Em Veneza, a minha imaginação entusiasmou-se com a
dédala visão de longas ruas apertadas que, talvez como em nenhum outro lugar,
dão uma ideia aproximadíssima de como seria o centro de Lisboa antes de ter
sido devastado pelo grande terramoto de 1755: pode-se andar por ruas tão
estreitas que os ombros quase tocam nas paredes dos edifícios elevados e, no
entanto, a treva ausenta-se dessas intermitências medievas graças à
inexistência de balcões inimigos do Sol, que, acrescente-se, precipita aqui uma
luz holometabólica. Os pinázios nos quais essas ruas se encaixam com
graciosidade detonante são os infindos canais – alegoria que me é acrescida
pelos reflexos xantogénicos na água adriática: a maioria apenas observada por
borboletas, gaivotas e conventiculares memórias do passado, porque Veneza foi
construída nas frequências mais altas do espectro visível. Procurando, também,
ver para além da superfície, redigi uns apontamentos sobre certos aspectos,
sítios e personagens que encontrei nas minhas incursões psicogeográficas pela cidade.
Leões em Veneza
O leão alado veneziano é um símbolo do evangelista
São Marcos, cujas relíquias, segundo a tradição, foram roubadas de Alexandria
por dois mercadores venezianos, Buono da Malamocco e Rustico da Torcello. Estes
terão convencido os sacerdotes coptas da velha igreja de São Marcos a deixá-los
esconder “temporariamente” o santo, de molde a evitar que fosse destruído pelo
califado fatímida, que, nessa altura, tinha intenções de demolir aquele templo
para enviar os mármores e o recheio para o Próximo Oriente: assim, os dois
mercadores substituíram as ossadas de São Marcos pelas de Santa Cláudia
(infelizmente, a tradição nada discorre sobre o modo como estas foram trazidas
à colação) e levaram com eles as primeiras dentro de um cesto, cobertas com
pedaços desmanchados de porco para desmotivar a curiosidade das autoridades
muçulmanas.
De um ponto de vista histórico, a figuração
simbólica dos quatro evangelistas - São Mateus (um homem), São Lucas (um touro),
São Marcos (um leão) e São João (uma águia) - poderá estar directamente
relacionada com o episódio veterotestamentário da visão de Ezequiel (Ezequiel, 1:5) e até com a passagem apocalíptica
que descreve o trono de Deus (Apocalipse,
4:6), mas, provavelmente, foi Ireneu de Lyon que, no seu influente tratado
antignóstico (em cinco volumes), intitulado Contra
as Heresias, deu maior expressão a estas concepções e as popularizou.
Curiosamente, a igreja ortodoxa rejeita-as - ironia que cresce em dimensão
quando se pensa que o modelo espiritual e secular para a criação de Veneza foi
Constantinopla, da qual foi roubado, no âmbito da Quarta Cruzada (1202-1204), o
leão que se encontra na Piazzetta de
São Marcos.
Mesmo para efeito de contextualização, seria um
desvio demasiado grande descrever com algum pormenor a história da Quarta
Cruzada, mas ao serviço destas linhas chega o esclarecimento de que esta
ofereceu uma oportunidade a Veneza, em principal a Enrico Dandolo, o cego e nonagenário
doge (autoridade máxima de Veneza), para
que se saldassem contas pendentes com a capital do Império Bizantino. Na sequência
das invasões lombardas, de meados do século VI, projectara-se que Veneza seria
um centro administrativo desse império, mas as relações com Constantinopla nunca
foram boas, deteriorando-se velozmente à medida que esta perdia a dignidade de
outrora. Em suma, o saque veneziano a Constantinopla foi o gérmen de
instabilidades paroquiais e internacionais que assumiram algumas formas previstas
e outras imprevistas. Um exemplo elementar foi a emergência do Império Otomano,
declarado com a conquista de Constantinopla em 1453; outro, difícil de prever, diga-se
assim, deflagrou muito mais tarde com a decadência desse império (o chamado
“Homem Doente da Europa”, designação satírica criada pelo czar Nicolau I) e com
o advento da Primeira Grande Guerra – sob esta perspectiva, o doge Enrico Dandolo pode ser olhado como
sendo o “avô” da Primeira Grande Guerra.
Entre os tesouros que os venezianos roubaram no
saque de Constantinopla encontravam-se dois ícones que se tornaram paradigmáticos
de Veneza: o leão alado e a estátua de São Teodoro, ambos dispostos no topo de
altivas colunas de granito da Numídia (também roubadas no saque) na Praça de
São Marcos. Essas imagens foram, de facto, construídas com restos de estatuária
de bronze e de pedra trazidos ao trouxe-mouxe no espólio do saque: soldou-se as
asas de um anjo num corpo de leão para produzir o símbolo de São Marcos, o
Evangelista, e, em seguida, aplicou-se uma cabeça num tronco couraçado de uma
estátua de um oficial romano desconhecido e colocou-se essa configuração sobre uma
escultura de um crocodilo para fabricar a figura de São Teodoro – o santo caçador
de dragões original, anterior à invenção mais recente do mito herpetocida de
São Jorge.
Ecos dessa operação inaugural reverberam por toda a
cidade e escolho um exemplo interessantíssimo de sincretismo para ilustrá-los. No
relvado da entrada da Faculdade de Literatura e Filosofia da Universidade de
Ca’ Foscari, na meridional sestiere (jurisdição)
de Dorsoduro, encontra-se uma composição surpreendente, feita com fragmentos de
uma coluna de um templo grego dedicado a Posídon no Cabo Sounion no século V a.
C. Esta minicoluna é rematada por um oitocentista leão de São Marcos, apetrechado
com asas que, manifestamente, não lhe pertencem, porque possuem uma cor e um
corte totalmente distintos. A tradição de fabricar leões de São Marcos com asas
roubadas a anjos continua.
No lado oriental da cidade, na jurisdição de
Castello, em frente ao portão do Arsenal (fundado em 1104), núcleo do poderio
marítimo-militar da antiga república veneziana, pode ver-se um monumental leão
de mármore, com três metros de altura, trazido como espólio do porto ateniense
de Pireu pelo doge Francesco
Moresini, o Peloponesiano, em 1687 - ano em que este explodiu propositadamente
o Pártenon na guerra contra os otomanos. A fortíssima explosão só foi possível,
porque os turcos tinham transformado parte do Pártenon num paiol. (Acrescento a
informação de que quem tiver vontade de saber como era o Pártenon antes da sua
destruição, e posterior reconstrução oitocentista, não pode escolher melhor do
que ver os desenhos feitos em 1674 pelo artista francês Jacques Carrey.) Este
leão de semblante sorumbático mostra marcas reveladoras de que já foi uma
fonte, mas esses não são os sinais singulares que o distinguem como criatura de
excelência. Em ambos os flancos, este vigilante que, visto de longe, parece
feito de sumaúma, exibe uma porção de intrigantes inscrições em feitio de dragões
linnormr: motivo decorativo que é
típico da arte escandinava. Hoje, esses petroglifos estão perigosamente perto
da invisibilidade, mas em meados do século XIX o historiador dinamarquês Carl
Christian Rafn foi capaz de lê-los com algum detalhe para os traduzir: concluiu-se
que consistem numa mensagem relacionada com uma missão militar executada em
Atenas pela tropa pessoal dos imperadores bizantinos: a Guarda Varegue (neste
caso foi, presumivelmente, destacada para extirpar uma rebelião). Criada por
Basílio II no final do século X (988), essa milícia especial foi composta, quase
em exclusivo, por mercenários escandinavos. Em 1914, o linguista sueco Erik
Brate propôs uma nova tradução e esta sugere, com elevada probabilidade, que as
inscrições foram produzidas em meados do século XI por soldados de naturalidade
sueca, invés de dinamarquesa, como se pensava.
Poderia eleger outros exemplos pitorescos e
historicamente significativos para concluir estas breves observações sobre os
vários leões de Veneza que encontrei nas minhas perambulações, mas penso que
nada seria mais adequado do que assinalar a estranheza e unicidade do leão que
está sobre uma porta da Calle Diedo, na jurisdição de Cannaregio, num dos flancos
do setecentista Palazzo Diedo. É um leão de São Marcos, mas coroado e com asas
de morcego (ou dragão) - contrastando totalmente com o semblante benfazejo da
mansa mascote marcolina. (Por coincidência, o Palazzo Diedo é a sede do
Tribunal de Vigilância de Veneza.) O arquitecto do palácio foi Andrea Tirali, responsável
pelo enigmático padrão geométrico que cobre o chão da Praça de São Marcos e cuja
litognosia só pode ser alcançada convenientemente de um ponto de vista elevado.
Esta menção à geometria e à arquitectura dá o mote
para olhar outro aspecto desta Veneza inesperada: referências maçónicas. O
maçon veneziano mais famoso para o grande público é, sem dúvida, Giacomo
Casanova, que, em 31 de Outubro, conseguiu fugir da cadeia I Piombi (Os Chumbos): conjunto de celas exíguas situadas no sótão
da labiríntica ala este do palácio do doge, sob o telhado revestido com placas
de chumbo, e reservadas para prisioneiros políticos e figuras de relevo. (Na
verdade, Casanova foi preso por maçonismo.) Do ponto de vista desta temática, Veneza
apresenta algumas sugestões interessantes para interrogarmos.
Veneza maçónica e templária
É admissível que a instituição da maçonaria em
Veneza esteja ligada à visita, em 1729, de Thomas Howard, grão-mestre da Grande
Loja de Londres, que terá, para o resultado, fundado uma inaugural loja chamada
União, maioritariamente composta por ingleses (mais ou menos à semelhança da
primeira loja maçónica portuguesa, fundada pelo proprietário inglês William
Dugood, que ficou conhecida pelo nome de Loja dos Hereges Mercadores, porque só
tinha britânicos protestantes como membros), mas aquela que é apontada como tendo
sido a primeira loja maçónica de Veneza foi a francófila La Fidelité, fundada na
jurisdição de Santa Croce e que operou até 1785 no Palazzo Contarini, ao Rio
Marin, com o objectivo de desenvolver ideais iluministas franceses.
Pela cidade, existem alguns elementos intrigantes,
em relação à mitologia maçónica. Na jurisdição de São Marco, no lado oeste da
cidade, uma placa anódina (datada de 1482) passa despercebida à maioria dos
visitantes e dos residentes: entre as duas janelas frontais de um segundo
andar, ela consiste no emblema da antiga Scuola
dei Mureri (Confraria dos Pedreiros), fundada no século XIII.
As confrarias
de trabalhos manuais (pedreiros, sapateiros, carpinteiros, tanoeiros,
calafates, etc.) eram consideradas menores, em relação às confrarias de índole
penitencial (religiosas), mas, ainda assim, os seus membros estavam socialmente
acima dos trabalhadores não-especializados, embora ocupassem, também, um lugar inferior
na hierarquia veneziana, cujos altos níveis eram preenchidos por (em ordem
descendente) magistrados (doge, conselho dos dez, conselho maior, senado), pela
nobreza e a alta burguesia e pelos burocratas.
Na jurisdição de San Polo (mais perto do centro da
cidade), pode ver-se na parede de um edifício anexo à Igreja de Sant’Aponal
(Calle del Campaniel), novamente ao nível do segundo andar, uma placa em
baixo-relevo (datada de 1652) que revela ao observador atento os quatro
mártires padroeiros dos ofícios de pedreiro, canteiro e escultor: os chamados
Quatro Mártires Coroados. É uma imagem que assinala a Scuola dei Tagliapietra (Confraria dos Talhadores de Pedra) que se
mudou para esse local em 1515. O hagiológio não é consensual quanto ao número e
às identidades dos Quatro Mártires Coroados, nem no que concerne às
circunstâncias em que foram cruciados, mas, em simplificação, exponho a versão
mais consentânea com o tema destas linhas, que se resume ao relato de como
quatro escultores romanos, convertidos ao cristianismo, se recusaram a fazer
uma estátua daquilo que consideraram ser um falso deus e foram martirizados por
culpa disso pelo imperador Diocleciano. Nebulosa, a lenda dos Quatro Mártires
Coroados dá o nome a uma das instituições que mais tem contribuído para
iluminar a história maçónica de um ponto de vista factual: a Quatuor Coronati
Lodge nº2076, uma loja de pesquisa, fundada em Londres no ano de 1886, que
edita a importante publicação anual Ars
Quatuor Coronatorum.
Apesar de todos os indícios de ligações entre a
maçonaria operativa (guildas de pedreiros e canteiros) e a especulativa
(obediências maçónicas contemporâneas), as origens do Ofício ainda não foram
apuradas; em rigor, no que diz respeito às origens da maçonaria como hoje é
entendida, não se pode recuar mais do que o último quartel do século XVII.
Nesse sentido, muita simbologia considerada maçónica tem de ser contextualizada
no tempo e interpretada de acordo com a cronologia. Um bom exemplo é a Igreja
de la Maddalena, no Campo della Maddalena, na jurisdição de Cannaregio.
Manifestamente, transmite a ideia de ser um templo maçónico, com a sua
estrutura cilíndrica e um monumental Olho da Providência sobre a porta
principal, mas sabe-se que o símbolo do olho dentro do triângulo é cristão e
antecede em muitos séculos a sua adopção pela maçonaria (assim como a estrutura
cilíndrica do templo). Neste caso, a igreja é ou não de inspiração maçónica? O
contexto histórico inclina-nos para uma aclaração: este templo foi construído
entre 1763 e 1790, logo é plausível que seja de inspiração maçónica e que o
símbolo do Olho da Providência sobre a porta para ela remeta. Outros indícios
que fortalecem esta suspeita são os seguintes: no interior, encontra-se o
túmulo do seu arquitecto, Tommaso Temanza, decorado com o símbolo do compasso e
do esquadro; e sob o grande Olho da Providência pode ler-se uma inscrição que
diz «a própria sabedoria construiu esta
casa» - mote demasiado secular para uma igreja tradicional, mas harmonizado
com o espírito maçónico continental do período iluminista.
O túmulo de uma personalidade associada ao círculo
social frequentado por Temanza apresenta uma configuração igualmente ambígua,
mas, somados todos os elementos constituintes, de fortíssima inspiração
maçónica. Encontra-se no interior da Basilica dei Frari, no Campo dei Frari, na
jurisdição de San Polo, e consiste no mausoléu do escultor Antonio Canova: uma
colossal pirâmide que em conjunção com o busto de Canova, amparado por duas
imagens angelicais, compõe o símbolo do Olho da Providência – aqui, iluminado
de modo admirável por duas janelas que se lhe sobrepõem. No entanto, o modelo
que serviu de inspiração a esta composição foi desenhado por Canova para ser o
túmulo do pintor Ticiano (situado à sua frente na mesma igreja), tendo sido adaptado
posteriormente pelos seus discípulos para ser seu mausoléu (embora apenas o
coração e a mão direita se encontrem no interior, porque Canova está sepultado
no magnífico templo que projectou para a vila de Possagno, onde nasceu – a
sessenta quilómetros de distância de Veneza).
No cemitério dos Prazeres, em
Lisboa, pode visitar-se o mausoléu dos Palmela – o maior jazigo privado da
Europa. Uma construção piramidal, da autoria de Giuseppe Cinátti, que conserva
no seu interior uma das melhores obras de Canova: o cenotáfio de Pedro de
Holstein, primeiro duque de Palmela, sepultado na Igreja de Santo António dos
Portugueses, em Roma.
Outro exemplo de iconografia ambígua é o símbolo da
farmácia Alla Colonna e Mezza (A
Coluna e Meia), no Campo San Polo, que apresenta duas colunas: uma inteira e
uma quebrada. Em maçonaria, um dos significados que o símbolo da coluna
quebrada encerra é o de que o trabalho nunca fica completo, mas, em última
análise, a adopção maçónica deste símbolo data das primeiras décadas do século
XIX, sendo que já era usado, entre outras conjunturas, para assinalar a morte –
é, assim, um símbolo muito comum em cemitérios (em maçonaria também pode ter
este significado). As colunas maçónicas são várias, mas as mais conhecidas são
as salomónicas que se erguem à entrada dos templos maçónicos: Bo’Az (à esquerda
segundo o Rito Escocês Antigo e Aceite e à direita segundo o Rito Francês) e
Iakin (à direita segundo o Rito Escocês Antigo e Aceite e à esquerda segundo o
Rito Francês). Contudo, o símbolo desta antiga farmácia veneziana tem outra origem,
de carácter muito diferente.
Aparentemente, a farmácia abriu em 1576 com o nome Alle Due Colonne (As Duas Colunas), mas
na jurisdição de Cannaregio já existia uma farmácia com esse nome e, dez anos
depois, aquela foi obrigada, finalmente, a mudar de nome: para o efeito, apenas
cinzelou fora metade de uma das colunas do seu símbolo, transformando-se na
farmácia A Coluna e Meia. Quanto às duas colunas da primeira farmácia, que
visitaremos em outro capítulo destas fábulas venezianas, serão, certamente, as
duas colunas da Piazzetta de São
Marcos.
Para terminar a primeira parte deste passeio por
Veneza vamos voltar atrás, até ao Campo de Sant’Aponal. A partir daí, entre-se
na Calle del Perdon até que, logo à direita, desponte o Sottoportego della
Madonna (Pórtico da Virgem). A palavra sottoportego,
relacionada com a nossa palavra sótão
(que já significou cave), deriva do
nome em latim subtulu que tem o significado
de debaixo de. Ora, um sottoportego é, pois, um pórtico que
fica por baixo – neste caso, por baixo das casas. Neste sítio, encontram-se
duas placas de madeira que compõem uma peça intrigante: uma imagem do Papa
Alexandre III acompanhada por uma descrição de como este dormiu ali, ao
relento, em Julho de 1177, quando viajou até Veneza para fechar o tratado de
paz com Frederico Barba Ruiva, imperador do Sacro Império Romano-Germânico (na
basílica de São Marcos, um losango de pórfiro assinala o local em que Frederico
se terá ajoelhado diante do Papa). A decisão de dormir na rua naquela noite, protegido
pela guarda pessoal, foi motivada pela ideia de que poderia ser assassinado na
sua residência oficial; nesse feitio, para desorientar supostos sicários, fez o
leito sob o Sottoportego della Madonna, sítio onde ninguém se lembraria de procurá-lo.
Esta história não passa de uma lenda, mas, independentemente
disso, tem atraído um culto heterodoxo.
A tradição celebra que a guarda pessoal do Papa era constituída
por cavaleiros templários – a ligação próxima de Alexandre III aos templários
tem sido muito debatida, até com o seu reconhecimento de D. Afonso Henriques
como rei de Portugal (através da bula Manifestis
Probatum de 1179) como sinal dessa proximidade, pois, em algumas leituras
da nossa história, D. Afonso Henriques e a ordem templária terão sido aliados muitíssimo
próximos (mais do que isso, a fundação de Portugal teria sido um empreendimento
templário). Seja como for, o que é factual é que o Sottoportego della Madonna
conserva um santuário singular: nele, sob uma imagem da Virgem, pode ver-se uma
imagem de Alexandre III a dormir, vigiado por um cavaleiro templário, e, mais
abaixo, incrustada em baixo-relevo, está uma cruz de tipo templário. No tecto
do pórtico encontram-se pregadas inúmeras placas de madeira com inscrições entalhadas
em latim, além de outras gravadas naquilo que se afigura como sendo sistemas de
alfabeto maçónico. Vale a pena lembrar o discurso de Andrew Ramsay, de 1736,
que deu origem à ideia de que a maçonaria procede da ordem do templo – pese
Ramsay ter falado, sim, na Ordem dos Cavaleiros Hospitalários (ou Ordem de
Malta).
Na verdade, a cruz que está no santuário também faz lembrar uma cruz de
malta.
(Fotos: Gisela Monteiro.)