minha participação na música «Fado Mau» que integra o disco Macumba Stereo de La Chanson Noire (Necrosymphonic Entertainment, 2013): no segmento de spoken word que gravei para esse tema, é lembrado o episódio em que os conjurados defenestraram Miguel de Vasconcelos para o Terreiro do Paço.



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sobre eReaders #2

O escritor norte-americano Nicholas Carr (The Shallows) publicou há quatro dias no seu weblog um artigo em que divulga relatórios estatísticos actualizados sobre a venda de eBooks que comprovam o declínio desse mercado: escreve Carr que «The AAP [Association of American Publishers] findings are backed up by a remarkable new Nielsen report indicating that worldwide e-book sales actually declined slightly in the first quarter from year-earlier levels — something that would have seemed inconceivable a couple of years ago» (sublinhado meu).
Os relatórios divulgados por Carr podem ser consultados aqui e aqui.

Apesar dessas ligações ainda profetizarem, desesperadamente, que 2014 será um ano espectacular para a venda de eBooks, é inegável que 2013 não está a sê-lo e que a morte definitiva desse suporte está para breve: um suporte recebido com enorme entusiasmo por editores sem escrúpulos e sem espírito que, contando com o beato deslumbramento sentido pelos tecnófilos mais tontos diante de tudo o que cheira à santidade da novidade, pensaram em produzir livros digitais sem os custos de impressão e distribuição, mas com preços de venda ao público da mesma grandeza daqueles com que são vendidos nas livrarias os livros de papel - chico-espertismo do mais abissal nível merceeiro que, felizmente, não medrou. Além disso, parece que esses chicaneiros da edição nunca pensaram (ou não quiseram pensar) que um livro disponível para venda em formato digital seria logo pirateado até à exaustão. Que lhes faça bom proveito.

É, pois, com regozijo que danço na sepultura dos eBooks, dos eReaders e de outras eStultices similares - monstros modernos que me repugnam profundamente. Aliás, há três anos que ando a cavar essa sepultura, como poderão ler nos meus artigos Sobre eReaders e Os Cangalheiros da Literatura, publicados em Agosto e Setembro de 2010, que vos convido a reler ou a descobrir: artigos que, neste momento, à luz dos supracitados relatórios de vendas, posso perfeitamente apelidar de predizentes.

Quando o tempo dá razão a um homem é sinal de que as suas ideias eram, de facto, as melhores.