sexta-feira, 2 de maio de 2014

A verdadeira história dos banqueiros sem cabeça


Com os contemporâneos escândalos financeiros, relacionados com os chamados derivados e os swaps, em mente, vale muitíssimo a pena ler, em paralelo, duas obras interessantíssimas e esclarecedoras: um pequeno ensaio do historiador Charles Dunbar sobre como a banca medieval de Veneza começou a vender ouro que não tinha, entre outras cavilações, e um relato contido no livro Power and Profit: The Merchant in Medieval Europe, de Peter Spufford, no qual nos é descrito que na região da Catalunha foi criado um sistema de segurança pioneiro para proteger o dinheiro dos depositantes face ao capitalismo de casino* praticado pela banca de Barcelona: simplesmente, as autoridades prendiam os banqueiros criminosos, os bens destes eram vendidos para indemnizar as famílias e, finalmente, os culpados eram decapitados à frente do banco para servir de exemplo aos candidatos a chicaneiros (o texto cita o caso de um desses filibusteiros da finança, chamado Francesco Castello, que foi decapitado em 1360, antes de ter tido oportunidade de fugir da cidade).

Recorde-se que, hoje, indivíduos como o economista Myron Scholes, co-criador da fórmula "mágica" Black-Scholes, usada pela banca internacional para calcular os preços de opções sobre acções que não pagam dividendos (vulgo, derivados) e um dos principais instrumentos da crise financeira de 2007-2008, são recompensados com o Prémio Nobel da Economia. Vale a pena reflectir sobre a sabedoria dos nossos antepassados.

(*Aqui não estou a ser chistoso para enfatizar: utilizo a designação cirúrgica criada pela insider Susan Strange, economista e historiadora de economia, com a qual intitulou um dos seus livros mais imprescindíveis sobre crimes financeiros internacionais.
O quadro que ilustra este artigo é da autoria do tenebrista francês Valentin de Boulogne.)