quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Livro "O Bobo e o Alquimista" distinguido pela Academia Portuguesa da História


 O meu livro O Bobo e o Alquimista: Deformidade Física e Moral na Corte de D. João III (Verbi Gratia, 2024) acaba de ser distinguido com o Prémio Fundação Calouste Gulbenkian - História Moderna e Contemporânea de Portugal, atribuído pela Academia Portuguesa da História

Um estudo de História Cultural e das Mentalidades, que se debruça sobre a complexa relação entre deformidade moral e deformidade física no contexto cortesão do século XVI português. O foco de análise são os casos de António de Gouveia, alquimista cuja deformidade moral se revelou um obstáculo epistemológico, e João de Sá Panasco, ex-escravo negro e o bobo da corte de D. João III, cuja deformidade física não o impediu de ascender a esferas restritas de influência na corte.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

"Bobos da Corte: Deformidade Física e Moral na Época Moderna" (palestra)


No dia 14 de Outubro (sábado), às 16H30, darei na Biblioteca Camões a palestra Bobos da Corte: Deformidade Física e Moral na Época Moderna.

Será uma palestra sobre a história dos bobos da corte, desde a Antiguidade até ao final da Época Moderna, na qual se observam, em especial, aspectos pelos quais estas figuras podem ser lidas como portadoras de Modernidade. Na minha investigação académica sobre o tema da deformidade, do liminal, do grotesco, tenho concebido que, ligando a deformidade física e a deformidade moral, o Bobo/Louco é uma personagem-chave para compreender a complexidade da mentalidade pré-Contemporânea.

A entrada é livre: divulguem e apareçam. Obrigado.


terça-feira, 25 de julho de 2023

Marginália e Imaginário virtual no site da revista LOUD!


 Lembro aos meus leitores que no site da revista LOUD! poderão acompanhar a minha rubrica mensal Marginália e Imaginário, na qual escrevo sobre aspectos, acontecimentos e personagens pouco conhecidos, além de episódios insólitos e extraordinários da historiografia. 

Este mês, por exemplo, apresento-vos os Gatos Instruídos, mas no arquivo poderão ler ou reler muitos outros artigos e histórias.

Sobre a Amizade

O reconhecimento do indivíduo como sendo um amigo resulta de alcançar-se uma especial transcendência sem a qual não existe integração do outro. A minha perspectiva, que é a de alguém que estuda o Humano e o Não-Humano em todas as acepções, é a de que essa integração só acontece quando o indivíduo perde a forma e se abstractiza em pura ideia. 

Com efeito, percepcionamos a nossa própria forma de maneira parcelar, abstracta ou até invisível — um mapa mais completo é sempre uma forma imanente do espelho, da fotografia, feitiços que evidenciam a realidade de o Eu ser transparente, amorfo, interior, secreto, arisco a representações. Olha-se para o espelho, olha-se para a fotografia e pensa-se que o Eu não está nessas imagens: de algum modo, no acto da estampagem, ele fugiu, metamorfoseou-se, disfarçou-se ou converteu-se em algo com que não nos identificamos verdadeiramente. O fantasma da Mente, essa chispa frágil a que chamamos o Eu abandonou essas intersticiais representações, se é que, alguma vez, tenha nelas residido. Vemos e sentimos através do Eu, da nossa identidade, da nossa história pessoal, mas não o vemos: é uma película imaterial, incicatrizável.

Assim, essa espectral e coloidal entidade, sem forma, talvez simbólica, mas certamente metafísica, só entende, só comunica, através da linguagem da diafanidade — gramática de celofane, segundo a qual o Humano e o Não-Humano são rebatidos num único e unidimensional plano de existência. Aí, o Ele não tem forma: tal como o Eu, ele transforma-se em pura ideia; e, como tal, é integrado na nossa identidade como um Amigo, como indissolúvel parte de nós.

Inseparável do Sujeito, do Eu, o Ele é observado na sua dimensão simbólica, metafísica, fantástica. Em particular, o Não-Humano, porque exige uma maior faculdade de abstractização, uma maior sensibilidade — um maior talento. A maior alegria de integrar o Não-Humano na nossa transparência, na nossa invisível plasticidade, esse domínio de fantasia e sonhos — onde se voa e se vence a Morte, ambas capacidades não-humanas — é vê-lo a aproximar-se não como Não-Humano, mas como Amigo.

Sem forma, sem qualquer substancial, palpável, catalogável subdivisão, mas tão incorpóreo e simbólico quanto o Eu, do qual é agora inseparável. 

A maior emoção, a maior felicidade é a de não ver um animal, não ver quatro patas, não ver um cão ou um gato ou uma ave, não ver formas, não ver pêlo nem penas, mas ver um Amigo.


Velhos são os trapos

 

A melhor conclusão para a saga de Indiana Jones já foi realizada em 1989 e intitula-se Indiana Jones and the Last Crusade: em cerca de duas horas de duração, esse filme dá-nos a ilusão de que se esteve uma tarde inteira na sala de cinema — e eu, por acaso, vi-o no cinema (nunca esquecerei a bicha enorme para os bilhetes, que dava a volta ao quarteirão — coisas que hoje parecem pertencer à Antiguidade escavada pela personagem). Os três primeiros filmes de Indiana Jones têm em comum uma sequenciação fora-de-série e um sentido grandioso do espectáculo que, hoje, também parecem ser relíquias de tempos idos: até Indiana Jones and the Temple of Doom (o menos bem conseguido dos três, acho eu) abre com uma espantosa e perfeitíssima sequência musical que transporta de imediato para uma dimensão superior de espectacularidade. Outra característica que infelizmente também parece perdida algures num armazém cheio de caixotes é a intensidade (e violência) das cenas de acção e as pequenas bizarrias que nelas iam aparecendo e que somadas agigantavam os filmes para um patamar mítico. São apenas algumas características a que a saga nos habituou e que não estão presentes em Indiana Jones and the Dial of Destiny.

Este quinto e último capítulo da saga de Indiana Jones apresenta-se, felizmente, como uma nova aventura a sério e não como um patusco filme de homenagem à la Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, mas o reiterado receio de fazer um filme tão politicamente incorrecto (e intenso) quanto os primeiros transforma o que poderia ser um desfecho grandioso para esta querida personagem num filme que, infelizmente, não se distancia muito de outras fitas actuais de acção e aventura, conservando, ainda assim, um encantador charme nostálgico que só peca por não ser ininterrupto. Que saudades do ritmo vertiginoso e imprevisível dos três primeiros filmes e da fotografia gritty, mas luxuriante de Douglas Slocombe.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Ninharias Essenciais, Ep. 5: "O Chiado e a Chiada"

Quinto episódio da minha série Ninharias Essenciais: O Chiado e a Chiada consiste numa peregrinação psicogeográfica pelas actuais ruas do Chiado, sobrepondo-lhes a topografia quinhentista para decifrar a provável origem do topónimo Chiado. Com o auxílio da etimologia e da história cultural e das mentalidades, propõe-se uma nova hipótese verosímil para a origem do nome Chiado — uma origem de acordo com a documentação da época e com os ritmos dinâmicos da popular vida quotidiana. O Chiado e a Chiada é uma pequena viagem a uma grande Lisboa que, em certo feitio, ainda existe, sob as opacas camadas de contemporaneidade.

 

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Ninharias Essencias, Ep. 4: "Notícias Falsas, Censura e o Homem das Botas"

 Quarto episódio de Ninharias Essenciais: em Notícias Falsas, Censura e o Homem das Botas observa-se como a concepção e a designação da ideia de ‘notícia falsa’ já era utilizada em Lisboa nos inícios do século XIX e se relacionava intimamente com os princípios fundamentais da censura prévia; partindo de um episódio insólito ocorrido em Lisboa no ano de 1811, as ‘notícias falsas’ e a censura prévia apertarão laços e ganharão os seus campeões — tanto à ‘Direita’ como à ‘Esquerda’.

Um milagre do século XIII, as invasões francesas, o microcosmo dos folhetinistas, as cortes constituintes e a lei da liberdade de expressão entreligam-se tendo aqui como emulsionante um enigmático Homem das Botas.
 
 

Sobre as dalmáticas azuis de São Vicente nos ditos Painéis de São Vicente de Fora

É fascinante a recente descoberta (notificada no jornal Público do passado dia 25 de Maio) de que nos painéis ditos de São Vicente de Fora, de autoria atribuída ao artista Nuno Gonçalves, o protagonista em duplicado (vulgarmente identificado como sendo esse santo) já envergou numa fase preliminar paramentos pintados de azul.
 
Na peça em que se dá prova do novo facto é lembrado que no Livro de Horas de D. Duarte existe uma iluminura na qual São Vicente também veste uma dalmática azul — mas no mesmo livro outras figuras, superiores e inferiores ao estatuto do mártir de Saragoça, vestem igualmente de azul; desde a Virgem (como seria de esperar), como alguns camponeses e até os sicários do rei Herodes. Criado no primeiro quartel do século XV (entre 1400 e 1430) na cidade de Bruges, este códice expressará ainda a trecentista cromofilia flamenga que mutaria de gosto no decurso da centúria seguinte, em que o azul foi, progressivamente, sendo substituído pelo preto como a cor aristocrática, por excelência — moda que se espalhou e perdurou por quase toda a Europa durante boa parte da Época Moderna. Aliás, já no século XVI, a rainha Isabel I de Inglaterra proibiu o uso da cor azul. No setentrional cosmos protestante, o preto é, superlativamente, a cor moral. (Na verdade, a afirmativa emergência do preto como a cor mais digna do espectro pode ser traçada desde a promulgação de certas leis trecentistas e quatrocentistas contra o luxo: as leis sumptuárias que tinham como objectivo regular o vestuário e os acessórios.)
 
De facto, o azul foi uma cor impopular — e até observada com desconfiança — ao longo de grande parte do período denominado de Idade Média: arreigadas aos costumes greco-romanos, as cada vez mais consolidadas elites reais e respectivas nobrezas privilegiavam a tríade clássica de branco, vermelho e preto, reservando, por vezes, algum destaque para o verde; nas representações artísticas, inclusive, o azul é inexistente — até como cor do céu. Foi, certamente, por via da indústria do pastel dos tintureiros, muitíssimo utilizado nas manufacturas de vitrais e de objectos de vidro que o azul, em principal nas primeiras décadas do século XII, foi associado nas igrejas à Luz Divina, como uma manifestação visual da imaterialidade. Para a nova associação contribuiu o pensamento gótico do abade Suger; com efeito, é a partir do tempo de Suger, do dealbar do Gótico, a Arte da Luz, que o azul logra sobrematizar o próprio manto mariano (que até à data era, muitas vezes, preto) e até transmutar-se em cerúleo avatar de França: a cor da corte e da nação. Não obstante, nesse período a popularidade do azul não se traduziu na sua celebridade — e permaneceu fora da paleta de outros reinos. Quanto a paramentos, o azul não se inscreveu como cor litúrgica no catolicismo, ou seja no Rito Romano; sem embargo de se encontrarem vestes cerimoniais azuis, por exemplo, na igreja de Inglaterra do século XIV, ainda em fase de difusão insular do Gótico.
 
O azul foi, em suma, uma cor de tradição francesa e flamenga — e neste caso até finais de Trezentos. Para a Flandres, e não só, o século XV já era o do preto. Assim, as dalmáticas azuis de São Vicente nos painéis consistem num “mistério” estimulante e que, certamente, vem sugerir interpretações que até agora têm estado em suspenso: uma delas, que eu não defendo (faltam elementos), mas que mantenho sem nenhuns problemas em aberto, é a de que os Painéis de São Vicente não são portugueses e podem, inclusive, representar uma camarilha de figurantes cuja identidade de grupo nos escapa à decifração. Lembre-se que Francisco d’Ollanda — que viu os Painéis na Sé de Lisboa e escreveu sobre eles — descreve esta obra como sendo insigne em «tempo mui bárbaro», porque na altura da sua concepção (século XV) os artistas portugueses só queriam imitar o estilo flamengo e desconsideravam o italiano: ora, na sua óptica, os ditos Painéis de São Vicente da Sé iam em sinal contrário, aproximando-se da arte italiana e não da flamenga — como exsuda do políptico aqui sob observação, que nos mostra toda uma gramática visual e encenação flandrinas.
 
(Abaixo segue a imagem de um excerto das notas finais do meu romance O Evangelho do Enforcado (Saída de Emergência, 2010), nas quais reflecti, precisamente, sobre a problemática da identificação das personagens dos Painéis e a proveniência destes.
Este texto foi publicado originalmente no passado dia 28 de Maio na minha página de Facebook.)

 

 

Ninharias Essencias, Ep. 3: "Origem de Tragédia"

 Terceiro episódio da minha série Ninharias Essenciais, intitulado Origem de Tragédia: o Largo de São Carlos é o palco onde a origem da palavra 'tragédia' é desvendada; do século XV ao século XX, etimologia e história fundem-se numa só identidade, pela voz de horticultores, criadores de cabras e Fernando Pessoa.

sábado, 24 de outubro de 2020

Pequenas Histórias, ep. 5: "Os Vampiros de Alfama: Carne Incorrupta e Imortalidade (freguesias de Santa Maria Maior e São Vicente)"

Quinto episódio da minha série Pequenas Histórias: em "Os Vampiros de Alfama: Carne Incorrupta e Imortalidade (freguesias de Santa Maria Maior e São Vicente)" partir-se-á da leitura do romance Os Vampiros de Alfama, de Pierre Kast (1975), para examinar o tema da demanda pela imortalidade e a questão do transhumanismo. Ao mesmo tempo, observar-se-á de que modo a 'mania vampírica' que percorreu toda a Europa ocidental na passagem de Seiscentos para Setecentos poderá relacionar-se com o advento da iluminação pública, concomitante nesta conjuntura. Vampiros, sangue, universalismo, transhumanismo e a conquista da noite pela luz artificial são os temas principais desta viagem pela História das Ideias, tendo Lisboa como pano de fundo.

 

domingo, 27 de setembro de 2020

Centros, n.º3

A arduidade de muitas práticas contemplativas que diversas religiões exigem aos crentes constitui uma prova mais do que suficiente de que o Homem não foi feito para o silêncio: assente na oralidade e na escrita, a linguagem é uma forma de vida na aventura humana, reproduzindo-se de indivíduo para indivíduo, coagindo artífices da palavra a transmutá-la e resignificá-la. Mais do que ser uma interrupção da unidade da inconsútil manta discursiva, a assonia do silêncio é um espaço de ausência do humano; logo, o lugar do sagrado, na perspectiva de que o sagrado é, sempre, a antítese do humano, uma formidável força antropofóbica, porque nas crenças que admitem o contacto do homem com o númen, aquele tem de transcender a carne, qual crisálida ou casca de suas primícias, de molde a ascender da plataforma profana que é este mundo.

A percepção de que o silêncio era sagrado — e intangível — expressa-se nos pânteos paleolíticos, preenchidos por divindades teriomórficas, amálgamas de homem e animal, em desiguais graus de hibridez. Esculpido há quarenta mil anos num dente de mamute, o Homem-Leão de Hohlenstein-Stadel representa essa característica da religiosidade primeva: descoberto numa caverna dos alpes suábios, na Baviera, uma semana antes do início da Segunda Grande Guerra, este ídolo de uma Europa tão antiga que poder-se-ia apelidar de mítica, ergue-se em trinta centímetros de altura — pouco mais alto que um gnomo de jardim (outra criação das alpinas latitudes germânicas) —, enfrentando com confiança felina o olhar dos observadores. É um macho sem juba, segundo o figurino do extinto leão das cavernas europeu, espécie cujos últimos descendentes ainda foram caçados pelos antigos gregos e romanos. Este é o Leão de Nemeia, fabulosa fera chacinada por Herácles no seu primeiro trabalho: o último filho de Équidna, primordial mãe de todos os monstros, irmão mudo da Esfinge. O silêncio e a ferocidade, apanágios dos deuses, anaglifados por lâmina de pedra; arrancados, por esse lítico fórcipe, do útero da matéria-prima animal até a cintilante e imaterial sefira do sonho.

O seu homuncular corpo não se encontra anediado pela erosão milenar, mas pelos ininterruptos afagos dos crentes: isto é adoração no estado mais puro — carícia, beijo, prometimentos contra a miséria dos elementos. Contra a fome e contra o desespero, o Homem-Leão foi venerado na sua despojada gruta: santuário ‘ad fontes’ de todos os templos seguintes. A sua silhueta ainda transmite uma firmeza simultaneamente autoritária e compassiva, de quem, em segredo, gostaria que as presas humanas se tornassem seus filhos. Os deuses não falam, porque ensinam pelo exemplo.

Não obstante, nós falamos — com efeito, não somos capazes de ficar em silêncio. Mussitamos suaves orações, rogamos de voz entrecortada pela desesperança, quando não amordaçada pela própria morte em leito hospitalar cercado de crípticos e cruéis instrumentos. Procuramos a luz fosca da memória; tão fosca quanto uma candeia acesa numa caverna — e igualmente frágil. As palhas da memória precisam do fogo da imaginação.

Esta é a verdade da condição humana: comunicar com o numinoso e ominoso silêncio dos deuses, transcender os contornos do Antropos em direcção ao zoomorfismo silencioso e sagrado das bestas. Homem-Leão, Homem-Pássaro, Homem-Peixe: os elementos não aprisionam o humano transfigurado. E no entanto — uma semana depois de o Homem-Leão ter sido descoberto, deflagrou a barbárie: o mesmo território que deu à luz o monacal Homem-Leão também vomitou o Holocausto. O Homem é um construtor: ergue catedrais e câmaras de gás; fabrica deuses e crucifica-os. Sozinho no universo, só ele inventa o Céu e o Inferno.

A vantagem de idolatrar o silêncio, como bem sabiam os aurignacenses, é que, ao contrários das vociferantes ideologias e credos contemporâneos, não nos é dito como nos devemos comportar: isso — tal como a opção entre cultivar ou não a imaginação — é uma escolha de cada um.

Centros, n.º2

Do rol de confusões da contemporaneidade, uma que me desgosta especialmente é o erro de achar-se que Ciência é o mesmo que Tecnologia e que esta é o mesmo que Fé na tecnologia — a fé de que o desenvolvimento geométrico de comodidades tecnológicas remirá o ser humano das armadilhagens do seu atávico irracionalismo.

É uma percepção positivista, brotada da fonte das Luzes, esta de que moléstias sociais, como o crime, a loucura e o vício, podem, em última análise, ser extirpadas através da aplicação rigorosa de leis racionais, executadas por governos científicos ou tecnológicos. Os antigos Gnósticos acreditavam que o conhecimento libertaria o Homem — não se tratava de sabedoria, como hoje a entendemos, mas a árdua descoberta de que se estaria encasulado numa ilusão colectiva criada por um demiurgo diabólico. Não obstante, o topos de que o conhecimento liberta, e a metafísica aprisiona, permeia toda a Época Contemporânea e a fé resoluta — obstinada — de que o conhecimento racional, alcançável pela ciência e pela tecnologia, resolverá todos os problemas (mesmo quando se comprova que esse conhecimento nada tem de conhecimento e nada tem de científico). A figura electromecânica do robô, ícone futurista por excelência, é uma preclara representação do Homem Contemporâneo: programado para executar tarefas de modo eficaz — logo, de modo racional —, o nosso sósia cibernético ignora completamente tudo aquilo que identifica um ser humano enquanto tal, começando pela irracionalidade, o erro, o transcendente.

Em oposição ao robô, o Homem é uma criatura transcendental: uma mente divina reclusa num corpo animal, falível e deslustrada, capaz de construir uma catedral e, em seguida, escavar uma vala comum. Talvez a melhor forma de garantir que a catedral seja sempre mais alta que a profundidade da vala comum seja admitir a natureza irracional do Humano. Muitos mais cadáveres foram enterrados pelo Sono da Razão que por todos os Sonos anteriores: por trás de cada genocídio ou utopia totalitária novecentistas encontra-se sempre um plano de utilitarismo científico, servido pelos últimos gritos tecnológicos. Do mesmo modo que amputar um órgão não o torna mais eficiente, é uma loucura esperar que processos de desumanização construam seres humanos mais perfeitos. A ser alguma vez forjado, o Homem Novo com que sonham todas as Utopias não será mais do que um robô.

A arte, o sonho, o amor — até a Ciência —, tudo aquilo que identifica um ser humano como humano não é produzido na prancheta de modo canhestro a régua e esquadro: procede da nossa pré-história mental, de um tempo em que muito antes de se pensar em racionalidades, economias e tecnologias, artistas paleolíticos deixavam as mãos impressas nas paredes das grutas — essas mãos dizem-nos “sou eu”, “estou vivo”, “isto foi o que sonhei”. É umbilical, esta poderosa e telúrica energia somente minerada no lugar mais occipital do nosso pensamento, escondida sob compactas camadas de escória mediática e ideológica: penetre-se essa espessa parede, derrube-se as rochas do suposto racionalismo e, ei-las!, as nossas próprias mãos impressas no estrato mais primitivo. Sempre emergentes em tempos de crise da fantasia.

Com efeito, só a fantasia poderá salvar o Homem dos infortúnios da racionalidade, da miséria da acção funcional, da pressão entrópica do utilitarismo. Este é, à maneira gnóstica, um conhecimento perdido que urge encontrar. Se, como dizia Dostoiévsky, “o homem é um animal que se habitua a tudo”, habituemo-nos a fantasiar, a contemplar as mãos na parede da caverna.

Esta foto é de uma fonte esculpida no início do século XVI, no reinado de D. Manuel: representa o rei e a irmã, D. Leonor, na forma de uma serpente bicéfala que jorrava água por ambas as bocas (sabe-se que são o rei e a irmã, porque estão identificados com as suas divisas pessoais, a esfera armilar e o camaroeiro). Não me recordo de outro caso de representação análoga a esta no espaço europeu e penso que este artefacto singular diz muito sobre como uma sociedade e uma civilização podem aprender a fantasiar. A aceitar que a natureza humana é mitológica e metafísica, em oposição a ortogonal ou positivista. A aceitar que a natureza humana é dupla — sagrada e profana; transcendental e reptante como uma serpente. E, como esta, que é da água, anfíbia.

Uma Lisboa feliz produziu uma fonte feérica, simultaneamente rébus e rebis; puro divertimento contra o desespero e o Apocalipse. Porém, quais são os símbolos do nosso tempo? Onde estão as hodiernas mitologias que nos dão sentido? Não existem: vivemos num mundo artificial e desalmado. Não imaginamos nada, porque imaginar é um atavismo irracional.

Mas não tem de ser assim para sempre.

Centros, n.º1

 

Só aqui o Sol se torna luminífero; apenas aqui o tempo se olha, perdulário, ao enorme espelho marinho. Perscrutáveis por cima, gelo e erva padronizam-se em auricerúlea heráldica, esférica e feérica — sonial partícula, fossilizada ao som de tafonómico poslúdio celeste, solene e imperturbável minueto.


Pois haverá outro centro cósmico que não seja aqui, onde as aves transformam em ninhos os excrementos das debulhas, onde a felpa das feras é tão branda ao tacto quanto as suas presas rasgam a carne? Em que outra esfera se poderá ouvir vagidos ensurdecedores de gigantes oceânicos, opacos num crepúsculo plutónico feito de breu abissal e órgãos bioluminescentes? Onde mais se aprende que o sangue sabe a ferrugem — e onde mais haverá sangue e ferrugem?

Quão confortável é o polinomial niilismo do menosprezo da nossa excepcionalidade. Talvez só os loucos e as crianças acreditem que é aqui o centro universal. Olhando-nos do espaço, isso é uma loucura e isso é uma criancice — mas olhando-nos daqui, submersos em recendência e cacofonia, em nascimento e em putrefacção, picados por insectos e aguilhoados pela imaginação, aqui onde as árvores quase existem desde sempre e onde cada vida humana dura menos tempo que a cobreagem de uma folha, aqui a álgebra e a física não nos convencem da descentralidade: pois o centro do universo é aqui.

Nós somos todos centro. O nosso sofrimento intrínseco não resulta de queda ou de expulsão, mas de ferida feita por compasso.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Ninharias Essencias - nova série de David Soares

Na série Ninharias Essenciais, disponível no meu canal de YouTube, apresentar-se-ão curiosidades, enigmas e excentricidades da história - ninharias, mas essenciais.

No primeiro episódio, Inimigo do Género Humano, explana-se o significado e as mutações dessa peculiar designação histórica, partindo de um painel de azulejos do século XVIII, com Santo Antão atormentado por demónios, pertencente ao acervo artístico do Hotel Convento de São Paulo da Serra d'Ossa.

O segundo episódio, Burocracia e Finança, é uma observação histórico-etimológica sobre as origens das palavras ‘burocracia’ e ‘finanças’ e dos contextos cronológicos em que foram inventadas.

(Informo que o quinto episódio da série Pequenas Histórias será publicado em breve.) 

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Pequenas Histórias, ep. 4: "A Peste e o Tempo (freg. da Penha de França)"


Quarto episódio de Pequenas Histórias: em A Peste e o Tempo (freguesia da Penha de França) continua a discorrer-se sobre a história das ideias com uma freguesia de Lisboa como pano de fundo, elegendo como temas o Tempo e a Peste: o fluxo e a descontinuidade.

Da Praga de Atenas de Tucídides à teoria da direcção do tempo de Hans Reichenbach, da vacina de D. João II à morfogénese de René Thom, do Lagarto da Penha de França à ciência imunológica de Élie Metchnikoff, examinar-se-ão os fenómenos da passagem do tempo e dos efeitos de pandemias e epidemias em mudanças irreversíveis do decurso da história.

Uma viagem pela história das mentalidades e das ideias com uma freguesia de Lisboa como pano de fundo.

domingo, 14 de junho de 2020

Pequenas Histórias - ep. 3: "Bestiário da Alma: o Mistério da Palingénese (freg. Santa Maria Maior)"

Terceiro episódio de Pequenas Histórias: em Bestiário da Alma: o Mistério da Palingénese (freg. Santa Maria Maior), continua a descortinar-se a história das ideias na Época Moderna, desta vez partindo do Terreiro do Paço/Praça do Comércio e Praça D. Pedro IV/Rossio, numa observação sobre o fenómeno do Exótico, reintroduzido na Europa a partir dos Descobrimentos portugueses e da chegada de animais exóticos como o elefante e o rinoceronte à Lisboa Manuelina.

De caracteres pertencentes à gramática do poder real a ícones na linguagem publicitária contemporânea, estes animais exóticos - e outros animais comuns, como o cavalo, reinventados como exóticos - ligam o Homem ao Tempo. Da Roma Antiga à Índia do século XVI, de D. Manuel I a Grandella e Schopenhauer, do rinoceronte ao cavalo, esta é uma viagem pela história das mentalidades e das ideias com uma freguesia de Lisboa como pano de fundo.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Pequenas Histórias. Ep. 2: "O Pânico de Panurgo (freguesias da Ajuda e de Belém)"

Disponível no meu canal de YouTube, o segundo episódio de Pequenas Histórias.

Em "O Pânico de Panurgo (freguesias da Ajuda e de Belém)" observa-se uma contínua correlação entre o desenvolvimento na filosofia de uma moderna mentalidade céptica e o fenómeno do adultério, tantas vezes empregue como metáfora nessas discussões, assim como o recurso a um ideário de humor popular empregue como arsenal crítico ou arma política. Partindo de uma leitura de autores como Gil Vicente, Cervantes e, sobretudo, Rabelais e Molière, olhar-se-á para o episódio do Processo dos Távoras e análogos adultérios aristocráticos como rampa de revoluções no imaginário popular. Uma viagem pela História das Ideias com duas freguesias de Lisboa como pano de fundo.

sábado, 18 de abril de 2020

Pequenas Histórias - ep. 1: "Filhos de Anúbis (freguesia da Misericórdia)"

Este é o primeiro episódio de Pequenas Histórias: série de vídeos sobre a história de Lisboa, que criei para o meu canal de YouTube, contada por freguesias e partindo de personagens e factos ignorados ou desconhecidos, que enfatiza a importância das pequenas histórias no entrecho dos grandes acontecimentos.

Em Filhos de Anúbis (freguesia da Misericórdia), observa-se uma ligação tropológica entre a guerra contra os cães vadios de Lisboa, iniciada a 12 de Abril de 1808 pelo intendente da polícia Pierre Lagarde, e o fixamento dos ideais do Liberalismo. Duas cosmovisões em confronto, num período transitório entre um mundo que acabava e outro que, progressivamente, se instaurava.

domingo, 12 de abril de 2020

Leitura de "O Corvo" de Edgar Allan Poe (trad. Fernando Pessoa)

Leitura minha do poema O Corvo de Edgar Allan Poe (1845), numa tradução de Fernando Pessoa — para todas as gralhas e todos os corvos que flutuem de fugida entre os sopros de uma poesia.


segunda-feira, 6 de abril de 2020

Conta-me como será: ou, Algumas previsões para um mundo pós-Covid-19

 
Sem querer insistir na solidez desta meia-dúzia de previsões (redigidas com base na informação disponível até este instante), afiguram-se-me alguns novos pontos de fuga para o travejamento político pós-Covid-19. Eles são:

1) É plausível uma acelerada ou mesmo abrupta extinção do Liberalismo, nas suas várias facções, concomitante ao reforço de políticas novas que fortaleçam a intervenção dos Estados em áreas que, por tradição, eram do desempenho privado.

2) Políticas que tendam a robustecer a influência dos Estados serão, conjectura-se, muito populares; mas, credivelmente, esse incremento não passará pelo recrudescimento de medidas de Esquerda, porque esta encontra-se comprometida com um projecto Europeu em assinalável moribundez e de baixíssimos níveis de popularidade. Prevê-se, pelo contrário, que essas novas políticas de estribamento dos Estados sejam, efectivamente, de Centro: ideias ditas de Centro serão consideradas as que mais angariam bom-senso e achadas as mais eficazes.

3) O modelo actual de globalização, já flebotomizado até à palidez pela crise de 2008, sofrerá um intenso golpe, porque ficaram ainda mais expostas as fragilidades de um comércio global assente em demasiados intermediários e por sistemas produtivos e económicos demasiado descentralizados. Assim, será provável que os novos Estados fortalecidos adoptem políticas para uma maior auto-suficiência, investindo em áreas de produção já abandonadas e enriquecendo os seus tecidos industriais — em particular Estados que nas últimas décadas se orientaram quase em exclusivo para uma economia de serviços.

4) A reinstituição das antigas lógicas de Estados-Nações não será, pois, acompanhada de um ressurgimento de ideologias nacionalistas novecentistas, pois a auto-suficiência tem limites: situação que poderá acelerar o declínio da União Europeia e nesse seguimento recriar um mundo parcelado em novas-velhas ‘commonwealths’, digamos assim, de interesses comuns, ligadas por laços históricos, geográficos, económicos e culturais (p. ex.: Reino Unido + Estados Unidos; um grupo formado pelos países da Europa do Norte e outro grupo formado pelos países da Europa do Sul).

5) Ainda é cedo para especular como ficarão as preocupações climáticas/ambientalistas que efervesceram de variadas maneiras a opinião pública nos anos mais recentes, mas é provável que o novo ‘milieu’ milenarista pós-Covid-19 sirva de breviário e altar a religiões globais mais adaptáveis à nova moldura política e económica esboçada nas linhas anteriores.

6) Mais do que subsidiar a existência ao espaço digital, a actual experiência de isolamento social demonstrará aos indivíduos que a Internet é apenas uma ferramenta e não a tecnologia utópica que se considerava ser há poucos meses, sendo de prever que esta passe por um período de desencantamento utilitário similar aos de outras tecnologias, como a electricidade — um exemplo: observada nos anos 20 do século passado pelo regime soviético como a tecnologia que faria a revolução socialista global, a electricidade passou pelo seu período de desencanto tecnológico. O mesmo ocorre/ocorrerá com a Internet: ninguém poderá viver sem ela (como com a electricidade), mas perderá as vestes de utopia com que foi enroupada desde a sua concepção.

O heroísmo das pessoas fracas


The Outsider, adaptação de um livro recente de Stephen King, é inscrito pela ingenuidade simultaneamente encantatória e exasperante com que, demasiadas vezes, os autores americanos tentam enxertar as suas criações em mitologias de origem europeia para fazê-las crescer com o viço mítico que alimenta o reservatório folclórico do Velho Mundo; neste caso, a criatura que perambula pelo Bible Belt, metamorfoseando-se em diversas pessoas com quem contacta de molde a predar os fracos sob essas identidades, é descrita como sendo o monstro que, através dos tempos, foi arregimentando relatos e lendas sobre o Papão — ou El Cuco, em expressão espanhola, como é tratado em The Outsider. Com efeito, quando a personagem Holly Gibney, detective contratada para descobrir pistas sobre este estranho caso, navega a páginas tantas num motor de busca de Internet por entre imagens amadoras de avistamentos de El Cuco e as pinturas negras de Goya percebe-se que existe, efectivamente, um distanciamento enorme entre a sensibilidade americana e a europeia, pois se para a primeira essa cena evocará um lastro mitológico longínquo e até desconhecido, para os olhos europeus a mesma cena tem o efeito de um duche de água fria. Quão melhor seria se os criadores de The Outsider tivessem rebuçado o monstro sob o anonimato, numa mitologia endémica, natural desta produção, sem necessidade de alistá-lo no bestiário.

No folclore e no hagiológio de Portugal, a Cuca ou Coca é, muitas vezes, uma criatura saurópside — como o Dragão que é derrotado nas festividades do feriado do Corpo de Deus, em Monção. Nos livros de O Sítio do Pica-Pau Amarelo, o escritor brasileiro Monteiro Lobato imaginou a sua Cuca como sendo uma jacaré bruxa, prima do Saci-Pererê.

Não obstante a sonoridade patusca, o nome precipita do étimo grego ‘kako”, que significa “mau” ou “maléfico”, e do qual se desprendeu a acepção excrementícia de “caca” e de “cocó”. É, por conseguinte, um nome que tem estado sempre associado ao mal, à sujidade, ao nauseabundo. Aliás, palavras como “cisma”, “consciência” e “ciência” são todas cognatas do étimo em latim “scire”, aparentado de “kako” e do étimo indo-europeu “shkei”, que também significa “excremento”.

Alheias a estas ligações etimológicas, as personagens de
The Outsider caçam El Cuco numa velhíssima gruta de infame historial e conseguem eliminá-lo com relativa facilidade, pois, para sua sorte, a criatura encontrava-se num momento de fraca forma — embora uma coda algo mercenária, martelada já a ficha técnica do último episódio se desenrolava, sugira que poderá ser produzida mais uma temporada.

Não li o livro de King, mas, pelo que conheço do seu estilo,
The Outsider assemelha-se mais a um híbrido eficaz das primeiras temporadas de The X-Files (a sobriedade antártida do tom, da cinematografia e da banda-sonora), os romances de Clive Barker (a caracterização à inglesa da psique perturbada de personagens bizarras) e a matriz narrativa de King (crónica dos medos contemporâneos da sociedade americana, um ambiente cercado pela cultura popular e os ‘underdogs’ contra as forças do Mal).

Na verdade,
The Outsider atenua algumas das características de King que enunciei acima, como as referências à cultura popular da época em que a história se situa, o que favorece o todo, tornando-o mais intemporal. No entanto, no que concerne à crónica pesadelar da actualidade, alia-se no mesmo inimigo o medo da pedofilia e o do roubo da identidade: à semelhança de It, também aqui a criatura transmuta de forma e é uma predadora de crianças — porque «são mais doces», lembrando os fãs de King que o autor tem desenvolvido a ideia de que os seus monstros provêm, em regra, do mesmo local: um abismo inter-dimensional, situado entre mundos, ninho de monstruosidades malévolas, entre o demoníaco e o alienígena. É a influência de Lovecraft, provavelmente, mas se os seus monstros espaciais se caracterizavam pela indiferença face ao humano, os de King estão totalmente interessados em nós. Na verdade, parecem viciados no humano.

É por esta via que eu considero que os monstros de King se comportam como demónios medievais e os seus heróis são representantes de uma espécie de piedade popular de pendor protestante, segundo a qual os “escolhidos” vencerão. Muitas vezes, os heróis de King derrotam o Mal por meios verdadeiramente perfunctórios, o que só pode justificar-se pelo facto de que o actor vale mais que a acção; ou seja: o Mal é derrotado, porque foi enfrentado por determinada personagem e não por outra. No confronto entre o Bem e o Mal é importante escolher o campeão do Bem. No fundo, a Fé vale mais que as Obras, numa lógica determinista puramente protestante — mesmo quando o cunho determinista é atenuado, a tónica assinala-se pela fé nas Escrituras e não na conduta. Assim, os heróis de King (e não só) acabam por ser os indivíduos mais imprevisíveis, os anti-sociais, os marginais, os imperfeitos. Uma lógica que, com efeito, já vinha anunciada na primeira epístola de Paulo aos Coríntios: «Deus escolheu propositadamente as coisas que o mundo considera loucas para envergonhar aqueles que pensam ser sábios e escolheu as pessoas fracas para envergonhar as que têm poder» (Coríntios, 1, 27).

segunda-feira, 30 de março de 2020

Três livros da Europa do Sul: coordenadas culturais e históricas

Observações e leituras minhas de três livros do cânone literário da Europa do Sul: Comédia, de Dante Alighieri (Itália), Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes (Espanha), e Os Lusíadas de Luís de Camóes (Portugal).

Interxtualidades, similitudes e coordenadas geomentais entre estes títulos e as vidas de seus autores desvendam uma mensagem positiva para clarear os dias de incerteza que decorrem neste período em específico — em que, mais uma vez, a arrogância e ignorância setentrionais são projectadas arbitrariamente sobre o espaço meridional.

Uma lembrança da importância cultural e intelectual das obras artísticas da Europa do Sul para o desenvolvimento e consolidação do pensamento europeu contemporâneo.