(«Como a Morte se Tornou Perpétua», ilustração de Ana Maria Baptista para o capítulo «A Terra das Serpentes» do romance Lisboa Triunfante.)
O ano passado fui contactado por Ana Maria Baptista, aluna do curso de Ilustração Artística promovido pelo Departamento de Artes Visuais da Universidade de Évora e pelo
Departamento de Artes Gráficas do ISEC - Instituto Superior de Educação
e Ciências, e por ela entrevistado sobre o meu romance Lisboa Triunfante (Saída de Emergência, 2008), no âmbito da realização da sua tese de mestrado de ilustração artística sobre esse livro. Fiquei muito satisfeito pelo seu interesse em escolher uma obra minha para fazer a tese de mestrado e, evidentemente, respondi às perguntas. Entretanto, a tese, intitulada O Imaginário Gótico na obra literária Lisboa Triunfante de David Soares, foi defendida e a Ana já é mestra: parabéns, Ana, pela conclusão do teu mestrado - que o olhar companheiro da Raposa siga, protector, o teu percurso!
Graças à generosidade da Ana, que me deixou partilhar convosco as perguntas que me fez, aqui fica a entrevista para vossa leitura e apreciação.
Entrevista a David Soares
Ana Maria Baptista - Se te apresentasses a alguém como escritor, mas que não tivesse conhecimento sobre a tua obra, o que dirias?
David Soares - Diria
que escrevo romances meticulosamente pesquisados e complexos, que
versam sobre temas históricos e ocultismo, cujo universo autoral se
inclui no mundo do Fantástico, porque escrevo sobre assuntos que são
invisíveis e inacessíveis para a dita realidade que vemos todos os dias.
Mas não me encaixilho em nenhuns formatos de género pertencentes ao
Fantástico. Eu estou no Fantástico em virtude do meu universo autoral.
AMB - Qual foi a obra que mais gostaste de escrever?
DS - Todos
os livros me dão o mesmo gosto a escrever, mas, neste momento, o meu
preferido é Batalha, porque encerra com elegância as minhas premissas
autorais: uma narrativa complexa, com muitos níveis de leitura;
linguagem luxuriante e desafiante; a influência do oculto e do
hermetismo; e a busca pela transcendência. Também gosto muito de Lisboa
Triunfante, porque ainda mantenho a crença de que ao escrevê-lo
contactei mesmo com "algo" misterioso. Aliás, já várias vezes pensei em
voltar ao universo de Lisboa Triunfante, porque ainda tenho muito que
contar em relação a ele.
AMB - Qual/is o(s) livro(s) que mais gostaste de ler?
DS - O
meu livro preferido - e aquele que considero o melhor livro do mundo - é Darconville's Cat de Alexander Theroux. Que um escritor seja capaz de
ler Theroux, em especial este título, e ter coragem para continuar a
escrever é uma grande prova de coragem e de talento, porque é um romance
praticamente inultrapassável. Nos Estados Unidos, em 1981, quando foi
editado, vendeu cerca de quinze mil exemplares e foi considerado um
fracasso de vendas, embora tenha sido nomeado para o National Book
Award. É a diferença entre o mercado norte-americano e o nosso: lá, quinze
mil exemplares são um fracasso de vendas, um número residual; cá, seria
como ganhar o Euromilhões. Nesse sentido, como é possível um autor
português, que, em média, vende cerca de três mil exemplares, usar os seus números para impressionar um editor estrangeiro?
AMB - Qual o teu método preferido para começares a escrever um livro?
DS - Não
tenho método. As ideias, ou melhor, as premissas das ideias, surgem-me
já formadas na cabeça; e quando são boas o suficiente para serem
desenvolvidas, decido que, muito bem!, tenho livro. Em essência, as
ideias têm origem na ruminação e no cruzamento das minhas diversas
leituras: livros de história, de divulgação científica, filosofia,
ensaio, etc., e, depois, vou rodando-as na cabeça, adicionando-lhes
material que pode ou não ser adequado, e, em seguida, quando já tenho
uma história sólida em mente, com um enredo definido, dactilografo-a. De
maneira geral, a escrita de um romance passa por dois períodos: o da
investigação sobre o assunto e a da escrita. A da escrita é mais rápida,
porque só começo a escrever quando tenho tudo muito bem estruturado e
delineado. Não gosto de improvisar, porque, na maioria das vezes, o
improviso é sempre mau. De qualquer das formas, se decidir improvisar,
tenho uma rede de segurança muito forte que me impede de fazer asneira.
Em síntese, na fase da escrita, escrevo o dia inteiro e só paro para
comer e dormir; depois, no dia seguinte, releio o que escrevi e faço
cortes e mudo o que me parece mau. Os cortes que faço têm como objectivo
manter íntegro o tom da história: o tom da história é muito importante
para mim, porque é a alma do livro. Cada livro tem um tom diferente e
enquanto se escreve o tom tem de ser constantemente corrigido para
garantir que o livro mantém uma identidade própria. O tom do livro
relaciona-se com a voz autoral, mas é uma coisa diferente. A voz autoral
é aquilo que agarra o leitor: o leitor quer ler uma determinada voz
autoral e é por isso que gosta mais de uns autores do que outros, mas o
tom é diferente. O tom de Lisboa Triunfante é diferente do tom de Batalha, por exemplo, mas a voz autoral é a mesma, com as mesmas
preocupações, as mesmas interrogações.
AMB - Como começou a tua inspiração para a obra Lisboa Triunfante?
DS - Lisboa
Triunfante é um livro muito complexo. Tão complexo que, no início, até
pensei em dividi-lo em dois volumes, mas depois achei que isso seria um
disparate e percebi que a história podia ser contado num livro só. Em
primeiro lugar, quis contar um épico sobre Lisboa, desde as suas origens
até à contemporaneidade, e, a outro nível, quis explorar universos que
se relacionam com sistemas de crença, como a religião, a política, a
dicotomia entre os sexos masculino e feminino... Há capítulos mais
políticos do que outros, uns mais religiosos do que outros... As figuras
da Raposa e do Lagarto reflectem dois pontos de vista civilizacionais
diferentes, um mais atávico, outro mais sofisticado. É um romance no
qual a história de Lisboa serve de base para eu falar de muitas coisas
diferentes.
AMB - Pode dizer-se que Aquilino Ribeiro é um escritor de referência para a tua obra em geral?
DS - Não.
Gosto muito dos seus livros, mas não é uma referência para a minha
obra. Porém, admiro muito a sua coragem literária. Lembro-me de ouvir
falar dele pela primeira vez no ensino básico e da professora dizer na
aula que era um escritor muito difícil, "de dicionário", e que não
gostava dele; mais tarde, quando conheci a sua obra, percebi que a
professora não tinha razão. Aliás, se um livro não servir para nos
desafiar a enriquecer o vocabulário... Há quem prefira textos simples,
com palavras que já conhece, mas eu prefiro textos complicados com
vocabulário desafiante. Aliás, eu leio dicionários como quem lê
romances: começo no A e acabo no Z, por isso... Para mim, são livros apaixonantes. E
o Aquilino desafia... Quando se tem cerca de dez ou doze anos de idade,
estarmos a ler textos com palavras como "apreensor" e "esfondílio",
como A Casa Grande de Romarigães ou As Terras do Demo, isso desafia
muitíssimo. De maneira que o amor pelas palavras é uma característica em
comum que tenho com ele, mas não vejo isso como uma influência.
AMB - Porquê iniciar a narrativa no Hotel Ritz?
DS - As
personagens que aparecem no prólogo, a Paula e o Russel, pertencem a
uma classe social alta, com muito dinheiro, e achei que o bar do Hotel
Ritz seria um local credível para o encontro deles nessa parte da
narrativa. Ambos são coleccionadores de objectos que custam quantias
muito elevadas. Conheço pessoas como eles, tanto como a Paula e como o
Russel, e penso que o retrato que faço desse mundo, embora ao serviço da
narrativa, não deixa de assemelhar-se com aquilo que se passa na
realidade dos coleccionadores, dos leilões de livros... Conheço pessoas
que, sem serem milionários, como a Paula e o Russel, vão à mesma comer e
dormir a sítios muito caros e muito requintados, nem que seja uma única
tarde ou uma única noite. São o que eu chamo de coleccionadores de
momentos e, à conta deles, tenho ouvido falar de sítios estranhíssimos
que nem fazia ideia que existiam. O bar também tem, como é evidente, um
significado simbólico, mas, de maneira geral, é um local sofisticado
para um encontro de personagens sofisticadas.
AMB - Preferes a Raposa ao Lagarto ou vice-versa?
DS - A
Raposa preferiu-me. Desde que escrevi o romance, vejo raposas em
todo o lado, todos os dias, quando menos estou à espera. Se fosse
crente, diria que despertei a atenção de um arquétipo que me quer fazer
seu cronista. Neste momento, escrevo e, na secretária, tenho um pin
com uma raposa, que encontrei, por completo acaso, numa barraca de uma
feira que visitei este Verão. A Raposa está comigo: não sei se para o
bem ou para o mal, mas tive de habituar-me a isso.
AMB - O rapaz que aparece no capítulo «A Terra das Serpentes», e que é tentado pelo mensageiro do Homem Verde a vingar-se da chefe da sua tribo, tem nome?
DS - Não.
Às vezes, não gosto de dar nomes às personagens, em principal às dos
contos. Torna-as demasiado conspícuas. Existem coisas mais importantes
nos livros que os nomes das personagens.
AMB - Quanto aos contos e lendas que
introduzes em Lisboa Triunfante, por que o fizeste e onde te inspiraste
para contar essas histórias?
DS - Tudo aquilo que está em Lisboa Triunfante
está ao serviço da história, todas as alegorias, todos os níveis de
sentido. Também há espaço para algum humor: com efeito, o romance tem
imensas passagens que considero muito irónicas, como a sessão de solfejo
no capítulo «O Reino do Sol». Essa passagem é um exemplo de um episódio
que tem algum humor, mas que serve um propósito narrativo: reforça a
ideia de loucura total que atravessava aquele período da corte joanina.
Foi um período muito estranho, muito formal, muito reservado, mas, ao
mesmo tempo, um tempo absolutamente descabelado, cheio de personagens
excêntricas e episódios extravagantes. Essa mistura de formalismo e
loucura é fascinante. Daí que a inclusão de histórias paralelas tem
sempre o propósito de reforçar o tom da narrativa principal e de
oferecer níveis de leitura mais complexos: são "hiperligações". Mas
existem mais apontamentos humorísticos espalhados ao longo do romance,
como a presença de Pokémons no rol de diabos no capítulo «Pythonomorpha
Pentadactyla». É o humor vulpino, na verdade, o humor da Raposa. O humor
traquinas, de pregar a partida sem que o leitor perceba.
AMB - Consideras que o lagarto pode ser entendido como o Homem e a raposa como a Mulher, num sentido simbólico?
DS - Pode
ver-se essa questão por esse prisma, mas na minha cabeça o binómio
Raposa/Lagarto não funciona assim. A Raposa e o Lagarto são como os
degraus de uma escada: há o degrau, propriamente dito, e a face vertical
que nos conduz ao degrau seguinte. Essa face vertical chama-se espelho:
o degrau é o nome da superfície horizontal. Por isso, subir, ascender,
faz-se de verticalidade e horizontalidade, em simultâneo: estabilidade e
mudança, se lhe queremos chamar isso. O Lagarto e a Raposa são como o
espelho e o degrau, embora, por vezes, durante o livro, não seja claro
qual deles significa o quê. Na verdade, ambos têm agendas ocultas e o
progresso e estabilidade que vão criando é, de certa maneira,
instrumental a essas agendas. Às vezes é a Raposa a querer mudança, às
vezes é o Lagarto. Acho que as diferenças estão no seguinte: a Raposa é
mais parecida connosco; o Lagarto é mais parecido com o universo. A
Raposa percebe-nos melhor, tem mais simpatia por nós, gosta de brincar
connosco, de nos ludibriar. O Lagarto é uma força da natureza, como o
vento: afecta-nos, mas não age connosco. A não ser em ocasiões
especialíssimas, como as descritas e sugeridas no romance. Aliás, uma
das angústias a que a religião tenta dar conforto é a de que o universo
não nos compreende, a de que o universo não é humano e não nos liga nenhuma.
AMB - Lisboa com certeza é uma cidade com a qual tens uma grande afinidade,
visto ser a tua cidade natal. Em três palavras, como a caracterizarias?
DS - A
minha relação com Lisboa foi-se tornando numa relação muito mais
museológica do que era. Com efeito, desde há três anos, que tenho vindo a
"desapaixonar-me", entre aspas, pela cidade. Ou melhor: pela cidade em
que moro, porque a Lisboa histórica, ideal, imaginal, cada vez a amo
mais e mais. Dói-me muito ver a cidade a transformar-se em algo que me
desagrada muitíssimo e a descaracterizar-se, a perder património. Também
perdi uma pessoa que era um fortíssimo elo de ligação que me mantinha
agarrado a ela e isso concorreu para que me começasse a distanciar, de
imediato. Eu faço a minha vida de todos os dias na mesma Lisboa que tu,
mas, de facto, vivo em outra, que construo com elementos históricos, com
pedaços das minhas criações, com pedaços dos meus sonhos. Sonho quase
todas as noites com uma Lisboa histórica diferente da que existe: e
sonho com ela muitas vezes. É como se andasse pelo sonho com uma
lanterna e, a cada noite, descobrisse mais um pedaço dela. Essa é a
Lisboa que me interessa: esse é que é o meu mundo. Cada vez me sinto
mais companheiro do histórico, do sonho e do passado.
AMB - Boytac
foi um personagem bastante activo e reactivo no teu romance. Além do que
leste em Santa Maria de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, onde ou em
quem te inspiraste para a construção do personagem?
DS - A personagem
Boytac é o arquétipo do misógino. É uma espécie de São Paulo, para quem
as mulheres são a criatura mais desprezível que existe. Na minha cabeça,
o Boytac é alguém que está, constantemente, a racionalizar tudo e, pior
que isso, é alguém para quem os outros são como grãos de areia, porque,
bem vistas as coisas, não lhe chegam aos calcanhares no que diz
respeito à cultura e ao intelecto. A única pessoa capaz de se elevar à
altura dele é D. Leonor, a viúva de D. João II, e ele não é capaz de
suportar isso, não é capaz de suportar que a única pessoa no reino com
uma cabeça tão boa como a dele seja uma mulher. Mas à parte da
misoginia, a personagem Boytac tem muitas características que eu
considero grandes qualidades e, de certa forma, acho que faz muita falta
existirem pessoas como ele. Falámos em Aquilino: o Aquilino não tinha
pudor nenhum em dar uma chapada a alguém que o ofendesse - mesmo a um
amigo. Dava e, depois, a coisa esquecia-se. Hoje, sob a égide do
politicamente correcto, vivemos numa sociedade inquinada pela aparência,
pela tibiez. Fazem falta homens como o Aquilino e como a personagem Boytac:
homens autênticos, fortes no carácter e no intelecto. O Boytac é uma
relíquia como o seu mosteiro. Já não se fazem pessoas e edifícios assim.
AMB - Consideras a ilustração fantástica, mais propriamente gótica/de horror, uma boa forma de interpretar esta obra literária?
DS - Provavelmente,
será. Nunca imaginei ilustrações para os meus romances, excepto no caso
do Batalha que, quando nasceu na minha cabeça, já vinha a pedir para
ser ilustrado, à maneira das velhas fábulas. Foi uma excepcionalidade,
nesse sentido, mas penso que uma ilustração de estilo gótico, como as
dos romances do século XIX, ou até à maneira dos estilos de Arthur
Rackham ou de Rien Poortvliet, seria muito interessante. Ver a
interpretação que outro artista faz da minha obra é sempre uma honra e
uma emoção enorme.
AMB - Caso escolhesses uma banda-sonora para esta obra, qual seria?
DS - Não escolheria.
AMB - Caso escolhesses ser um personagem desta obra, qual seria?
DS - Talvez
o Boytac, porque sou muito parecido com ele, excepto no que concerne à
misoginia. Baseei a personalidade dele na minha e nos registos
históricos que descrevem as suas atitudes. Ele é, também, o enantiomorfo
do D. Nuno de Ataíde, o inquisidor-mor do capítulo anterior: ambos têm
um grande ódio de estimação; no caso do Boytac são as mulheres, no caso
do Ataíde são os judeus, mas o Boytac nunca se torna maníaco, porque
tudo nele encerra um elevadíssimo sentido do dever. É uma personagem
que, para o bem ou para o mal, é incorruptível, é totalmente obcecado
pelo seu código moral e intelectual sobre como deve ser um homem. O D.
Nuno, não. É um obcecado pelo poder, é um esbirro do poder, e, nesse
sentido, não tem espinha, não tem carácter. Para ele, o poder é um fim
em si mesmo e não uma ferramenta para chegar a algo. É isso que faz do
Boytac um homem superior: ele está-se nas tintas para o poder, porque
para ele o poder é apenas uma ferramenta para chegar à obra. A obra é
que fica para sempre.
AMB - Que conselho darias a um escritor de fantasia?
DS - Seja
de fantasia ou não, o meu conselho é sempre ler muito, porque é a única
escola de escrita que existe. Ler muito e aprender bem as regras da
gramática, chamemos-lhes isso. Um escritor tem de ser erudito. Se não
for assim, não vale a pena escrever, porque só vai escrever obras
menores. Como em qualquer arte, a personalidade criadora, a voz, vai de
dentro para fora. Quando se é mesmo artista, isso rompe, mostra-se. O
resto é polimento, é refinamento, é desenvolvimento. De facto, tem de
ser-se, já, artista. Os artistas nunca se fazem: já o são. Um indivíduo
pode matar-se a trabalhar, a aprender a ser muito bom, mas se não for,
de facto, artista, isso vai notar-se sempre, vai ser sempre uma sombra
que ofusca o que ele cria. Hoje, existe uma fronteira muito ténue entre o
autor e o público, porque é o público que compra a obra, logo o mercado
obriga a essa proximidade, mas isso é muito destrutivo porque os
indivíduos acham que a arte tem de estar ao nível deles, quando são eles
que têm de pôr-se ao nível da arte. Há poucas dezenas de anos, um tipo
entrava numa galeria e até tinha vergonha de admitir que não percebia um
fiapo de arte: hoje, pelo contrário, diz-se que a arte é má se não for
compreendida à primeira olhadela. Há uma grande tirania do público que
está a matar a arte. Não tenho nenhum hábito de citar Nietzsche, mas
ele, no Para Além do Bem e do Mal, tem um aforismo certeiro sobre
isto: «-Não gosto. - Porquê? -Porque não estou à altura. Alguma vez
alguém pensou assim?» Os artistas precisam de recuperar
inacessibilidade, ascetismo. Precisam de recuperar mistério, por que
não?