No Teclado do Meu Computador
(Para
Edgar Allan Poe.)
Em noite de cerebrações, preleccionava a vida ignorada
de Camões –
sustendo dois pesados volumes com habilidade de prestidigitador
–
quando, reticente, suspendi a minha leitura à vista
de uma figura:
uma bizarra borratadura que achei no teclado do meu computador.
“Uma mancha’, murmurei. “Meramente uma mancha de suor,
no teclado do meu computador”.
Oh!, mas já era, então, o mês frio de Dezembro – e, bem
lembro,
não me rebolou de nenhum membro uma única pinga de
suor.
Baralhado, observei com atenção e após longa
verificação
encontrei uma explicação – uma explicação maior –
para aquela rara e repentina mancha que, sem cor,
me apareceu no teclado do computador.
Na oportunidade em que a resposta à inteligência foi
proposta,
por determinação de minha laboriosa e pródiga
indução,
convenci-me: “Lemuriana travessura!, esta gnómica pisadura:
é uma digitígrada assinatura, feita com felina
diabrura,
no teclado do meu computador!”
“Foi o gato!”, eu disse. “Tratante traquinas! – que me
arruínas,
o documento que ficou aberto – aberto no meu computador.”
O texto está corrompido, cheiinho de frases sem
sentido,
porque o meu gato, entretido, se passeou como um
lorde
no teclado do meu computador
– e crashou-me o Word.