Pelas imagens que a comunicação social nos vai mostrando pode
constatar-se que a pulcritude de Veneza possui fulgurância suficiente
para impedir que a água que a alcatifa neste instante não a repasse pelo
sentimento trágico que, infelizmente, acompanha este género de
infortúnios infligidos pelos elementos.
Há quatro anos, quando
estive em Veneza, fotografei este precioso testemunho litografado numa
hierática coluna disposta no Sotoportego del Traghetto, situado no
distrito de Cannaregio: de contornos
dilatados pela erosão, os petrícolas caracteres inscritos na superfície
por um veneziano chamado Vincenzo Bianchi contam-nos sobre um
extraordinário episódio, datado do Inverno de 1864, em que as águas
venezianas congelaram.
O
gelo era robusto e extenso o bastante para os venezianos irem a pé até à
ilha de San Michele - na qual fica o cemitério de Veneza; onde está
sepultado um dos meus heróis literários, o escritor inglês Frederick
Rolfe, mais conhecido pelo seu pseudónimo Barão Corvo. A inscrição diz o
seguinte [tradução minha]: «Eterna memória, do ano de 1864, do gelo
visto em Veneza, que da Fondamenta Nove* a São Cristóvão** iam as
pessoas em procissão, como numa avenida. Vincenzo Bianchi, em 1864.»
*Novo Paredão, uma reconstrução do século XVIII do antigo passeio marítimo quinhentista, destruído por uma tempestade.
**A ilha de San Michele consiste na junção artificial de duas ilhas: a antiga ilha de San Michele (onde foi construída no último quartel do século XV a primeira igreja veneziana de tipo renascentista) e a de San Cristoforo della Pace (na qual foi construído o cemitério, já no século XIX).
*Novo Paredão, uma reconstrução do século XVIII do antigo passeio marítimo quinhentista, destruído por uma tempestade.
**A ilha de San Michele consiste na junção artificial de duas ilhas: a antiga ilha de San Michele (onde foi construída no último quartel do século XV a primeira igreja veneziana de tipo renascentista) e a de San Cristoforo della Pace (na qual foi construído o cemitério, já no século XIX).