quarta-feira, 28 de maio de 2014

«No Teclado do Meu Computador»: um poema



No Teclado do Meu Computador
(Para Edgar Allan Poe.)
  
 
Em noite de cerebrações, preleccionava a vida ignorada de Camões –
sustendo dois pesados volumes com habilidade de prestidigitador –
quando, reticente, suspendi a minha leitura à vista de uma figura:
uma bizarra borratadura que achei no teclado do meu computador.
“Uma mancha’, murmurei. “Meramente uma mancha de suor,
no teclado do meu computador”.

Oh!, mas já era, então, o mês frio de Dezembro – e, bem lembro,
não me rebolou de nenhum membro uma única pinga de suor.
Baralhado, observei com atenção e após longa verificação
encontrei uma explicação – uma explicação maior –
para aquela rara e repentina mancha que, sem cor,
me apareceu no teclado do computador.

Na oportunidade em que a resposta à inteligência foi proposta,
por determinação de minha laboriosa e pródiga indução,
convenci-me: “Lemuriana travessura!, esta gnómica pisadura:
é uma digitígrada assinatura, feita com felina diabrura,
no teclado do meu computador!”

“Foi o gato!”, eu disse. “Tratante traquinas! – que me arruínas,
o documento que ficou aberto – aberto no meu computador.”
O texto está corrompido, cheiinho de frases sem sentido,
porque o meu gato, entretido, se passeou como um lorde
no teclado do meu computador – e crashou-me o Word.