Esta tábua quinhentista (1541), cuja autoria inquestionável é do pintor
português Garcia Fernandes (activo entre 1514 e 1565), é conhecida pela
maioria do público como sendo uma representação do terceiro casamento do
rei D. Manuel I com D. Leonor de Castela, irmã de Carlos V (celebrado a
1518). Todavia, já em 1998, o historiador de arte português Joaquim de
Oliveira Caetano propôs e fundamentou a tese de que a imagem mostra o
episódio hagiológico do casamento forçado de Santo
Aleixo com Sabina. Esta obra faria parte de um conjunto projectado pela
oficina do artista para a primeira Igreja de São Roque, em Lisboa (com
efeito, a tábua encontra-se em exposição no Museu São Roque da Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa). Ora, Garcia Fernandes foi eleitor da
Misericórdia de Lisboa e o quadro foi-lhe encomendado por D. Álvaro da
Costa, o primeiro provedor das Misericórdias, que, provavelmente, se
encontra representado na figura central do sacerdote que celebra o
casamento. Sabe-se, igualmente, que poucos anos antes da realização da
tábua foi anexada uma confraria de Santo Aleixo à Misericórdia (em
1538); por conseguinte, fortalecendo esta tese. Em analogia, outros
pormenores contribuem para a interpretação aleixiana, como a ausência na
personagem dita manuelina da insígnia da Ordem do Tosão de Ouro, que D.
Manuel I recebeu pelo seu casamento com D. Leonor de Castela. É, pois,
neste dia de Santo Aleixo (terá morrido a 17 de Julho) que evoco esta
obra enigmática, cujo hirsuto protagonista tem sido utilizado em
múltiplos livros de história e veículos televisivos de divulgação
histórica como sendo um retrato de D. Manuel I e pelos quais contornos
temos desenhado, à guisa de escantilhão, determinados aspectos da vida e
façanhas de O Venturoso.