terça-feira, 24 de abril de 2018

David Soares na Maratona de Leitura FNAC Colombo 2018


A minha leitura de ontem, na loja FNAC do Centro Comercial Colombo, na Maratona de Leitura com a qual se celebrou o Dia Mundial do Livro. Li dois excertos do meu romance Batalha.
Fazem falta mais momentos de celebração da leitura.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Leitura na FNAC Colombo


No próximo dia 23 (segunda-feira), às 16H50 em ponto, irei estar no fórum da loja FNAC do Centro Comercial Colombo, em Lisboa, para participar com uma leitura na Maratona de Leitura com que se assinalará o Dia Mundial do Livro. Cada autor convidado lerá durante dez minutos. Divulguem e apareçam.



quinta-feira, 12 de abril de 2018

Montaigne: poderia ter sido um "Cristo" para o Estoicismo?



Montaigne foi um individuador, disso não duvido; fresco que venho de mais uma releitura dos seus ensaios, aos quais, brioso, retorno sempre que exequível. Foi, também, um católico paradoxal – mas não no sentido translatício que, hoje, se poderia empregar para designar um católico liberal (ou “não-praticante”). Com efeito, o rigorismo de Montaigne aproxima-o, in limine, de determinadas atitudes evangélicas; como, entre outras, a insistência na pureza de pensamento no acto da oração, tropo que critica evocando um dos contos de Margarida de Navarra sobre o cinismo de Francisco I, que, nessa narrativa, corta caminho pelo interior de um mosteiro em direcção à casa da amante, não se coibindo de rezar virado para o altar a cada ida e vinda (no Heptamerão, publicado postumamente em 1558*). Todavia, em oposição aos pregadores protestantes, Montaigne desconfiava das iniciativas de traduzir-se os textos sagrados para vernáculo; estratégia de divulgação que considerava revogadora da subtil mensagem mistérica – até mesmo iniciática – do corpus crístico.

A esta altura, introduzo uma perspectiva singular que a recente releitura de Montaigne me proporcionou: a de que ele é uma espécie de Cristo do estoicismo. Na verdade, Montaigne é várias vezes seduzido pela ideia que defende uma familiaridade intrínseca entre o cristianismo primitivo e a filosofia estóica; todavia, o autor, de maneira um pouco desorientadora, talvez, em virtude da sua reiterada austeridade, protege a inconstância** intelectual da criatura humana – se o estoicismo defende que o homem sábio é aquele que foi capaz de alcançar o estádio de desejar sempre a mesma coisa e rejeitar sempre a mesma coisa***, Montaigne aconselha a não esperar outra coisa do ser humano, senão a volubilidade. No fundo, é o assumir da improbabilidade do ideal estoicista, provavelmente apenas conseguido pelos mais irredutíveis ascetas – ou pelos santos, o que é quase traduzir no mesmo. Assim, sobre este assunto, sintetizo o credo de Montaigne na seguinte fórmula: o estoicismo foi criado para o homem, não foi o homem a ser criado para o estoicismo.

Não duvido que se Montaigne tivesse, em concreto, enveredado pela sistemática escrita de filosofia teria operado uma mudança profunda nessa corrente filosófica – tão profunda quanto as sismogenias que convulsionaram o universo teológico do seu tempo.    

* Penguin Books, 1986, dia III, conto 25, pp. 288-289.
** Na França quinhentista, a palavra “inconstante” relacionava-se, com maior adequação, com a noção de “diversidade” e não tanto com a de “instabilidade”. Porém, pode perfeitamente aceitar-se que Montaigne se alcandora às duas.  
*** Segundo Séneca em Cartas a Lucílio (Fundação Calouste Gulbenkian, 2014, carta XX, 5, p. 71).

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Centenário da batalha de La Lys: história pessoal

Hoje assinala-se o centenário da batalha de La Lys, na qual o Corpo Expedicionário Português, posicionado na Flandres francesa, sofreu com uma pesadíssima ofensiva militar alemã. As vidas de dois bisavós meus relacionam-se directamente com esta data: um, que se alistou voluntariamente no CEP (com a idade de dezasseis anos), combateu na batalha de La Lys e, já em Portugal, foi condecorado com a Cruz de Guerra; o outro, também foi mobilizado, mas acabou por servir em Portugal como maqueiro nos serviços de saúde do exército - no entanto, faleceu com quarenta e sete anos de idade num dia 9 de Abril. Conheci o primeiro bisavô de quem falo, que teve uma vida longa, mas não conheci o segundo; contudo, para assinalar a efeméride, deixo um poema que ele escreveu, em que interroga sobre se aquela guerra era justa ou não.


quarta-feira, 4 de abril de 2018

A morte é um órgão em nós contido


Como a espelta está para o trigo, está o virtual para o orgânico: morre-se de morte natural, diz a merologia — mas haverá outra morte que não seja natural? Orfeica? Essa ubiquitária trave-mestra da vida, somente sondável por quem dela se aproxima; prásina que anuncia a corrupção da carne. Ela é o tanque para o qual a alma é despejada — e ambas são animaculares, infinitesimais. Fulminígera, a sepultura arenga-nos como a candeia às traças: luz tão espessa e rescendente como xarope — e igualmente peganhosa. Nela nos funestamos, apaixonados pelo fedor solitário da nossa dissolução, identidade odorifumante que é ainda mais nossa que o coração: gosta-se do cheiro da própria morte; um cheiro que não faz impressão (de tão particular). Tão íntimo. É o cheiro de um órgão secreto e secretício que contemos sem detectação: a Finitude.