Plasmado num fundo preto, como se tivesse sido picotado de uma folha de
papel-de-alumínio, o coração é um púlpito que emite uma monomaníaca
prece e ela soa tal como espuma borbulhando no fundo dos ouvidos; como o
marulho mussitado por anciãos somente letrados pela metade — ecos de um
eco.
A sua semelhança com as actiniárias formas riscadas a giz no asfalto após um acidente mortal não é uma coincidência: o coração é o lugar de todas as tragédias, o derradeiro ponto final de todas as histórias. Nem todos os seres têm cérebro, mas raros são aqueles que dispensam um coração, intuição que, na antiga mitologia menfita, assistiu a ascensão do coração a torrente cosmogónica da qual tudo é proferido à existência. Ecos de um eco. O coração é um púlpito: ele fala, nós escutamos.
A sua linguagem é simples, como a dos sonhos: quase pictórica, puntuada por existência e ausência alternadas; passos pesados de uma bípede e pesadélica fera pré-histórica. O coração é aquilo que somos, uma geometria, uma alma, uma voz. Quando se cala, nós morremos.
Os corações proferem-nos à existência.
Nada mais não somos que as suas palavras.
A sua semelhança com as actiniárias formas riscadas a giz no asfalto após um acidente mortal não é uma coincidência: o coração é o lugar de todas as tragédias, o derradeiro ponto final de todas as histórias. Nem todos os seres têm cérebro, mas raros são aqueles que dispensam um coração, intuição que, na antiga mitologia menfita, assistiu a ascensão do coração a torrente cosmogónica da qual tudo é proferido à existência. Ecos de um eco. O coração é um púlpito: ele fala, nós escutamos.
A sua linguagem é simples, como a dos sonhos: quase pictórica, puntuada por existência e ausência alternadas; passos pesados de uma bípede e pesadélica fera pré-histórica. O coração é aquilo que somos, uma geometria, uma alma, uma voz. Quando se cala, nós morremos.
Os corações proferem-nos à existência.
Nada mais não somos que as suas palavras.