"Enquanto
uma geração se preocupar em exclusivo com o seu dever, que será a maior
tarefa à qual se pode alcandorar, ela nunca se fatigará. Essa tarefa
será sempre suficiente para a vida inteira. Quando um grupo de crianças
em férias esgota por volta do meio-dia todas as brincadeiras que conhece
e elas perguntam com impaciência, 'Quem é que sabe um jogo novo?', isso
demonstrará que são mais desenvolvidas e
capazes que outras crianças da sua geração, ou de gerações anteriores,
que foram capazes de fazer durar o dia inteiro as brincadeiras que
conheciam? Ou demonstrará que ao grupo faltava aquilo a que eu chamaria a
rigorosa boa-fé no próprio acto de brincar?
A fé é o sentimento mais elevado num ser humano. Muitos em cada geração não chegarão tão longe, mas nenhuns irão para além dela. Se no nosso tempo existem ou não muitos que não a alcançam, é algo que deixo em aberto. Apenas posso referenciar a minha experiência, que é a de alguém que não faz segredo do facto que ainda tem muito para caminhar; sem, no entanto, desejar iludir-se, nem querer amesquinhar ao nível de uma futilidade ou de um delírio de criança — do tipo que se sana com urgência — aquilo que é mais elevado. (...)
'Há que ir mais longe, há que ir mais longe.' Já tem pergaminhos esta força maior de persistir."
A fé é o sentimento mais elevado num ser humano. Muitos em cada geração não chegarão tão longe, mas nenhuns irão para além dela. Se no nosso tempo existem ou não muitos que não a alcançam, é algo que deixo em aberto. Apenas posso referenciar a minha experiência, que é a de alguém que não faz segredo do facto que ainda tem muito para caminhar; sem, no entanto, desejar iludir-se, nem querer amesquinhar ao nível de uma futilidade ou de um delírio de criança — do tipo que se sana com urgência — aquilo que é mais elevado. (...)
'Há que ir mais longe, há que ir mais longe.' Já tem pergaminhos esta força maior de persistir."
(Søren Kierkgaard, Temor e Terror, 1843. Tradução minha. Imagem: Os Fazedores de Alegria, Carolus-Duran, 1870.)